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MAJU COTRIM: o que eu vi e ouvi no Jalapão e a preocupante “onda de terror” que tira a paz dos moradores

De Mateiros – Maju Cotrim

Pegamos a estrada rumo a Mateiros, sede do Parque estadual do Jalapão. A viagem foi para aproveitarmos que estávamos na região Sudeste e o acesso por Dianópolis é tido como um dos melhores. O assunto da internet é um só: a concessão. Com várias interpretações e contextos o assunto vem tomando proporções diferentes e queríamos saber como a comunidade jalapoeira local estava vendo isso. A Gazeta gosta disso.

No posto do “Portal do Jalapão” antes da divisa com a Bahia converso com o frentista. Pergunto se ele está sabendo o que está acontecendo com o Jalapão e ele dispara: “estou sabendo que venderam lá para os chineses”.

Mais pra frente encontro um sujeito curioso de bicicleta e paro para saber onde ele está indo. É o gaúcho Pelica pé de Vela, 41 anos que viaja o Brasil já passou por 20 estados. Ele está indo de bicicleta para Mateiros e também comentou: “Tô sabendo que parece que venderam a área do parque, acho errado porque o Brasil tem um potencial grande”, disse.

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Já me preocupei com a percepção das pessoas. Após quase quatro horas até Mateiros e muitos caminhões quebrados pelo caminho chegamos na cidade. O clima visivelmente entre as pessoas é de medo.

Andei por comércios, pela praça, conversei com líderes e moradores e todos mostraram suas apreensões na semana em que foi aprovado e sancionado o início do processo de concessão do parque. Maioria também nao quer falar abertamente sobre o assunto por medo.

Dentre os turistas também muita falta de conhecimento sobre o assunto ainda. Uma onda desesperadora de medo paira sobre Mateiros sobre este assunto. Aliás Uma preocupante onda. Conversei com pessoas que chegaram a chorar como no quilombo Mumbuca, por exemplo.

“Tem gente que não está nem dormindo”, disse a presidente da Associação comunitária dos artesãos da cidade, Laudecy Ribeiro à Gazeta. As principais dúvidas da comunidade são: porque não houve consulta á comunidade antes? Como os pequenos serão impactados? Os quilombolas serão impactados? Quem vai vencer a licitação são “estrangeiros”? Vão vender o Jalapão?

Expliquei para muitos que o processo está começando e que haverá consultas públicas e audiências mas o clima é de desconfiança também por uma questão histórica na região incluindo a forma que aconteceu a criação do próprio parque. Há um impasse também de “descredibilidade política” também histórico que há na região com relação a alguns aspectos. De fato, nos últimos anos o Jalapão tem tido um olhar diferenciado com relação a varias questões mas a população sempre fica com o pé atrás.

Fomos até a cidade ouvir as principais dúvidas da população e dos setores para na condição de jornalismo profissional levar respostas e ajudar a esclarecer. Todo radicalismo neste momento não é benéfico em nenhum sentido. A onda de terror e medo que assola os moradores precisa ser combatida com informação clara, direta, objetiva, explicada na linguagem deles.

Todos os atores envolvidos direta e indiretamente no processo precisam se juntar numa ampla ação institucional de esclarecimento. O medo aflige pioneiros, empresários, pais e mais de família. O jalapoeiro luta muito para conseguir sobreviver e não merece essa aflição. A aflição da ansiedade, do medo do futuro.

“A forma que foi feita nos deixou preocupados”, disse outra moradora que assim como outros afirmaram que só estão neste clima porque acharam que a aprovação foi muito rápida e sem consulta lós já no inicio. Havia uma audiência pública marcada para dia primeiro de setembro que foi cancelada por enquanto porem no dia haverá ampla mobilização de lideres da região.

O Jalapão vive dias de angústia em meio a um mar também de desinformação. As comunidades querem ter acesso a tudo, acompanhar, serem ouvidos e entenderem. “Tudo será explicado e todos vão entender que a concessão é benéfica para todos”, disse o secretário executivo de parcerias e investimentos, Robson Menezes á Gazeta. Nas próximas etapas acontecerão a consulta e audiências publicas e desta vez não pode faltar estratégia para incluir e envolver a população.

Secretário-executivo do Conselho de Parcerias e Investimentos, Robson Menezes

Todas as dúvidas apontadas pela população iremos encaminhar para os setores do governo e também ao BNDES e iremos responder. O jornalismo Gazeta se mostra neste momento um importante elo para ajudar a comunidade a entender passo a passo e se sentir ouvida por isso a Gazeta, mesmo sem apoio institucional para isso, não abre mão de vir ouvir as pessoas. Ouvimos donos de fervedouros, de hotéis, moradores pioneiros e traremos tudo isso a partir de hoje nesta serie especial.

O Jalapão quer sim fortalecer e ampliar o turismo mas num processo transparente, tranquilo e esclarecedor para todos que desbravaram o local e que investem lá. É preciso desmistificar, ouvir, discutir e garantir o protagonismo de direito da região para que com certeza dias melhores e investimentos cheguem com total apoio e envolvimento da comunidade.

 

Neste processo não deve caber estratégias de medo ou de manipulações de nenhum tipo. A população quer se sentir segura sobre este passo que a região começa a dar. A Gazeta vai acompanhar todo o processo entrevistando diariamente os envolvidos, os órgãos, questionando, apurando e acima de tudo: contribuindo sempre para esclarecer!

Nossos agradecimentos aos empreendedores da região que apoiaram nossa ida e a todos que abriram suas casas ou pararam no meio da rua para nos confiarem suas angustias. Obrigada a todos os quilombos e lideres que nos receberam também.

O Jalapão e maior que qualquer medo!

Acompanhe a partir de hoje todo nosso material produzido na região.

Editora-Chefe: Maju Cotrim
Audiovisual: Felipe Menezes
Produção: Hemily Souza
Apoio: Kalebe Vieira

O Especial de matérias tem cunho totalmente jornalístico e foi feito 100% de forma independente pela equipe Gazeta mesmo diante de todas as dificuldades e falta de apoio institucional ao nosso jornalismo

Agradecemos o apoio dos empreendedores do Jalapão que contribuíram com nosso trabalho!

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