Nos próximos 200 anos, a elevação média do nível dos oceanos será de 70 centímetros a 1,2 metro, caso seja cumprida a meta do Acordo de Paris que limita o aquecimento global a um máximo de 2°C até o final do século.
Mas a estimativa só vale caso as médias globais de temperatura cheguem ao seu pico até 2020 e comecem a cair em seguida. Após 2020, cada cinco anos de atraso para atingir o pico de aquecimento correspondem a 20 centímetros a mais no nível dos mares.
As conclusões são de um estudo liderado por cientistas do Instituto Postdam para Pesquisas sobre o Impacto Climático (Alemanha) e publicado nesta terça-feira, 20, na revista “Nature Communications”.
No artigo, os pesquisadores também concluíram que não existe mais a possibilidade de uma estabilização do nível dos oceanos, ainda que as metas do Acordo de Paris sejam rapidamente atingidas.
“As mudanças climáticas provocadas pelo homem já deixaram pré-programada uma certa quantidade de elevação do nível dos oceanos para os próximos século e, com isso, pode parecer para alguns que nossas ações atuais não fazem grande diferença. Mas nosso estudo mostra como essa percepção é errada”, disse o autor principal do estudo, Matthias Mengel, do Instituto Postdam.
“A cada cinco anos de atraso para chegar ao pico das emissões, entre 2020 e 2035, poderemos ter um aumento adicional de 20 centímetros do nível dos oceanos – o que é a mesma medida da elevação registrada nas costas de todo o mundo desde o início da era pré-industrial”, explicou Mengel.
De acordo com Mengel, a elevação global do nível dos oceanos é causada pelo aquecimento e consequente expansão da água do mar, assim como pelo derretimento dos glaciares, mantos de gelo e das vastas plataformas de gelo da Groenlândia e da Antártica.
Esses fatores respondem de diferentes maneiras e em diferentes escalas de tempo ao clima mais quente, variando de séculos a milênios.
Para analisar a elevação do nível dos oceanos sob o Acordo de Paris e as consequências dos atrasos na mitigação do problema, os cientistas utilizaram uma combinação de modelos climáticos e marítimos.
Os modelos então foram alimentados com um conjunto de cenários de reduções de emissões alinhados com as metas do Acordo de Paris, simulando distintas taxas de redução, com picos de emissão em diversos anos.
O modelo utilizado pelos cientistas representa individualmente os fatores que contribuem para o aumento do nível do mar, refletindo assim suas diferentes respostas a um mundo em aquecimento.
Os autores incorporaram ao estudo novos dados científicos que levam em conta a extrema sensibilidade do manto de gelo da Antártica ao aquecimento da atmosfera.
“De fato, a incerteza sobre a futura elevação do nível dos oceanos é atualmente dominada pela resposta da Antártica. Com o conhecimento atual sobre a instabilidade do manto de gelo, uma grande perda de gelo na Antártica parece provável mesmo com um modesto cenário de aquecimento alinhado com o Acordo de Paris”, afirmou Mengel.
“Até mesmo uma elevação do nível do mar de três metros até 2.300 não pode ser descartada completamente, já que ainda não temos sobre como o manto de gelo da Antártica responderá ao aquecimento global”, disse o cientista.
“O Acordo de Paris estabelece que se chegue ao pico de emissões o mais rápido possível. Isso pode soar como uma frase vazia para alguns, mas nossos resultados mostram que haverá consequências quantificáveis caso as ações sofram atrasos.
Assim, mesmo no alcance do Acordo de Paris, uma rápida mitigação climática é crucial para limitar riscos adicionais. Para milhões de pessoas que vivem em áreas costeiras, cada centímetro pode fazer uma enorme diferença”, disse outro dos autores da pesquisa, Carl-Friedrich Schleussner, também do Instituto Postdam.
Por Fábio de Castro, do Estadão Conteúdo