O Arcebispo de Palmas, Dom Pedro Brito Guimarães, fez uma reflexão sobre os casos de feminicídios no Tocantins, no qual ele afirma que matar mulher é matar a harmonia do mundo.
Confira a íntegra do Posicionamento do Arcebispo Metropolitano de Palmas
Neste oito de março, Dia Internacional da Mulher, peço licença e passagem a vocês, mulheres e homens, para tocar com meus dedos, em uma das chagas mais dolorosas, sangrentas e mortais: o feminicídio. Embora exista agendas positivas para comemorar este Dia, preferimos afirmar que feminicídio é a hemorragia do nosso tempo. Hemorragia remete imediatamente a sangue, a dor, a sofrimento e a morte. Fico inquieto quando ouço notícia de mais um feminicídio. Mas não basta contabilizar estatísticas. Ao lado das violências, banalizadas e institucionalizadas, dos crimes organizados, das milícias e das quadrilhas armadas, dos tráficos de pessoas e de drogas e das importunações sexuais, “o feminicídio é a praga que mais cresce na América Latina” (papa Francisco, na JMJ-2019, no Panamá). Segundo dados colhidos, nas redes socais, a taxa de feminicídio cresceu 81,8% no Tocantins. Só em Palmas cresceu 1.100% em dez anos. Trata-se, pois, de uma tragédia humana, de uma hemorragia que precisa ser estancada.
Não é esta a intenção do Criador. Ao ver Eva, pela primeira vez, Adão exclamou: “desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2,23). De fato, “não foi criada para os humanos a soberba, nem a raiva para os nascidos de mulher” (Eclo 10,22). Matar por amor, por ciúme ou por quaisquer outros motivos é não amar, é odiar. Aqui valem os velhos ditados: “quem ama não mata” e “quem mata não ama”. Amar e matar é a negação do amor. Amar não é apossar-se. “Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo” (São João da Cruz), pois, “o amor é magnânimo, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem arrogante; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7). Violência não é sinal de força e de poder e sim de fraqueza, de posse e de perda. O pior de um homem é matar uma mulher que não o quer mais como companheiro. Matar assim é matar a si mesmo. Neste caso específico, femicicídio é suicídio. Qual é o perfil do que mata quem não a quer mais como companheira? E o de um homem de baixa autoestima, de um amor só, de um pensamento único, inseguro e incapaz de recomeçar a vida com outra parceira depois que o relacionamento amoroso terminou.
Sábias, verdadeiras, belas e oportunas são as palavras do papa Francisco: “mulher não existe para lavar louças. A mulher é para trazer harmonia. Sem a mulher não há harmonia”. Matar mulher é matar a harmonia do mundo. E o que mais precisamos, neste tempo complexo, é de harmonia. Além de tudo, feminicídio é crime hediondo. Não é possível continuar matando mulher só porque ela não quer mais conviver com um determinado homem. Por tudo isto, precisamos fazer alguma coisa. Não bastam o silêncio, cruzar os braços, fechar a boca e o coração. Não vale simplesmente a consternação. Não basta contabilizar dados estatísticos sobre o feminicídio. É preciso ter coragem para mudar este estado de coisa. É preciso harmonizar e humanizar as relações entre homem e mulher. É preciso ensinar a amar e a começar um novo relacionamento amoroso. É preciso que homem e mulher se irmanem e lutem juntos para estancar esta hemorragia, fonte de muitos sofrimentos. É preciso pôr em prática a legislação, repudiar todas as formas de violência e de morte e promover a cultura do encontro e da fraterna convivência entre homem e mulher
Mulheres, contem conosco! Feliz Dia Internacional da Mulher. Um abraço e minha bênção!
Por Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo Metropolitano de Palmas.