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Movimentos cobram representatividade na pasta de políticas sociais e igualdade racial: MNU aconselha reorganização: “Ainda há tempo de corrigir erro crasso”; Enegrecer repudia

Reportagem Gazeta do Cerrado


Algumas entidades se manifestam sobre a  agora pasta Secretaria Municipal de Políticas Sociais e Igualdade Racial em Palmas. Eles fazem ponderações sobre a questão das políticas raciais e cobram representatividade. A pasta é comandada por Cleizenir e tem como superintendente o ativista Nelio Lopes. 

A Gazeta solicitou posicionamento da gestão municipal sobre o assunto.

MNU

O MNU questiona na nota a ausência de representatividade das pessoas negras no comando das decisões e no primeiro e segundo escalão desta pasta.

O movimento questiona ainda: “Ora, não são os negros capacitados para tratar das próprias demandas e por isso nos colocam brancos para falar em nossos nomes e dirigir políticas direcionadas a nós? É essa a imagem que a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, e sua equipe querem mostrar?”.

Em outro ponto o movimento diz: “Ainda há tempo de corrigir tal erro crasso e, para tal, o MNU-TO se coloca à disposição da gestão municipal, para debater, aprimorar e contribuir com a construção das políticas públicas referentes a pasta, pois apesar dos equívocos cometidos, acreditamos existir boa vontade na gestão municipal para sanar estas e outras eventuais questões referentes ao tema”, afirma. (Veja íntegra da nota abaixo na matéria).

Enegrecer também

O movimento Enegrecer também se manifestou. “O fato de incluir uma pessoa não negra à frente da secretaria de desenvolvimento social e igualdade racial gera incômodo. Com a informação da criação da secretaria voltada para a população negra, criou-se a expectativa de que ali teríamos uma pessoa do movimento negro palmense, que atua em prol dos direitos e das vidas negras”, afirma.

Ajunta Preta 

O Ajunta Preta também se manifestou e afirmou: “esperamos que a prefeita de Palmas reconsidere essa nomeação, buscando uma abordagem mais inclusiva e representativa”. (Veja íntegra da nota no final)

Somos

O Coletivo Somos também se manifestou. Segundo o coletivo, é possível repensar a estrutura para promover uma maior representatividade.

Veja a íntegra da nota do MNU:

O Movimento Negro Unificado – MNU Tocantins, entidade que atua há 45 anos na defesa dos direitos e da representatividade do povo negro no Brasil, e maior entidade de representação do povo negro no Tocantins, vem por meio desta expressar sua profunda consternação com a com as nomeações referentes a recém criada “Secretaria Municipal de Participação Social e Igualdade Racial”.

Primeiramente, expressamos nosso reconhecimento pela iniciativa da Prefeitura Municipal de Palmas em criar a Secretaria. É louvável a iniciativa da criação da pasta, que tem potencial de desempenhar um papel importante na promoção da igualdade, na garantia dos direitos sociais das pessoas negras da nossa capital e na valorização da cultura negra. Palmas sempre foi referência em política de igualdade racial no Tocantins, sendo em 2017 a primeira cidade do estado a criar o Conselho Municipal de Igualdade Racial (Compir), aderindo assim ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR). A retomada da construção de tais políticas públicas nos enche de esperança de que teremos a oportunidade de tratar de temas tão importantes e necessários.

Contudo é com pesar que observamos, mais uma vez, a ausência de representatividade das pessoas negras no comando das decisões e no primeiro e segundo escalão desta pasta. Uma das faces mais profundas do racismo é o chamado Racismo Institucional, o qual se manifesta na reprodução, por parte de órgãos de estado, governo e instituições públicas, da lógica da exclusão, discriminação, exploração e/ou agressão ao povo negro. Tendo isso em vista, o caso da Secretaria Municipal de Participação Social e “Igualdade Racial”, já nasce com a reprodução de uma das práticas mais clássicas de racismo que permeiam a nossa sociedade, ao nomear duas pessoas brancas para tratar de um tema que, com total respeito aos nomes escolhidos, não lhes compete. A necessidade da criação de uma secretaria que trate da questão racial em Palmas se dá exatamente pelo fato de o povo negro Palmense ser constantemente preterido e afastado de espaços e oportunidades que lhe garanta mais dignidade e crescimento. Ao nomear pessoas não-negras para a pasta, é como se a prefeitura dissesse a todos e todas palmenses negros, maioria absoluta da população da nossa capital, que não existe uma única pessoa negra nesta cidade que tenha capacidade técnica e política para assumir uma pasta que trata exatamente das demandas dessa população. Tendo em vista o absoluto respeito que é devido a educadora Cleyzenir Divina dos Santos, nomeada secretária da pasta, e Higor de Sousa Franco, nomeado secretário executivo da mesma, é necessário salientar que ambos não têm sequer alguma atuação ou participação em qualquer que seja o movimento, coletivo ou articulação de pessoas negras e de combate ao racismo, o que nos faz questionar ainda sobre os critérios de tal escolha.

Ora, não são os negros capacitados para tratar das próprias demandas e por isso nos colocam brancos para falar em nossos nomes e dirigir políticas direcionadas a nós? É essa a imagem que a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, e sua equipe querem mostrar? Queremos crer que não, e que tudo isso não tenha passado de uma decisão balizada pela falta de diálogo com os movimentos sociais e entidades negras e que, em tempo, será revertida.

Ainda há tempo de corrigir tal erro crasso e, para tal, o MNU-TO se coloca à disposição da gestão municipal, para debater, aprimorar e contribuir com a construção das políticas públicas referentes a pasta, pois apesar dos equívocos cometidos, acreditamos existir boa vontade na gestão municipal para sanar estas e outras eventuais questões referentes ao tema.

Neste contexto, o Movimento Negro Unificado – MNU Tocantins aconselha a reorganização da Secretaria, tendo gestores e gestoras negras como protagonistas, como um sinal de valorização e reconhecimento da importância da diversidade étnica-racial em todos os níveis de governo. E para isso, nos colocamos mais uma vez a disposição de construir um diálogo construtivo com a Prefeitura Municipal de Palmas, para a busca conjunta por soluções que promovam a verdadeira equidade racial em nossa capital.

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Veja a  íntegra da nota do Enegrecer:

*NOTA DE REPÚDIO DO ENEGRECER TOCANTINS SOBRE A NOMEÇÃO DE UMA PESSOA BRANCA PARA A SECRETARIA DE IGUALDADE RACIAL*

A nomeação de uma pessoa branca para ocupar o cargo de secretária de desenvolvimento social e igualdade racial é um exemplo flagrante de racismo estrutural e desrespeito às lutas históricas do movimento negro. Acreditamos que a escolha de uma liderança para esta área requer proximidade e dedicação afinco com o debate racial. É essencial destacar que a população negra considera crucial que as políticas voltadas para nós, povo negro, sejam conduzidas por aqueles que vivenciam diariamente a experiência do racismo. Somente através dessa vivência tão latente conseguiremos apontar com efetividade os meios para buscar a verdadeira igualdade racial.

Em um país marcado por séculos de discriminação e injustiça racial, é inadmissível que a liderança de uma instituição voltada para a promoção da igualdade seja entregue a alguém que não vivenciou as duras realidades enfrentadas pela população negra. Sabemos que uma das métricas do racismo estrutural é não garantir ao povo negro sequer o protagonismo na condução e na gestão de espaços que vão debater as nossas próprias vidas, como se não houvesse pessoa negra competente o suficiente para tal em Palmas.

O fato de incluir uma pessoa não negra à frente da secretaria de desenvolvimento social e igualdade racial gera incômodo. Com a informação da criação da secretaria voltada para a população negra, criou-se a expectativa de que ali teríamos uma pessoa do movimento negro palmense, que atua em prol dos direitos e das vidas negras.

Tal qual se espera que à frente de uma secretaria de mulheres, houvesse uma mulher na gestão.  Perguntamos: seria razoável nomear um homem para chefiar uma Secretaria de Mulheres do município? Não, pois só quem vive o marasmo de uma opressão consegue compreender a injustiça social sob esse determinado grupo de pessoas e conseguirá ser mais sensível e realista com as propostas de programas da respectiva pasta.

A luta por igualdade racial não é uma questão de caridade, mas sim de justiça. Ao negligenciar a importância da representatividade, a administração não apenas falha em cumprir seu papel, mas também perpetua a desigualdade e mina os esforços de avanço social. Não conte com o nosso silêncio diante desta situação. Estaremos em luta pela nomeação de uma pessoa negra na condução da Secretaria de Desenvolvimento Social e Igualdade Racial.

Veja íntegra da nota do Ajunta Preta:

O Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins- Ajunta Preta, organização que atua desde 2018 como frente de combate ao racismo e ao sexismo no Tocantins, vem a público manifestar preocupação e repúdio diante da nomeação de uma mulher branca para o cargo de Secretária Municipal de Políticas Sociais e Igualdade Racial de Palmas.

O ato, publicado no Diário Oficial do Município da última segunda-feira, 22, ignora a importância de designar pessoas negras para a condução de estruturas públicas que tem como missão promover a igualdade racial, considerando que representatividade é fundamental para abordar as desigualdades históricas e estruturais enfrentadas pela comunidade negra em nossa cidade.
É imperativo que as vozes das mulheres negras sejam ouvidas e respeitadas, especialmente quando se trata de decisões que impactam diretamente nossas vidas e realidades. Acreditamos que a escolha de uma liderança que compartilhe a vivência e compreenda as particularidades da população negra é crucial para garantir que as políticas adotadas sejam sensíveis às demandas específicas da nossa comunidade.
Diante disso, esperamos que a prefeita de Palmas reconsidere essa nomeação, buscando uma abordagem mais inclusiva e representativa, alinhada com os princípios da promoção da igualdade racial. Nos colocamos à disposição para a indicação de nomes de mulheres negras com trajetória política e competência para liderar a pasta. Permanecemos vigilantes na luta!
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Veja íntegra da nota do Somos: 

NOTA – COLETIVO SOMOS

O Coletivo SOMOS expressa seu posicionamento em relação à recente nomeação da educadora Cleizenir Divina dos Santos como Secretária Municipal de Políticas Sociais e Igualdade Racial.

Antes de tudo, é importante ressaltar o respeito que temos pelo currículo e trabalho da Sra. Cleizenir Divina dos Santos em outras pastas, como Educação e na Fundação Cultural de Palmas. Reconhecemos e valorizamos sua contribuição ao serviço público.

Entretanto, alinhamos nossas vozes ao pedido de reconsideração feito pelo Movimento Negro Unificado (MNU), pelo Coletivo Feminista de Mulheres Negras (Ajunta Preta), pelo Enegrecer e pela Secretaria de combate ao racismo do PT/TO. Neste momento, em que a luta pela igualdade racial ganha ainda mais relevância, inclusive com um Ministério de Estado para tratar o assunto, é fundamental buscar uma abordagem mais inclusiva e representativa nas políticas públicas voltadas para a igualdade racial.

Cientes da existência da Superintendência de Políticas e Controle Social, liderada pelo ativista Nélio Lopes, dentro da pasta das Políticas Sociais, entendemos que é possível repensar a estrutura para promover uma maior representatividade. Propomos, inclusive, a consideração da desvinculação da Igualdade Racial da referida pasta, e a criação de uma Secretaria autônoma, dedicada exclusivamente ao debate e implementação de políticas públicas de igualdade racial.

O Coletivo SOMOS, assim com outros grupos organizados e representativos, também se coloca à disposição para participar ativamente desse diálogo, contribuindo na discussão de nomes, principalmente de mulheres negras, que possam ocupar essa Secretaria.

Acreditamos que, por meio desse processo colaborativo, será possível construir uma gestão mais inclusiva, que reflita os princípios da promoção da igualdade racial.

Thamires Lima
Coletivo SOMOS

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