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Nativitana supera preconceito, fome e violência e cria negócio que agrega valor às raizes da cidade

Foto – Gazeta do Cerrado

Conteúdo Especial- Maju Cotrim

O nome dela é Anfrísia Pereira Cardoso, 46 anos, nascida e criada em Natividade. Ela conquistou o sonho de poder ajudar a promover a identidade de sua cidade através do trabalho.

Mas sua história é de muita luta. Anfrísia, junto com seus quatro funcionários recebeu a equipe da Gazeta na Ourivesaria Colonial, seu empreendimento bem ali no centro da cidade, há metros das ruínas.

“Minha infância foi dura. Meus pais tiveram 14 filhos, 7 mulheres e 7 homens, meu pai era pedreiro e minha mãe trabalhou 30 anos numa escola como faxineira”, relembra.

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Ela trabalhava para o poder público por nove anos até 2010 e conta que a partir daí resolveu mudar de vida. Foi pai e mãe do seu filho que hoje tem 26 anos, venceu a violência doméstica e se reinventou.

Ela conta que chegou a ficar sete meses sem receber quando trabalhava em cargos comissionados e resolveu buscar um novo caminho de independência: “Já passei fome e não queria mais passar por isso”, disse.

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Para começar no seu empreendedorismo ela teve incentivo de um amigo e aí então começou a aprender na ourivesaria a técnica do filigrama. Ela começou com o mestre Jesumar Borges, ourive tradicional da cidade.

“Comecei montando no fundo do quintal, comecei lá pequenininha, fiquei dois anos trabalhando em casa, eu não tinha capital, comecei no trabalho de formiguinha”, disse.

“Comecei a viajar para Dianópolis e eu muito tímida comecei a ir em algumas casas tocando a campainha e apresentar os produtos”, lembra.

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“Na terceira porta achei a família de Dona Josa e Sr Hagahús que começaram a comprar joias na minha mão e com isso foram vindo outras pessoas”. Disse

“Aí comecei juntar um dinheiro e disse : agora estou pronta para ir no centro histórico e fui, fiquei por sete anos trabalhando de forma honesta. Tratando meus clientes com muito respeito”, pontuou sobre quando conseguiu montar sua 1ª loja.

Houve uma tentativa de assalto em 2016 e isso mudou a vida dela. Ela fechou por falta de funcionário. “Fiquei sem ninguém e fui pra casa”, disse.

Ela começou a procurar outras pessoas para trabalhar mas “ninguém abriu as portas para mim”, conta. O destino mudou e ela foi procurada pelo Deuseilton Cardoso que é o ourives tradicional na cidade. “Fizemos uma parceria forte”, conta.

Em 2017 ela passava em frente ao ponto que queria adquirir perto das ruínas da igreja e um ano depois conseguiu negociar com o proprietário e comprar com muito esforço juntando dinheiro.

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Ela evoluiu, estudou designer de interiores e fez o próprio estilo da sua loja atual reinaugurada em janeiro deste ano. “No começo não achava mão de obra para fazer a reforma do ponto”, conta.

O local tem conceito de alto padrão em todos os sentidos mostrando que ela apostou forte em ter um negócio que possa de fato chamar atenção dos turistas que passam pela cidade e que são seus principais clientes. Ela recebe pessoas de vários países que se encantam com suas peças. Além do famoso “coração de Natividade” ela faz peças exclusivas e gera emprego para várias pessoas com isso.

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Inspirar

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“Hoje sou inspiração e muitas vem aqui conversar comigo, cheguei aqui com muita persistência, trabalho sério e organizado, sou guerreira e forte ”, disse.

Ela pensa em expandir a loja para outros locais.

Anfrísia conta que sofre com julgamentos principalmente por parte dos homens da cidade por conta de sua postura e estilo. “Meu público maior aqui são turistas, há muito preconceito ainda por eu ser uma mulher sozinha”, disse.

Mas não existe limites para os sonhos femininos e isso a Nativitana mostra todos os dias como exemplo de uma tocantinense que batalha por dias melhores. Ela está no Instagram, canal que usa também para vender suas peças.

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