Dizem que uma das melhores formas de encontrar a pessoa amada é pedindo a Santo Antônio. O frade português ganhou o título de santo casamenteiro porque ajudava mulheres humildes que não tinham condições de oferecer dote e enxoval. Também é conhecido, no entanto, por defensor da família, protetor dos pobres e das coisas perdidas.
No caso de Marta Helena Rodrigues da Cunha, 79 anos, a crença em Santo Antônio veio de berço. “Minha avó passou para minha mãe, que passou para mim. A gente é tão próximo desde sempre que tudo o que eu peço para ele, dá certo. Quando o pessoal se desespera porque perdeu alguma coisa ou porque está precisando de uma graça, eu só falo na maior tranquilidade: ‘Mas para quê essa agonia? Calma que é só pedir a Santo Antônio que ele dá’”, conta.
Marta atribui não só o próprio casamento ao consagrado, como a união dos seis filhos, além de cada pequena conquista do dia a dia. A fé vale para achar do par perfeito ao documento perdido. E quanto mais o tempo passa, mais a relação entre ela e o frade franciscano se torna próxima. A casa de Marta fica a menos de 500 metros da paróquia que tem o santo como padroeiro. Nessa igreja, os filhos se casaram, os netos foram batizados e o aniversário de 70 anos do falecido marido, Vicente de Paula, celebrado.
“A primeira festa junina a gente quem começou. O quentão minha mãe fazia e o churrasquinho, era meu marido. Por muitos anos, trabalhamos juntos nas barraquinhas da festa, que hoje é a mais famosa de Brasília. Minha vida é toda Santo Antônio”, afirma Marta, orgulhosa.
É tanta devoção que fica difícil saber se é na casa de Marta ou dentro da paróquia onde há mais imagens do frade canonizado. São mais de 200 estátuas, medalhas, quadros e bonequinhos de pelúcia de Santo Antônio reunidas na sala da fiel— presentes dos filhos, de familiares e de amigos que sabem que não há erro nem exagero quando se trata do protetor dos relacionamentos. “Sou apaixonada pelo santo dos apaixonados”, afirma.
No Brasil, a fama do congregado franciscano tem relação, inclusive, com o Dia dos Namorados. É às vésperas da data que homenageia Santo Antônio, em 13 de junho, que ocorre a tradicional missa em que casais agradecem a união.
Da fé à simpatia
O músico Ricardo Macau, 30 anos, passou os últimos cinco anos focado na profissão e nos estudos até que, certo dia, decidiu pedir ao santo ajuda para encontrar uma companheira. “Brinco que já casei Brasília inteira por tocar há mais de 10 anos em cerimônias. Eu, que é bom, nada. Então, acendi uma vela e pedi a Santo Antônio para encontrar uma pessoa legal. Confesso que não rezei com tanta fé e, mesmo assim, ele me atendeu rápido. Agora, vou continuar pedindo para que o relacionamento prospere”, relata o músico.
Mas há quem perca a paciência e acrescente à reza as famosas simpatias. A estudante de enfermagem Mariana Ferreira, 30, resolveu fazer isso depois de ganhar uma imagem de uma amiga. “Nem ia fazer nada, mas liguei a televisão no dia 13 (de junho) e vi a simpatia de tirar a criança do colo dele e colocá-lo no arroz, que é símbolo do casamento. Três dias depois, conheci o Herick. Deixei o santo lá no copo de arroz por quase um ano, com medo de ele tirar meu namorado de mim”, conta, rindo. A estudante e o empresário Herick Ferreira, 32, completam um ano de matrimônio nesta quinta-feira (13/6), uma homenagem ao santo que os uniu.
A data também foi marcante na vida da médica Yanna Mattos, 43. Foi neste dia, enquanto trabalhava na barraquinha da festa junina da Paróquia Santo Antônio, 15 anos atrás, que ela foi pedida em casamento pelo advogado Miguel Mattos, 44. “Só um milagre do santo casamenteiro mesmo para ele me pedir a mão”, brinca Yanna.
“A gente sabe que ele sempre esteve em nossas vidas e operando no nosso casamento, porque foi na paróquia que nos aproximamos desde adolescentes, participamos de movimentos jovens, nos casamos, batizamos nossos filhos e atuamos como palestrantes e dando curso de noivos. Já fomos, inclusive, visitar o túmulo dele, em Pádua”, detalha.
Para o casal, a contribuição de Santo Antônio para os católicos vai além das características que o tornaram conhecido no Brasil. “Ele era um grande estudioso, teólogo e contemporâneo de São Francisco. Queria ir à África em missão, mas a fragilidade de sua saúde fez com que ele contribuísse por meio da pregação, sempre humilde e pensando na família e nos mais necessitados. É esse exemplo de Santo Antônio que nos inspira”, observa Miguel.
História
Santo Antônio era doutor em teologia em uma época em que o acesso aos estudos era privilégio de poucos. Entrou aos 15 anos para o seminário, seguindo a ordem agostiniana. Aos 20, teve contato com a história dos frades franciscanos que foram mártires no Marrocos e decidiu que também queria dar a vida pela palavra de Deus, ingressando, assim, na ordem franciscana. “Ele foi o primeiro professor de teologia dos frades. Era uma pessoa estudada, um doutor, que tinha a vocação para a humildade”, explica o frei Carlos Antônio, frade da Paróquia Santo Antônio.
“É o santo das necessidades, aquele que intercede e não deixa nada faltar. As pessoas se abrem para as possibilidades, por meio da fé e alcançam graças e milagres de todas as espécies com a ajuda do santo casamenteiro, dos pobres, de todo o mundo”, resume o religioso.
Fonte: Correio Brasiliense