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Novela no Jalapão: diretores falam sobre trama e cultura regional

Adjetivos não faltaram para os diretores André Felipe Binder e Mauro Mendonça Filho descreverem as belezas e os motivos pelos quais o Tocantins, e em especial a região do Jalapão, foram escolhidos como cenário para gravação da próxima novela das nove da Rede Globo, O Outro Lado do Paraíso. No município de Mateiros, ambos falaram sobre a trama, a cultura regional e como está o andamento das gravações.

 

Andre Felipe-Dir.Geral-Foto Washington Luiz

André Felipe Binder, diretor geral da novela, disse que além de mágico o Jalapão representa a beleza de um país que nem todos conhecem. Ele destacou as gravações como algo inédito para a televisão, o audiovisual e por representar a brasilidade do país. “Estou absolutamente encantado com o local, acho que é muito pertinente contar o tipo de história que a gente está contando hoje aqui. O Jalapão simboliza muito bem a beleza da novela que a gente quer”, elogiou.

 

Mauro Mendonça-Dir. Artistico Foto Washington Luiz

O diretor artístico da trama, Mauro Mendonça Filho, discorreu sobre o Jalapão como um dos locais mais bonitos do Brasil. “Muitas pessoas já viram uma fotinha do lugar e intuem que é bonito, mas na verdade não sabem. Só quando se chega aqui é que a gente percebe o quanto essa região é impressionante. Sinceramente, acho que o Jalapão pode se tornar um dos lugares mais gostosos de passar as férias e fazer turismo ecológico com responsabilidade. Aqui é quente e seco, mas tem águas absurdamente gostosas, além de encher os olhos. Beleza faz bem aos olhos, a luz que tem no Tocantins, não só aqui como em Palmas, cada pôr do sol mais bonito que o outro, sem falar que você tem umas dunas com um pôr do sol que é um negócio fabuloso. Para mim, o Jalapão tem potencial para ser um dos destinos mais procurados no Brasil”, afirmou.

 

Mauro Mendonça Filho disse que a região ainda guarda o “prazer do não descoberto”, mas que essa realidade deve ser mudada com a exibição da novela a partir do mês de outubro. O diretor analisou que é necessário que haja investimentos, principalmente na questão do transporte e hospedagem, para que os estabelecimentos consigam atender o aumento na demanda de visitantes. “O turista pensa em vir para cá e diz: ‘Ah, eu vou para o Jalapão e vou ficar em que local?’ Então, é importante ele saber que vai vir para cá e ficar em um bom hotel ou em uma pousada gostosa, que vai comer direitinho e vai conseguir curtir tudo isso, respeitando a natureza, obviamente. Quando chegar nesse ponto, aqui será um dos melhores lugares para o turista vir”, enfatizou.

 

Descentralização da Cultura

 

O diretor artístico elencou a descentralização da cultura como um dos fatores mais positivos da trama se passar na região Norte do país, especificamente, no Tocantins. Ele criticou o fato das novelas serem ambientadas, em sua grande maioria, no eixo Rio-São Paulo. “Então, ambientar uma história aqui é simplesmente parar de dizer que tudo tem que ser central, ou que tudo que não é do eixo sudeste é pitoresco. Não, não é nada disso, o mundo é muito mais globalizado. A cultura ficou muito centralizada no sudeste. Quando algo é de outro lugar, sempre vem com um sotaque caricato, e isso já acabou, estamos em um mundo muito mais rápido, é hora de entender que o seu problema é igual ao meu: sobrevivência, família, filhos e amores. As diferenças são cada vez menores. Então, ambientar uma história aqui é simplesmente dizer que o Brasil é democrático”, assegurou.

 

Mauro Mendonça Filho enfatizou que a trama é uma história de ficção que se passa no Tocantins e que vai promover as belezas naturais do local e mostrar os traços culturais, porém, que a obra não é um registro antropológico do Estado. “A novela se passa todinha no Tocantins e no Rio de Janeiro. As primeiras cenas estão sendo gravadas aqui e o desenrolar da novela acontecerá em uma cidade cenográfica que construímos. Eu pretendo, ou melhor, gostaria muito, de poder voltar ao Tocantins e, principalmente ao Jalapão, para gravar novas cenas aqui, mas isso dependerá de acertos financeiros. A sensação que nós temos é que a gente pode sair daqui a duas semanas e não ter registrado nem vinte por cento da beleza desse lugar. Então você fica querendo mais, mais, mais…”, contou.

 

Mauro Mendonça-Dir. Artistico Foto Washington Luiz

Caso consiga voltar a gravar no Tocantins, Mauro Mendonça Filho disse que não será mais possível trazer toda a estrutura grandiosa que a emissora trouxe para registro dos primeiros capítulos. “A novela é um transatlântico no mar, não se consegue trazer os transatlânticos no meio da novela para cá mais, porque é muito pesado, mas acho que a gente pode vir com uma estrutura menor, com outros atores, mas a história é no Tocantins, em Palmas e aqui [Jalapão]. Ela é uma obra de ficção, uma fantasia, uma história que, inclusive, eu estou dando um tom quase que meio cowboy, misturando o Texas com o Tocantins, não estou focado tanto no radicalismo da regionalização. Em relação aos quilombos, eu estou até africanizando mais eles do que eles estão africanizados hoje em dia aqui”, pontuou.

 

Quilombolas

 

A nova novela das nove terá como um dos motes a Lei do Retorno, que irá retratar que toda ação tem uma reação. Dentro desse contexto, a trama também irá abordar a questão do racismo. O diretor Mauro Mendonça Filho classificou como absurda a proposta do Congresso Nacional a respeito da revisão das demarcações de terras indígenas e quilombolas e analisou que o país tem uma das políticas mais avançadas nesse sentido, perto do restante do mundo. “É um grande retrocesso esse questionamento do Congresso sobre as áreas indígenas e Quilombolas. Eu defendo muito que a gente mantenha como está, porque é uma forma de você entender o homem de maneira diferente, porque depois que isso se perde vira só dinheiro, não é? Essa cultura deles me interessa muito, eu tenho muito orgulho das raízes africanas do Brasil, das religiões afros, da música, de todo esse legado deixado por eles. Isso tem que ser preservado e, é por isso que a gente vai abordar essa questão na novela colocando as comunidades quilombolas do Jalapão no centro dessa questão”, garantiu.

 

Legado

 

O principal legado deixado por O Outro Lado do Paraíso para o Tocantins será a divulgação das belezas do Estado, segundo avaliou o diretor Mauro Mendonça Filho. “A responsabilidade é muito maior quando [a novela] vai ao ar. Acho que se a gente pode deixar um legado é conseguir, por meio dos nossos competentes profissionais, captar a beleza do local. O Jalapão vai impressionar, nós temos feitos imagens muito bonitas mesmo. A luz aqui é um absurdo de linda”, frisou.

 

Em relação ao movimento que a trama está provocando na economia da cidade e na geração de emprego e renda para a população local, Mauro Mendonça Filho destaca isso como outro fator positivo que a emissora deixa para a região. O diretor contou que na trama há figurantes e atores locais, além de vários profissionais que foram contratados para dar suporte nas gravações. “Esse fluxo é muito grande. Nossa equipe preencheu as pousadas e, com as gravações, precisamos mobilizar várias coisas. Isso movimenta o comércio, porque precisamos comprar a cerveja (risos), a carne pro churrasquinho, abastecer os veículos da produção nos postos de gasolina da cidade. E isso é ótimo, a gente tem sido recebido muito bem”, concluiu.

 

O Outro Lado do Paraíso

 

A novela O Outro Lado do Paraíso substituirá A Força do Querer, atual trama das nove da Rede Globo. A história é assinada por Walcyr Carrasco e tem a direção artística de Mauro Mendonça Filho e a direção geral de André Felipe Binder. No elenco constam nomes como o de Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Marieta Severo, Bianca Bin, Sérgio Guizé, Grazi Massafera e Rafael Cardoso. A novela deve estrear no mês de outubro.

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