Um a cada seis homens serão acometidos pelo câncer de próstata durante a sua vida. São cerca de 65 mil novos casos por ano no Brasil, de acordo com estimativas do INCA (Instituto Nacional do Câncer), confirmando a alta prevalência da doença na população masculina. Na fase 1, a mais precoce do tumor, que atinge de 30% a 40% dos pacientes diagnosticados com a doença, o paciente pode não ser tratado imediatamente. Ele pode seguir com uma vigilância ativa, através de avaliações clínicas, exame de PSA periódicos e eventualmente rebiópsia. Já em pacientes com doença localizada mais agressiva, o tratamento imediato é necessário, seja com uma cirurgia conhecida como prostatectomia radical, ou seja, a remoção da próstata, das vesículas terminais e dos gânglios, ou a radioterapia em associação com um tratamento de bloqueio hormonal, que diminui os níveis de testosterona, o principal nutriente das células malignas prostáticas.
Todo esse artesanal começa agora a ganhar reforço com novas terapias que intensificam os tratamentos, apresentadas recentemente no ESMO 2021(European Society for Medical Oncology), um dos mais importantes congressos de oncologia do mundo. De acordo com o médico Fernando Maluf, diretor médico associado do Centro de Oncologia e Hematologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, os estudos alcançaram melhores resultados de sobrevida com uma boa qualidade de vida para os pacientes.
Um dos trabalhos conhecido como STAMPEDE focou nos pacientes com doença localizada, mas com características adversas. O tratamento intensificado associou o tratamento padrão (radioterapia e diminuição da testosterona por meio de injeções) a um novo remédio chamado abiraterona, que bloqueia a produção da testosterona na glândula suprarrenal. “O bloqueio duplo, com a terapia de dois medicamentos mais radioterapia, promoveu resultados de cura e de sobrevida melhores do que o bloqueio simples”, explica o médico. O medicamento, entretanto, não deve ser usado em todos os pacientes com doença localizada. “Devemos analisar caso a caso. Mas este é um tratamento extremamente importante porque muda a prática médica para um grupo selecionado de pacientes com algumas características de mais alto risco”, diz.
Já para a doença metastática, quando o câncer já atinge outros órgãos, um estudo apresentado no congresso chamado PEACE 1 trouxe uma estratégia mais intensa de tratamento. “No passado, os tratamentos eram feitos somente com injeções que diminuem a testosterona produzida no testículo. Vieram várias drogas quimioterápicas e não quimioterápicas que, associadas com a diminuição da testosterona pela injeção, mostraram melhores resultados”, explica o médico. O novo estudo avaliou a eficácia da injeção, com quimioterapia associada a mais um inibidor do hormônio masculino no tratamento, ou seja, a utilização de três drogas ao invés de duas. “Os resultados foram melhores e mais animadores, prologando a vida das pessoas”, comemora o médico Fernando Maluf.
De acordo com o especialista, o tratamento do câncer de próstata foi um dos que mais evoluiu em favor dos pacientes nos últimos tempos e as novas terapias apresentadas no ESMO já começam a ser utilizadas na BP.