O câncer, antes mesmo dos primeiros sintomas, começa a deixar rastros no sangue. Eles podem ser pequenos pedaços de DNA mutante, flutuando em meio a glóbulos vermelhos e brancos. Também podem ser proteínas com uma sequência de aminoácidos peculiar, que só poderiam ter sido fabricadas pelas células de um tumor.
Cada tipo de câncer – há mais de cem deles – deixa um rastro de substâncias diferente, um conjunto único de pegadas no seu corpo. É como quando duas pessoas, uma de chinelo e outra de coturno, pisam no cimento fresco da calçada. Agora estamos no caminho de identificar essas pegadas com uma agulhada – ainda nos primeiro estágios do tumor, quando o estrago não é tão grande e o tratamento quase sempre funciona.
É essa a promessa de um novo tipo de exame de sangue, anunciado ontem na Science. Quando aplicado a 1005 voluntários com câncer diagnosticado, identificou a doença e o órgão atingido em 70% dos casos – a taxa de sucesso variou entre 39% e 96% conforme o tipo. Tudo com um vidrinho do líquido, sem raio-x nem ressonância magnética. Entre os tipos testados, estão alguns dos mais comuns: mama, pulmão, ovário, fígado, estômago, pâncreas, esôfago e reto. O método também foi testado em 812 pessoas que não estavam doentes, para verificar o número de alarmes falsos. Foram apenas sete enganos.
Por Bruno Vaiano, de Superinteressante