Ícone do site Gazeta do Cerrado

Novo golpe rouba perfis de mulheres para vender pornografia

Amanda descobriu que criaram um perfil falso de conteúdo adulto para ela — Foto –  Arquivo Pessoal

“Eu fiquei em desespero”: essa foi a reação da maquiadora Crislaine Paula, de 29 anos, ao receber dezenas de notificações no Instagram e descobrir que tinham criado um perfil falso seu, anunciando conteúdo pornográfico.

Ela é uma das várias mulheres que foram vítimas de um novo golpe na rede social. Entenda em 4 pontos:

Foto – Divulgação

  1. É nesse momento que vem a segunda parte do golpe: angariar dados de cartão. A criadora de conteúdo Amanda Lemes, de 23 anos, chegou a pesquisar no agregador Reddit sobre o golpe e percebeu que a maioria das reclamações relatadas lá eram de pessoas que cadastraram os seus dados no site e tiveram o cartão clonado.
  2. Na bio, há um link para um site de pagamento, hospedado nos servidores Wix e Fansly, contendo imagens mais explícitas do que as do Instagram, como vídeos, gifs e fotos de cenas de sexo. Essas imagens não são das vítimas que tiveram o perfil clonado, mas são usados recursos que dificultam a identificação, como rostos escondidos e filtros para as imagens não ficarem nítidas.
  3. O perfil falso envia mensagens para os seguidores da vítima, divulgando a nova conta e pedindo para seguirem ela.
  4. Quadrilhas têm copiado perfis, principalmente de mulheres, alterando apenas uma letra no nome de usuário, usando a mesma foto do perfil verdadeiro e anunciando que, agora, a pessoa está trabalhando com conteúdo adulto.

As vítimas costumam descobrir que sua conta foi copiada, normalmente, quando alguns dos seguidores que receberam a mensagem do perfil falso vão confirmar se é verdade, como foi com a Crislaine.

O que se sabe sobre o novo golpe:

‘É você?’ – como é descobrir o seu perfil falso

 

“A primeira coisa que veio na cabeça na minha cabeça foi o meu trabalho. Como que eles vão encarar tudo isso? Como que eu vou explicar que aquilo é um fake?”, conta Letícia Negresiolo Martins, de 27 anos e jornalista, que mantém relação no Instagram com clientes da agência em que trabalha.

Ela teve que criar um comunicado explicando que o perfil é falso, mas ainda sofre com piadas no serviço: “As pessoas continuam perguntando: ‘E aí, já está ganhando muito dinheiro’?”, comenta.

Crislaine também usa a rede social para divulgar o seu trabalho de maquiadora, ela pensou em desativar a sua conta e relata que o golpe afetou sua autoestima e abalou a sua dignidade.

Ela, Letícia e Amanda, como muitas outras vítimas, foram bloqueadas pelos perfis falsos, uma tática para evitar que a conta possa ser denunciada no Instagram.

“Eu não tinha nenhuma informação que eu conseguisse ver. Era só o que as pessoas me mandavam. Quando eu vi aquilo, fiquei bem nervosa, aí eu fui e liguei para a polícia civil, o 197. Eles me orientaram para pedir às pessoas para denunciarem o perfil”, explica a maquiadora.

Esse é o primeiro passo para muitas vítimas, fazer uma corrente no Instagram para denunciar o perfil falso e tentar fazer com que a rede social derrube a página. Contudo, muitas mulheres têm reclamado de demora do Instagram para atender às solicitações, caso de Letícia.

“Nesse momento, eu tenho essa sensação de que é batalha perdida, eu já não sei mais o que fazer. Eu já tentei de tudo”, relata.

 

No Rio de Janeiro, a estudante Ana Beatriz Pereira encontrou diversas vítimas na delegacia quando foi denunciar.

Em Goiás, a policial Christyanne Carrijo denunciou ter sofrido o golpe.

O Instagram disse ao g1 que esse tipo de atividade é proibido na plataforma e incentiva a denúncia das contas.

Amanda tentou também contato com Wix, para derrubar o site de venda de imagens, mas a página ainda está no ar. Ao g1, o Wix declarou que se opõe “a todos os tipos de conteúdo abusivo e fraudulento” e que estão “comprometidos em resolver todas as reclamações que chegam aos canais de suporte”.

A reportagem não conseguiu contato com a Fansly.

Após ser avisada pelos seguidores, Crislaine começou a pedir para as pessoas denunciarem a conta falsa — Foto: Arquivo pessoal

Tem como se proteger do golpe?

 

Esse golpe se trata de uma ação em larga escala realizada por quadrilhas, explica a advogada Patrícia Peck, especializada em crimes cibernéticos.

Ela diz que os atacantes focam, principalmente, em mulheres que têm bons números de engajamento nas redes sociais, já que há mais chances de trazer pessoas para o golpe do cartão.

Patrícia diz que é muito difícil evitar um perfil no Instagram seja clonado, mas que dá para achar mais rapidamente se sua imagem está sendo usada indevidamente:

  • Faça rondas periódicas em buscadores sobre seu nome e por imagem, assim você poderá ver se ela já está sendo usada;
  • Veja quem te segue, suspeite das páginas com poucas publicações e seguidores e remova as contas suspeitas. Para fazer isso, basta ir na sua lista de seguidores e clicar em “remover”. Você pode, ainda, bloquear esses perfis.

 

Para as vítimas de cartão, a dica é não clicar em sites suspeitos, evitar compras por impulso e inserir seus dados em sites desconhecidos.

O que fazer se for vítima?

  1. Faça prints e salve a URL do perfil e do site de conteúdo adulto, que servem como provas do crime;
  2. Com as provas em mão, faça um boletim de ocorrência, pode ser digital ou pessoalmente;
  3. Notifique as plataformas do que está acontecendo e solicite a remoção do conteúdo.

 

Muitas redes sociais possuem um caminho dentro do site para denunciar o perfil, caso do Instagram. Patrícia explica que quanto mais pessoas denunciarem o perfil, mais rápido a plataforma identifica que ele é falso e o derruba.

Caso a plataforma não remova o perfil, o Marco Civil da Internet determina, pelo artigo 19, que os provedores tirem a conta do ar após ordem judicial. Para Patrícia, isso é uma questão que precisa ser atualizada, para que a ação seja tomada assim que houver a denúncia na rede social.

Além de derrubar a página, a vítima pode seguir com uma investigação sobre o caso. O crime se enquadra nas seguintes leis:

  • Artigo 218-C do Código Penal: trata da exposição de imagem íntima sem autorização da pessoa retratada. O caso se enquadra nesta lei, ainda que o corpo não seja o mesmo da vítima, pois no contexto do perfil, dá a entender que é a mesma pessoa, gerando constrangimento. Porém, alguns juízes podem querer levar o texto ao pé da letra e não encarar dessa forma, alerta Patrícia.
  • Artigos 138, 139 e 140 do Código Penal: são os artigos que tratam da calúnia, difamação e injúria, que podem ser usados, principalmente, se o juiz não aderir ao tópico anterior.
  • Artigo 307 do Código Penal: trata do uso de falsa identidade para obter uma vantagem ou proveito próprio.
  • Artigo 171 do Código Penal: se refere ao estelionato, vale para as vítimas que perderam dinheiro para os sites de imagens pornográficas.
  • No caso das vítimas do cartão de crédito, a advogada comenta que há vergonha em denunciar, dado o contexto do site em que os dados foram coletados.

    Também é recomendado sempre perguntar no perfil original se a nova conta é verdadeira.

    Atacante publica stories com fotos das vítimas para atrair seguidores a clicar no link — Foto: Arquivo Pessoal

    Como denunciar o perfil no Instagram

     

    • Toque em “…” na parte superior direita do perfil
    • Toque em “Denunciar”
    • Selecione “O conteúdo é inadequado” e, depois, “Denunciar conta”
    • Selecione a opção “Está fingindo ser outra pessoa”
    • Indique se a conta falsa está fingindo ser você, uma pessoa conhecida ou uma celebridade/figura pública. No caso de perfis verificados, você pode indicar qual o perfil legítimo que a conta falsa está fingindo ser.
    • Ao denunciar uma conta, suas informações não serão compartilhadas com a conta cuja publicação ou perfil você está denunciando. Também é possível fazer a denúncia por meio deste formulário.

      Como denunciar a página falsa do Wix

       

      É possível denunciar a página fraudulenta pelo e-mail abuse@wix.com e pelo preenchimento do formulário neste link.

      Amanda, Crislaine e Letícia tiveram o seu Instagram clonado — Foto: Arquivo pessoal

Sair da versão mobile