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O desabafo emocionante de um palmense que sobreviveu a Covid: “Vocês não sabem o que é puxar o ar e não vir”

Maurício Nunes Martins ficou cinco dias na UTI - Foto: Arquivo Pessoal

Maurício Nunes Martins ficou cinco dias na UTI – Foto: Arquivo Pessoal

Brener Nunes – Gazeta do Cerrado

Um sobrevivente. Assim podemos nos dirigir a Maurício Nunes Martins, de 51 anos, professor e cirurgião dentista, morador de Palmas há 28 anos.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Cerrado nesta segunda-feira, 1º de março, o cirurgião relata que teve Covid há um mês e ficou nove dias internado, destes, cinco na UTI.

“Vocês não sabem o que é puxar o ar e não vir”, disse Maurício em depoimento.

O professor teve Covid no início do mês de fevereiro e conta que ficou isolado em casa tomando antibióticos, porém, após dois dias sentiu falta de ar. “No dia 09 fui internado, e dia 11 comecei a necessitar do oxigênio. Inicialmente, meu pulmão foi comprometido em 25% e dois dias depois já estava 50%. Vejam a seriedade desta doença, desta cepa. É muita agressiva e muitas vezes não conseguimos tratar em casa”, contou.

Ele destaca que tomou corticoides injetáveis e dois dias depois de internação foi para UTI. “Eu tive sorte em conseguir um leito de UTI particular. Porque até mesmo o sistema de saúde particular está entrando em colapso. Ele não está conseguindo mais internar as pessoas, não tem mais respirador”, disse Maurício.

O dentista contou que começou a usar três litros de oxigênio, e quando foi para UTI piorou, e teve e que usar uma máscara especial, e respirava por ela nove horas diárias, sessões de três horas, tomando uma série de medicamentos. “Nisso, meu pulmão estava comprometido 60%”, revelou.

Maurício conta ainda que passou muito perto de ser entubado. “Agradeço imensamente a toda equipe da Unimed. Todos os profissionais com a maior boa vontade. Falta leito, não tem aonde pôr, a UTI estava lotada. Eu fiquei de quatro a cinco dias lá, e quando sai, na mesma hora já ocupou meu leito com outra pessoa”, afirmou o dentista.

No depoimento à Gazeta, o professor defende o lockdown. “A questão do poder público decretar lockdown é questão de sobrevivência. Quando estamos lá dentro vemos que não tem nada a ver com política, esqueçam vaidades, esqueçam partidos e lembrem da sobrevivência. Porque a hora que você puxar o ar e não vir a gente não tem o que fazer. Você pode ter o que for, patrimônios, dinheiro, mas o serviço público e o particular não estão mais conseguindo porque o números de contaminados está crescendo”, destaca.

Maurício Nunes Martins, de 51 anos ficou internado por nove dias – Foto: Arquivo Pessoal

Maurício é claro em sua fala, se todos continuarem circulando o número de contaminados vai aumentar. “Você pode ter plano de saúde, o que for e você não vai conseguir se tratar. Dentro dos hospitais está um clima de guerra. Teve paciente que chegou ao meu lado depois que sai da UTI, e estava me recuperando na enfermaria. Ele chegou com um litro de oxigênio no primeiro dia, no segundo estava com três e meio, saiu do cateter para máscara, no terceiro dia já tava com 16 litros, teve que entubar”, relata.

E Maurício ainda reforça sobre o lockdown em Palmas, e defende que Cinthia decrete o fechamento de tudo na Capital. “Se no nosso caso a prefeita Cinthia for declarar um lockdown, não é porque ela quer, é porque é necessário, tem que parar de circular, não podemos fazer festas, aglomerar, sei que é difícil. Tem que ter um sacrifico econômico”, afirmou.

O dentista pondera que como profissional da saúde é sua obrigação alertar a população e avisa. “Na hora que vocês tiverem uma doença dessa, e eu tive. E por pouco, muito pouco, meus exames ficaram em estado crítico, meus rins estavam ficando comprometidos. Eu quase morri. E a gente só acredita que isso acontece quando estamos lá”.

E pede mais uma vez. “Vamos nos conscientizar que neste momento temos que ficar confinados o maior tempo possível e nos sacrificarmos pela nossa sobrevivência. Porque na hora que você vê um parente ou você mesmo entrar numa situação dessa. A minha situação foi há 20 dias atrás, e hoje estar pior, talvez eu não arranjaria um leito de UTI para mim, porque não tem”, destaca Maurício.

Leito de UTI – Foto:
Nilson Chaves

Situação epidemiológica

Nesta segunda-feira, o Tocantins contabilizou 554 novos casos confirmados da Covid-19. Contabiliza 360.509 pessoas notificadas com a Covid-19 e acumula 114.467 casos confirmados. Destes, 101.748 pacientes estão recuperados, 11.187 pacientes seguem em isolamento domiciliar ou hospitalar e 1.532 pacientes foram a óbito. As informações são da Secretaria de Estado da Saúde (SES).

Ocupação

No momento, quatro hospitais do Tocantins estão com os todos os leitos de UTI lotados: o Hospital Estadual de Combate a Covid, Oswaldo Cruz, em Palmas; Hospital de Campanha e o Instituto Sinai, ambos em Araguaína.

Outros quatro unidades estão com as UTIs acima de 80%.

Confira todos os números de ocupações:

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