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O Tocantins que não está nas redes sociais, dos centenários e onde além da luta pela sobrevivência tem aquela contra a desinformação

Sr Wilson nos seus quase 60 anos - Foto: Maju Cotrim

Maju Cotrim

Após nove dias nas estradas e passando pelo Sudeste do Tocantins e Jalapão na última semana vi muitos cenários que chamaram atenção. Não estava fazendo turismo ou tirando fotos: estava captando realidades de mulheres quilombolas e ao mesmo tempo outras percepções me chamaram atenção.

Coisas do nosso Estado que só vemos se colocarmos um tênis e pegar as estradas ainda de terra que dão acesso á assentamentos e quilombos. Sim, os tão esquecidos quilombos que muitos tocantinenses sequer sabem mesmo o que são e qual sua importância histórica.

Um Tocantins das pessoas pulsa nos interiores e além das redes sociais. Conversando com tanta gente em nove dias senti sentimentos diferentes dos tocantinenses que estão longe da política e das redes sociais. Em todos os locais que passei sempre perguntei se as pessoas tinham se vacinado.

Para minha surpresa em alguns quilombos muitos disseram que não se vacinaram porque tiveram medo. Outros porque disseram que não achavam necessário já que moravam isolados.

Mas uma fala em si me chamou atenção: a do Sr Wilson nos seus quase 60 anos. Dono de uma área com uns prainha muito visitada no jalapão. Ele é marido da Dona Joana. Os dois se vacinaram. No entanto, ele me disse: “fiquei com muito medo, disseram que a gente podia virar jacaré ou ficar com cara de boi mas fui assim mesmo com medo e tomei”, disse.

O que ele disse parece até aqueles links falsos que rondam por vezes no WhatsApp mas não era não. Ele estava ali na minha frente dizendo mesmo que na região alguns tiveram medo de tomar a vacina por tanta besteira que divulgaram. Imediatamente gravei o que ele disse. Ali nos rincões também há uma luta não só pela sobrevivência diária mas contra a desinformação.

Veja o vídeo aqui.

Longe dos holofotes das redes sociais estão ainda centenários como Sr Joanildes de Porto Alegre do Tocantins que me disse ter cento e poucos anos. Sentado na porta vendo a vida e as pessoas passarem. Ali na sua simplicidade cotidiana….

Sr Joanildes diz já ter perdido a conta da idade – Foto: Maju Cotrim

Em Mateiros, também tive a honra de trocar dois dedos de prosa com Sr Adelino, 112 anos, lúcido, desbravador do quilombo Rio Novo. Sentadinho ele te recebe com um sorrisão e conta muitas histórias. Ele também já tomou a vacina.

Sr Adelino, aos 112 anos – Foto: Maju Cotrim

O “Tocantins das pessoas” é feito de gente simples e conformadas com os lugares que moram há décadas mas que também precisam ter acesso á informação e políticas de cuidado. Valorizar os centenários, derrubar fakenews que chegam até nós quilombos e manter a assistência á saúde são ações que os poderes e órgãos responsáveis não podem deixar de cumprir com estes tocantinenses que deram o suor pelo Estado.

Cestas básicas chegaram para eles mas em quase todas as casas já não tinha mais a “mistura”. Um idoso estava passando mal e a filha disse que queria muito ter um carro para leva lo mas a alternativa, segundo ela, era buscar uma carona. Ou seja, as realidades que não são virtuais ainda pulsam em vários cantos do Tocantins.

Perguntei ao Sr Adelino qual o segredo para viver 112 anos e ele disse: “não tem segredo, tem muito trabalho e ir lutando pra acordar vivo”, disse consciente.

Além das redes existe um Tocantins das pessoas que merecem atenção, cuidado, visitas, assistência social e de saúde e acima de tudo: o reconhecimento pelo seus legados.

Em breve vocês vão poder conhecer mais destas histórias e personagens sociais do Tocantins.

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