A possibilidade de banho nas praias do Nordeste afetadas pelas manchas de óleo foi reafirmada nesta semana por duas autoridades federais: o presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
Apesar disso, pesquisadores ainda estão estudando os efeitos do óleo na balneabilidade das mais de 240 praias já atingidas pela substância nos nove estados do Nordeste desde agosto. Especialistas ouvidos pelo G1 destacam que, mesmo quando não há manchas visíveis, três compostos voláteis do petróleo podem estar presentes em partículas microscópicas que são perigosas para a saúde a longo prazo
Veja o que se sabe sobre a possibilidade de banho nas praias do Nordeste afetadas pelas manchas de óleo:
O que dizem as autoridades
O presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, disse neste sábado (26) que as praias do Nordeste que não têm manchas de óleo visíveis estão próprias para banho. Mourão disse ainda acreditar que “não tem mais nenhuma praia suja no Nordeste”. No entanto, novas manchas de óleo foram vistas neste sábado em Pernambuco e em Sergipe.
A recomendação de Mourão é similar à emitida pela Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) neste sábado. Segundo o diretor de Fontes Poluidoras do órgão, Eduardo Elvino, o banho foi liberado nas praias do estado atingidas pelo óleo desde que não haja, visivelmente, resíduos da substância.
Na sexta-feira (25) a agência estadual havia emitido um relatório pedindo que banhistas evitassem a praia de Muro Alto, onde o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, molhou os pés e disse que “as praias do Nordeste estão aptas para receber banhistas”.
O ministro do Turismo disse ainda que “é preciso separar aquilo que é mito daquilo que é realidade, e a realidade são praias limpas, são banhistas frequentando naturalmente o mar.”
Na quinta-feira (24) o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi questionado se seria necessário isolar as praias afetadas.
“Não, porque a toxicidade é insignificante, é mínima. Na composição, o que seria [mais tóxico] é o benzeno, mas é mínimo” – Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde
Para Mandetta, as pessoas intoxicadas durante o trabalho de limpeza do óleo em praias do Nordeste usaram produtos tóxicos para limpar o petróleo cru que grudou na pele.
O que dizem os especialistas
Para o professor Ícaro Moreira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), há riscos nas partículas de óleo que se soltam da mancha e são diluídas na água. Ele explicou que a forma microscópica dessa substância é a mais tóxica e pode ser absorvida pela pele.
Inalar os elementos que estão no ar pela evaporação do óleo também é perigoso, segundo o toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade de São Paulo (USP).
“Pode causar tosse, irritação e asma, além da pneumotite química, que é a inflamação dos pulmões e a principal consequência da inalação desse óleo”, disse Wong.
Na quinta-feira (24) a UFBA recomendou que seja declarado estado de emergência em saúde pública na região por conta da contaminação de petróleo.
Em um comunicado, a instituição defendeu portaria acionada em casos de “calamidade pública” e reforçou os riscos do contato com o benzeno, composto volátil e tóxico, liberado pelo óleo no meio ambiente.
Quais são os critérios de balneabilidade
As recomendações de balneabilidade das praias, publicadas periodicamente por autoridades estaduais, não necessariamente consideram a presença de partículas de óleo na areia ou na água.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente estabelece que uma praia é imprópria para banho quando mais de 20% das amostras coletadas em cinco semanas consecutivas apresentam resultado superior a 1.000 na contagem de coliformes fecais ou 800 na de Escherichia coli; ou quando, na última coleta, o resultado for superior a 2.500 coliformes termotolerantes ou 2.000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 ml de água.
O oceanógrafo especialista em emergências causadas por óleo Jackson Krauspenhar vê com preocupação as análises da balneabilidade das praias afetadas por manchas de óleo.
“Geralmente, quando analisam, eles verificam apenas parâmetros ligados a esgoto, mas nós precisamos saber se as análises estão levando em conta os componentes do hidrocarboneto (petróleo)”, disse.
Ele defendeu uma averiguação na concentração do óleo nas águas.
“Não sabemos qual a composição do óleo. Os óleos possuem moléculas aromáticas e até cancerígenas, então a balneabilidade deve ser colocada em reflexão se está se levando em consideração esses componentes.”
O especialista também questiona que, sem saber de onde vieram as manchas, as ações que devem ser tomadas a médio e longo prazos ficam prejudicadas.
Fonte: Globo.com