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OPINIÃO: Meu pequeno grande aprendizado na política – por Thamires Lima

Por Thamires Rosa Costa Lima

Hoje eu faço 32 anos.

E hoje também quero compartilhar um pouco das minhas experiências na política com outras mulheres.

Me chamo Thamires Lima e sou natural de Paraíso do Tocantins e por muito tempo pensei, inevitavelmente e de forma inconsciente, que política nunca seria algo na qual eu estaria ativamente envolvida. Quando falo de política aqui tomo a liberdade para falar dela no sentido eleitoral, partidário e institucional, até porque eu sou uma pessoa política em minha essência: sou mulher, preta, lésbica e gorda. Isso por si só já diz muito.

Há dois anos fui convidada para fazer parte do primeiro mandato coletivo do Estado do Tocantins, o SOMOS. Sou uma de suas fundadoras. Um adendo rápido nesta parte, e que muitos e muitas não sabem, é que o nome “SOMOS” foi decidido em conjunto por causa de um grupo de pesquisa que eu participo sobre resistência LGBTQIA+ no período da ditadura brasileira. O “Grupo SOMOS’, fundado em 1978, foi o primeiro coletivo criado no País, com objetivo de defender a nossa comunidade. É daí a nossa referência.

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Voltando ao ponto inicial desse texto, quando aceitei participar de um mandato coletivo que disputaria as eleições para vereador em Palmas, nossa Capital, eu não tinha conhecimento básico sobre quem seriam os nossos representantes no âmbito federal e estadual. Algumas pessoas, claro, conhecemos, mas de modo geral eu era apenas uma espectadora desatenta sobre o trabalho desenvolvido pelos nossos parlamentos.

Lá no início, quando estudávamos para que eu estivesse preparada para entrevistas e debates, perguntas como “quantas cadeiras o Tocantins têm no Congresso Nacional?”; “Quantos deputados temos na Assembleia Legislativa?”; “Quantas vagas para vereadores serão disputadas em Palmas?”, eu não sabia dizer de cabeça. Quando me perguntavam quantas mulheres ocupavam estes espaços, o desconhecimento sobre o assunto era ainda maior.

Hoje eu entendo que são coisas básicas, mas eu também perdoo a Thamires de tempos atrás por não saber disso. Perdoo a Thamires que, além de toda uma vida pessoal, estudava todos os dias e trabalhava 44h por semana em um call center. De segunda a sábado.

Hoje eu vivo a política eleitoral, partidária e institucional na prática. Sei que temos, no Congresso Nacional 11 representantes, sendo três senadores e oito deputados federais. Nesta Legislatura, somente duas mulheres representam o Tocantins na Câmara. No Senado, apenas uma. Na Assembleia são 24 cadeiras de deputados estaduais. Destas, cinco são ocupadas por mulheres. Na Câmara Municipal, das 19 vagas disputadas nas eleições de 2020, somente quatro foram preenchidas por Elas.

Em quase 34 anos de criação o Tocantins teve apenas 13 mulheres diferentes ocupando espaços de poder e de representação do Estado e do povo no Senado, na Câmara e na Assembleia Legislativa: Dolores Nunes, Leide Pereira, Kátia Abreu, Nilmar Ruiz, Professora Dorinha, Dulce Miranda, Josi Nunes, Solange Duailibe, Luana Ribeiro, Amália Santana, Valderez Castelo Branco, Vanda Monteiro, e Cláudia Lelis.

É muito pouco. E olha que nem entrarei aqui no contexto de representação de pautas feministas, pois a grande maioria – partidariamente e pessoalmente falando – são mulheres conservadoras.

Quando passei a estudar e a estar presente nestes espaços consegui perceber que, além de fazer parte da classe trabalhadora que não tem tempo para acompanhar o processo, outra nuances também me colocavam neste lugar de desconhecimento sobre a política local: eu nunca me vi representada. Nunca. Não há nenhuma pessoa igual a mim ocupando estes espaços. E olha que faço parte de uma parcela significativa da população brasileira e tocantinense.

Tem uma cientista política, Iris Marion Young, que citei há alguns dias, quando escrevia minha dissertação, que diz algo para reflexão:

“Quando há uma história de exclusão ou marginalização de certos grupos da influência política, os membros desses grupos tendem a se desafeiçoar do processo político: podem ficar apáticos ou se recusar terminantemente a se engajar com outros para tentar resolver problemas compartilhados. Sob tais circunstâncias, a representação específica de grupos desfavorecidos estimula a participação e engajamento”.

Ela escreveu isso em 2006, quando eu ainda tinha 16 anos.

Outro autor que tive contato mais recentemente, e que ainda preciso me aprofundar um pouco mais, é Frantz Fanon. No prefácio de um de seus livros, “Pele Negra, Máscaras Brancas”, tive a grata satisfação de ler um trecho da escritora Grada Kilomba, que entre outros temas, estuda questões relacionadas ao racismo e pós-colonialismo. Ela diz: “Um dos princípios da ausência, no qual algo que existe é tornado ausente, é uma das bases fundamentais do racismo”.

O sistema é assim para pessoas como eu, e para outras tantas que possuem menos privilégios. Racista, classista, sexista e LGBTfóbico.

Eu não sabia de informações básicas lá no início da minha caminhada. Se hoje eu sei, é porque tive uma oportunidade. Somente um passo em uma caminhada que não termina aqui. Continuarei estudando, me especializando e buscando um lugar que é nosso de direito. Esse é só o começo. SOMOS muitos. A gente só precisa se encontrar.

Thamires Rosa Costa Lima é
Administradora, Mestranda em Comunicação e Sociedade, Suplente como covereadora do Coletivo SOMOS

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