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ORGULHE-SE! Pedagogo é o primeiro homens trans a fazer mastectomia pelo SUS no TO: “Daqui pra frente, vida nova” celebra

Pedagogo e fotógrafo Arthur Gabriel é o primeiro homem trans a realizar o procedimento pelo SUS no TO – Foto – Arquivo Pessoal

Reportagem Especial do Mês do Orgulho, Lucas Eurilio, Gazeta do Cerrado

ANTES DE MAIS NADA, LGBTFOBIA NO BRASIL É CRIME!

O jovem pedagogo e fotógrafo Gabriel Arthur Martins, de 28 anos, realizou uma de mastectomia e se tornou o primeiro homem transexual a fazer o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Tocantins.

Neste mês do Orgulho LGBTQIAPN+, celebrado no mundo todo e que marca as lutas e resistência da Comunidade, Gabriel Arthur tem ainda mais motivos para celebrar sua nova liberdade.

Equipe Médica que realizou o procedimento – Foto – Arquivo Pessoal

Gabriel Arthur, que faz questão de se reafirmar como homem trans, passou pela cirurgia no Hospital Geral de Palmas (HGP) nesta terça-feira, 26, e recebeu alta, já nesta quarta-feira, 27, e está sob os cuidados e carinho de amigos e familiares.

Pedagogo e fotógrafo Arthur Gabriel – Foto – Reprodução Instagram

Ele conversou com nossa equipe e contou como está se sentindo após o procedimento. Disse que aguardava na fila para fazer uma redução de mamária, mas depois mudou para redução mamária masculina.

“Estou bem. Um pouco enjoado da anestesia, mas tô ótimo. Esse passo foi o maior que eu já dei na minha vida.  Foi a melhor equipe médica, desde a recepção até depois, todo mundo me tratando com respeito, um carinho uma atenção, uma empatia inefável. Eu já estava na fila pra redução mamária feminina e depois mudou pra masculina. Daí passei por uma nova avaliação e o Dr marcou a cirurgia. Quase morri”, contou.

Gabriel Arthur no pós-cirurgia – Foto – Arquivo Pessoal

Gabriel disse ainda que contou com o apoio do pai, David Ferreira de Melo. que veio de outro Estado para acompanhá-lo.

“Meu pai, ele veio de Goiânia pra cuidar de mim”

Arthur Gabriel e o pai David – Foto – Arquivo Pessoal

O procedimento foi realizado pelo médico e cirurgião plástico Rodolfo Rezende das Neves e Gabriel ressaltou ainda sua alegria em ser o primeiro a fazer a cirurgia no SUS aqui no Estado. Ele deixou uma mensagem para os que tem o mesmo desejo.

“Fiz com novo cirurgião. Ele veio de Uberlândia e já fez esse procedimento. Fui o primeiro homem trans a fazer esse procedimento aqui no SUS. Significa que sou a porta de entrada para que outras pessoas também façam. Em breve todos vão fazer. Daqui pra frente vida nova, liberdade e não deixarei de lutar pelos meus próximos. Inclusive estou reunindo nomes de quem deseja fazer procedimentos cirúrgicos do processo transexualizador”, ressaltou.

Como fazer procedimento no Tocantins?

A Gazeta do Cerrado entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-TO) buscando informações sobre o processo de mastectomia masculinizadora no Tocantins.

Perguntamos se há fila de espera e como homens trans podem conseguir ter acesso ao procedimento pelo SUS no Estado, mas até o fechamento desta reportagem, não fomos respondidos.

Mutirão para retificação de nomes

Acontece em Palmas nesta terça-feira, 28, o segundo mutirão para que pessoas transexuais e travestis façam a alteração dos nomes no registro civil.

Leia aqui sobre – MÊS DO ORGULHO! 2º mutirão para retificação de nomes de pessoas trans e travestis acontece amanhã em Palmas | Gazeta do Cerrado

A ação é realizada pelo Núcleo Aplicado das Minorias e Ações Coletivas (Nuamac) de Palmas em atuação conjunta com a 11ª Defensoria Pública da Fazenda Registros Públicos e de Precatória Cível de Palmas, com o apoio da Associação das Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins (Atrato).

Para o defensor público a realização do mutirão pela segunda vez consolida uma atividade permanente da DPE e direcionada ao público T.

“Para o Nuamac, a realização do 2º mutirão consolida uma atividade permanente e direcionada a esse grupo vulneráveis, especialmente na defesa intransigente do direito à identidade das pessoas trans. De modo que é um protocolo que a Defensoria adota e que certamente vai repercutir positivamente na vida dessas pessoas. Levando consigo a sua identidade psicológica, que é o mais importante para completar a dignidade desse grupo”, ressaltou o coordenador do Nuamac Palmas, defensor público Neuton Jardim dos Santos.

Byanca Marchiori presidente da Atrato diz que o mutirão é de extrema importância para a população trans no Tocantins, onde o preconceito ainda é muito latente.

“É importante esse mutirão para as pessoas trans e mostra a importância de ter o nome no RG para a população trans. Ter o nome nos documentos, é uma forma, mesmo que pareça pequena, de acabar um pouco com o preconceito. Com a retificação do nome, facilita muito a vida da pessoa trans. Por que a gente sabe que o preconceito ainda existe e aqui no Tocantins é muito e a gente vem lutando para quebrar essas barreiras”, explicou.

O que é mastectomia ou mamoplastia masculinizadora

Mastectomia é a retirada definitiva das mamas, adequando assim, a identidade de gênero do homem transexual. No Brasil, o procedimento ainda tem um alto custo e nem todo mundo consegue realizar. Pelo SUS, a espera para realizar os procedimentos podem chegar a quase oito anos.

Para quem tem plano de saúde, os planos são obrigados a cobrir o procedimento.

O procedimento também é realizado em pessoas que precisam retirar as mamas por conta do câncer.

Dia 28 de junho e resistência LGBTQIAPN+

O dia 28 de junho é uma data muito importante e marca um momento histórico e luta por dignidade e respeito para a comunidade LGBTQIAP+.

A data é celebrada no mundialmente e teve seu primeiro episódio encabeçado por uma travesti preta, Marsha P. Jonhson, logo depois de uma abordagem policial violenta contra pessoas que frequentavam o Bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, em 1969.

Marsha P. Jonhson – Foto – Netflix

Naquele dia 28 de junho, várias pessoas da comunidade reagiram à opressão da polícia que realizava uma séria e ‘batidas’ no local sem ter o menor motivo.  Equipes da polícia chegaram no bar e começaram a prender vários clientes, alegando ‘conduta imoral’, mas o real motivo era coagir os membros da Comunidade.

Na época, a batida em 1969 não seguiu o cronograma habitual esperado pelas forças policiais. Por conta da demora no transporte para levar as pessoas que haviam sido presas no bar, uma multidão começou a se aproximar e cercar os policiais. Há relatos de que eles ficaram cerca de 45 minutos paralisados, sem se mexer por medo das represálias.

Foto – Wikimedia Commons

A revolta teve início por volta das 1h e os policiais só conseguiram dispersar a multidão por volta das das 4h da manhã, após a chegada da Polícia Tática de Nova Iorque.

Os eventos que se seguiram até o próximo ano, em 1970, culminaram na primeira parada LGBT de Nova Iorque, que iniciou o trajeto no bairro de Greenwich e seguiu até o Central Park.

Foto – Wikimedia Commons

De lá pra cá foram mais de 50 anos e houveram muitos avanços, dos quais temos muito o que comemorar e nos orgulhar, mas também muito desrespeito que na maioria vezes são seguidos de violência verbal, psicológica, física e que levaram e levam muitos à mortes cruéis.

No Brasil nos últimos anos, o discurso conservador – que já era enorme –  ganhou mais notoriedade e visibilidade ainda, principalmente com discursos de alguns políticos, principalmente os que defendem a ‘família tradicional’.

Pra se ter ideia, o nosso país é um dos piores lugares para pessoas LGBTQIAP+ viverem e se fizermos o recorte para travestis e pessoas transexuais, os dados são ainda mais assustadores, tornando o Brasil, o local que mais se mata pessoas T no mundo pela 13ª vez consecutiva, segundo o levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

A média de vida de uma travesti no País é de apenas 35 anos e conforme a Antra publicou em janeiro de 2023, cerca de 151 pessoas trans morreram em 2022, sendo que deste total, 131 foram assassinadas e outras 20 tiraram a vida por não aguentar a pressão do “CIStema”.

Apesar do número de assassinatos ser um pouco menor do que 2021, o país segue sendo o que mais assassina pessoas trans e travestis, posto que ocupa há 14 anos consecutivos.

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