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Palmenses esgotam remédio usado para tratar piolho das farmácias para uso contra Covid; especialistas alertam

Nas farmácias de Palmas não há mais estoques do remédio ivermectina, usado para tratar piolhos. A Gazeta verificou que em pelo menos 12 farmácias o remédio se esgota no mesmo dia que chega e nesta segunda-feira, 06, por exemplo, não há estoque na maioria das farmácias.

Disseram que o medicamento é usado para Covid e com isso horas depois que chega aqui já acaba”, informou o atendente de uma farmácia.

Outro dono de farmácia da região central de Palmas disse que não há comprovação científica sobre a eficácia do medicamento, mas ainda assim as pessoas têm comprado o produto.

Quem precisa do medicamento para matar piolhos não tem encontrado. A ivermectina é administrada também por veterinários, para combate de pulgas e carrapatos em animais de estimação.

Wanda Pereira Almeida, que também faz parte do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas afirmou: “O mais absurdo é que algumas pessoas estão utilizando ivermectina como profilaxia, o que é pior ainda. Se tiver qualquer outro tipo de infestação ou infecção, a pessoa vai se tornar resistente. Então isso é uma besteira. Isso não se faz. Não se usa medicamento se não for por indicação terapêutica confirmada, comprovada”, disse.

Especialistas alertam para os riscos da automedicação.

A infectologista Paula Magalhães, adverte que o uso sem recomendação médica traz diversos riscos. Na bula do remédio, a diarreia, náusea, astenia, dor abdominal, anorexia, constipação e vômitos aparecem como reações adversas ao uso. Outros sintomas como tontura, sonolência, vertigem, tremor, prurido, erupções e urticária são destacados. Além das reações adversas, quem utiliza o remédio também pode sofrer com a interação medicamentosa com outras drogas.

A recomendação da coordenadora da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital Universitário Oswaldo Cruz é de que somente os pacientes que possuem prescrição façam uso da ivermectina. Paula alerta que, mesmo que um profissional de saúde decida recomendar o remédio para um paciente acometido com a Covid-19, um acompanhamento do tratamento precisará ser realizado pelo médico e responsável técnico do tratamento.

Um estudo, publicado na Antiviral Research e liderado por especialistas da Universidade Monash, demonstrou que uma dose única do medicamento Ivermectina pode interromper o crescimento do vírus SARS-CoV-2 na cultura de células.

O QUE DIZEM ESPECIALISTAS BRASILEIROS?

A otorrinolaringologista Maura Neves, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), explica que a Ivermectina é um antiparasitário que também tem ação contra o vírus, assim como a cloroquina. “Atualmente, a usamos para pediculose e escabiose. O estudo mostrou um teste em laboratório no qual o medicamento tem ação contra o Sars cov 2. Já há evidências de que a ivermectina tenha ação contra o vírus SV40, algumas proteínas do vírus da dengue, vírus da encefalite equina venezuelana e até influenza. Mas não age contra o zika vírus por exemplo. No entanto, a pesquisa prova apenas que ela atua contra o coronavírus atual e que diminui a replicação viral de maneira importante em 48 horas. O que se deve entender é que, até o momento, isso é uma evidência fraca para uso em humanos. Trata-se de uma possibilidade. Mas pode ser que, devido à pandemia, seja considerado em humanos antes que estudos robustos sejam feitos“, conclui.

Maju Cotrim – Gazeta do Cerrado

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