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Passagens multidestinos: como comprar de maneira correta

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Muitas de nossas viagens — à Europa, ao Peru, ao Chile, à Colômbia, à Patagônia Argentina — costumam ter várias paradas.

Nessas viagens, é muito comum comprar uma passagem aérea inadequada. A gente procura a passagem mais barata possível até o primeiro destino, e depois se vira para comprar os outros trechos. Daí quando chega ao último ponto do itinerário, tem que voltar lá de longe até o ponto inicial da viagem só para pegar o vôo de volta ao Brasil. E aquela passagem que parecia a mais econômica na hora que a gente comprou acaba sofrendo o acréscimo de todos os trechos internos — alguns deles, aéreos, que poderiam ter sido incorporados à passagem principal.

Neste post você vai ver como a passagem multidestinos (também apresentada como “múltiplos destinos”, “vários destino” ou “várias cidades”) pode rentabilizar a tarifa aérea para cobrir o máximo do seu itinerário.

No mínimo, você precisa comprar uma passagem multidestinos (ou várias cidades)com essa configuração:

Nunca compre passagem só até o Meio do Caminho

Quer entender por quê? Vamos pensar em termos domésticos.

Se você quisesse ir pra Fortaleza, compraria uma passagem aérea a João Pessoa só porque estava mais barata? Claro que não — você sabe que precisaria comprar uma passagem extra de ida e volta entre João Pessoa e Fortaleza, e isso ia ser caro e inconveniente.

Se fosse passar férias em Foz do Iguaçu, compraria passagem só até Curitiba porque é o único lugar do Paraná com vôos diretos desde a sua cidade? Evidentemente que não. Você sabe que, quando não existem vôos diretos, o certo é comprar um vôo com conexão, que será feita na cidade mais conveniente (pode ser em Curitiba, pode ser em São Paulo, em Brasília…)

Por que então, quando a viagem é internacional, fazemos isso o tempo todo? Não tem dia que não apareça na caixa de comentários alguém que comprou a passagem para o Meio do Caminho. “Como eu faço pra ir do Meio do Caminho até o Lugar Aonde Eu Quero Ir?”

Não há nada de errado em programar uma viagem por impulso por causa de uma passagem promocional que apareceu. Desde que essa passagem promocional seja efetivamente para o lugar para o Lugar Aonde Você Quer Ir. Se a passagem for para “um lugar perto” (o Meio do Caminho), segure o impulso um pouquinho. No mínimo, você precisa saber, ANTES de fechar o negócio, como é que se continua a viagem, e quanto custa essa continuação.

Tenha em mente que:

1) A continuação da viagem nunca sai de graça

Quando a gente descobre uma passagem até o Meio do Caminho está mais barata do que uma passagem até o O Lugar Aonde Você Quer Ir, esquece que a rota (ida e volta) entre os dois lugares não sai de graça. Mesmo que custe baratinho, a sua economia real já não seria aquela toda que você tinha na cabeça. Será que ainda vale a pena?

2) No exterior, 1 km tem os mesmos 1.000 metros daqui do Brasil

Pesquisando passagens aí na tela do seu computador, você tem a impressão de que, depois de voar 11 horas até o Meio do Caminho, fazer 400 km por terra até o O Lugar Aonde Você Quer Ir vai ser moleza. Não se iluda. 400 km é quilômetro pra caramba em qualquer lugar — seja de trem, de ônibus ou de carro (sem falar que dirigir depois de uma noite mal dormida é um perigo). Quanto precisa ser a economia para compensar o perrengue?

3) Passagens não-vinculadas são um problemão

Tá, você comprou a passagem promocional até o Meio do Caminho. Agora precisa continuar viagem no mesmo dia para o O Lugar Aonde Você Quer Ir. Pra que horas você compra esse outro vôo? Difícil estabelecer. É preciso prever um intervalo seguro entre os vôos, porque se o primeiro vôo atrasar, você perde o segundo, sem choro nem vela nem assistência de nenhuma das duas cias. aéreas envolvidas, que vão alegar não ter nada a ver com a outra passagem. (Comprar um novo bilhete na hora pode sair mais caro do que a sua passagem do Brasil.) Marcar esse segundo vôo com segurança significa se auto-impor um chá de banco no aeroporto ou na estação ferroviária. E não é só. No trajeto de volta a coisa é ainda mais tensa: não pode dar nenhum chabu no seu primeiro vôo, senão pode perder o vôo de retorno ao Brasil e aí ir à falência no fim da viagem. É preciso calcular se a economia vale o risco e o stress.

Tela a tela: como comprar passagens multidestinos

Veja como pesquisar a passagem múltiplos destinos/várias cidades numa agência online. Neste exemplo, vou usar nosso parceiro Viajanet — mas dá para fazer em qualquer uma que tenha esta funcionalidade.

Vamos tomar como exemplo uma viagem de 11 dias a Amsterdã e Berlim, entre 26 de setembro e 7 de outubro de 2017, saindo de São Paulo.

A pesquisa de preços foi feita no dia 29 de abril de 2017.

Vamos fazer 3 simulações:

Pesquisa 1: ida e volta pela mesma cidade

O primeiro impulso de um viajante que quer viajar a Amsterdã e Berlim é comprar uma passagem ida e volta a Amsterdã, por causa dos vôos diretos desde o Brasil, e deixar para ver depois como vai e volta de Berlim. Certo?

A menor tarifa encontrada, no dia em que pesquisei, para vôos sem conexões malucas, foi de R$ 3.800, pela KLM — algo como 1.180 dólares, já com taxas. É uma tarifa normal, nem cara nem promocional. E tem a vantagem de usar vôos diretos de São Paulo a Amsterdã. (Dava para economizar até R$ 1.000, ou 300 dólares, em viagens de mais de 24 horas ou com duas conexões ou via Estados Unidos. Mas a economia não vale o perrengue — um simples pernoite num hotel numa conexão prolongada já come metada da economia.)

Fechado em R$ 3.800? Calmaê. E o trecho Amsterdã-Berlim-Amsterdã, vai ficar fora da conta?

Vamos orçar.

Deu mais R$ 585, somando R$ 4.357. Incluindo tudo?

Não. A tarifa em classe econômica da KLM para vôos dentro da Europa não dá direito a bagagem. Você vai ter que comprar o despacho de bagagem à parte. Se for uma mala de até 23 kg, pagará 25 euros (R$ 88) online ou 35 euros (R$ 122). Levando uma mala de até 23 kg, temos que acrescentar então 50 euros (R$ 166). Total: R$ 4.551.

Ao optar por essa combinação de duas passagens ida e volta separadas, é preciso prestar atenção redobrada no horário dos vôos. A combinação desta pesquisa é arriscada: o vôo Berlim-Amsterdã chega às 7h20, e o Amsterdã-São Paulo sai às 10h10. Como estão em reservas separadas, mesmo sendo vôos da mesma cia. (a KLM), em princípio você precisaria retirar as bagagens ao chegar em Amsterdã e redespachar no check-in. A situação só ficaria tranqüila se você conseguir ligar as duas reservas no atendimento ao cliente — mas não é garantido. Se fossem companhias diferentes, não haveria a menor possibilidade disso acontecer. Quando os vôos não estão vinculados na mesma reserva, sob um mesmo código localizador, não fica caracterizado um itinerário. Se o primeiro vôo atrasar e você perder o segundo, terá que pagar multa e diferença tarifária para remarcar a continuação da viagem.

Na maioria dos casos será mais ajuizado fazer esse trajeto em dois dias: voar à cidade onde começa o seu vôo de volta (Amsterdã, neste caso) na véspera da partida.

Pesquisa 2: ida por uma cidade e volta por outra

Esta costuma ser a melhor opção para itinerários em que os trechos internos sejam feitos por trem ou carro. Ou para quando você encontra uma passagem aérea ‘interna’ muito barata entre o destino inicial e o final da viagem.

A mesma cia. que ofereceu a melhor tarifa ida e volta a Amsterdã, a KLM, também ofereceu a melhor tarifa na modalidade ‘vários destinos’ do Viajanet. A ida de São Paulo a Amsterdã, com volta de Berlim a São Paulo, deu R$ 3.891 — apenas R$ 91 mais caro que a ida e volta a Amsterdã.

De cara, você já economiza perrengão: o vôo de Berlim a Amsterdã está vinculado ao vôo de Amsterdã a São Paulo. Você já sai de Berlim com o cartão de embarque do vôo Amsterdã-São Paulo na mão, e as bagagens vão direto pro Brasil. E como os vôos são vinculados no mesmo localizador de reserva, a cia. se responsabiliza se você perder o segundo vôo por atraso do primeiro.

Vamos orçar o trecho que falta, Amsterdã-Berlim?

O vôo só de ida Amsterdã-Berlim estava meio caro (R$ 437, mais R$ 88 para uma bagagem), mas se você encarar 6h15 de trem, paga só 39 euros (R$ 137) na tarifa descontada da Deutsche Bahn. A reserva de assento sai mais 4 euros (R$ 14). A bagagem não paga. Total da passagem de trem com reserva de assento: R$ 151. Total da multidestinos com ida de São Paulo a Amsterdã, volta de Berlim a São Paulo, e trem entre Amsterdã e Berlim: R$ 4.042. Ou… R$ 500 mais barato que a ida e volta São Paulo-Amsterdã-São Paulo com ida e volta Amsterdã-Berlim-São Paulo! Não falei que a múltiplos destinos era um bom negócio?

Pesquisa 3: multidestinos com vários trechos incluídos

Vamos agora à pesquisa da passagem multidestinos/várias cidades completa. Dá para incluir até 5 trechos na mesma passagem.

Como? Use este comando aí de cima, e o motor de busca vai criar mais trechos.

COMO ASSIM? A passagem completa, incluindo os três trechos, São Paulo-Amsterdã, Amsterdã-Berlim, Berlim-São Paulo está saindo R$ 3.877? Só 77 reais mais caro que a passagem simples ida e volta São Paulo-Amsterdã-São Paulo? E 500 reais mais barato do que comprar separadamente São Paulo-Amsterdã-São Paulo e Amsterdã-Berlim-Amsterdã? (Mesmo que você faça os trechos Amsterdã-Berlim-Amsterdã de trem, ainda assim esta múltiplos destinos será 300 reais mais barata.)

Sim, senhoras e senhores passageiros, nessa simulação, nessa data e nesses destinos, a ‘passagem interna’ está saindo de graça.

Acontece sempre? Não. Quando a cia. mais barateira das pesquisas 1 (ida e volta simples) e 2 (multidestinos com ida por um destino e volta por outro, sem outros trechos) tem ‘hub’ numa terceira cidade, é provável que não mantenha a tarifa camarada na pesquisa 3 (multidestinos completa). Por exemplo: se a Alitalia fosse a cia. mais barateira nas pesquisas 1 e 2 (com vôos a Amsterdã e Berlim via Roma), não conseguiria igualar a tarifa na pesquisa 3 (multidestinos completa), porque não tem nenhuma parceira que faça a rota entre Amsterdã e Berlim. Neste caso, depois de feitas as contas do(s) trecho(s) interno(s) é provável que a tarifa mais camarada seja a da pesquisa 2 (multidestinos com ida por uma cidade e volta por outra).

Esse macete também vale em promoções?

Sim! A modalidade multidestinos rentabiliza qualquer tarifa. Se você vai fazer uma viagem picada pela Europa, nunca deixe de realizar as três pesquisas. Na imensa maioria dos casos, a opção 2 (multidestinos com ida por um destino e volta por outro) será mais vantajosa que a 1 (ida e volta simples, voltando ao primeiro destino para voar de volta ao Brasil). E em alguns casos a campeã será a opção 3 (multidestinos completa).

Considerações finais

Monte o itinerário antes

Monte o itinerário antes: é a única maneira não só de simular a passagem multidestinos, como também de descobrir quanto vai custar a continuação da viagem se for comprada à parte.

Faça sempre essas três pesquisas:

Com o itinerário montado, faça essas três pesquisas para comparar os resultados:

É bastante provável que a multidestinos seja a melhor passagem para sua viagem picada. Mas você só saberá se pesquisar.

Evite conexões entre vôos desvinculados

Caso encontre uma pechincha realmente imperdível que obrigue você a voltar ao primeiro destino para pegar o vôo de volta, chegue pelo menos na véspera. Vôos desvinculados são uma fonte desnecessária de stress.

Confira o tempo de espera nas conexões

Às vezes uma passagem está 100 ou 200 dólares mais barata, mas envolve ficar 8, 10, 16 horas num aeroporto (normalmente, na volta). Vai por mim: não há economia que valha esse perrengue. Verifique bem o itinerário antes de bater o martelo.

Fonte: Viaje na Viagem

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