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Pela maior inclusão de fornecedores indiretos nos sistemas de rastreabilidade da cadeia da carne

Pedro Burnier é gerente do Programa de Cadeias Agropecuárias da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira e coordenador do Grupo de Trabalho dos Fornecedores Indiretos (GTFI).

Pedro Burnier é gerente do Programa de Cadeias Agropecuárias da ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e coordenador do Grupo de Trabalho dos Fornecedores Indiretos (GTFI).

Por Pedro Burnier

A modernização da pecuária brasileira tem resultado em inúmeros benefícios sociais, com a geração de emprego e renda, e de competitividade, que incluem maior produtividade, mais qualidade e melhor rentabilidade ante a competidores internacionais. Entretanto, o setor percebeu que para manter o crescimento em um mercado globalizado, é preciso trazer para a discussão os fornecedores indiretos que, por serem produtores de bezerros, são peça-chave no sistema produtivo nacional.

O fato de não haver um sistema de rastreabilidade eficiente dos indiretos no segmento culminou em um ponto cego na cadeia de fornecimento. Como resultado, criaram-se riscos em termos de conformidade legal e dúvidas sobre a origem do gado, prejudicando sua comercialização no mercado nacional e internacional.

As consequências negativas advindas dessa não inclusão dos fornecedores indiretos no monitoramento de compras e nos sistemas de rastreabilidade afetam não apenas os frigoríficos, mas também todos os atores da cadeia, como a indústria de processamento da carne, varejistas, investidores e até o consumidor final. São riscos considerados desnecessários e que podem ser mitigados, resultando em transparência, conservação ambiental e assegurando a existência de crédito e investimentos para o mercado.

Nesse sentido, a indústria, o governo e organizações não governamentais (ONGs) reconheceram que era importante encontrar soluções de rastreabilidade viáveis. Porém, não havia um fórum dedicado para reunir as partes interessadas com uma abordagem clara e orientada para a solução.

Desse modo, foi criado o Grupo de Trabalho de Fornecedores Indiretos (GTFI), principal fórum para debater essas questões, visando, justamente, contribuir para o avanço de soluções viáveis e modernas, garantindo a inclusão dos fornecedores indiretos nos sistemas de gerenciamento da cadeia de suprimentos. Assim, a indústria pode continuar seu desenvolvimento e seu crescimento, ao mesmo tempo em que oferece resultados positivos tanto em termos sociais como ambientais e econômicos.

Reunindo os diversos stakeholders da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil, o GTFI tem como objetivos principais a identificação, desenvolvimento e apoio à implementação de soluções de rastreabilidade para fornecedores indiretos; e a comunicação de desafios, oportunidades e progresso em direção à rastreabilidade dos fornecedores indiretos.

O GTFI vem se dedicando ao tema há mais de quatro anos e, recentemente, alguns de seus membros estão lançando projetos e programas de aprimoramento de seus processos de rastreabilidade e de gestão da cadeia de fornecimento a fim de cumprir seus compromissos e assegurar a origem e procedência do gado adquirido. Ou seja, incluir os fornecedores diretos e indiretos (fazendas de cria, recria e engorda, por exemplo) nos sistemas de compra que subsidiam a tomada de decisão, ajuda a entender as dinâmicas complexas e a encontrar soluções.

A área de investimentos no Brasil também está atenta para o desenvolvimento sustentável de áreas importantes para a conservação, como o bioma Amazônia, por exemplo, e os investidores internacionais perceberam que ativos que tenham a conservação do meio ambiente como prioridade são mais rentáveis e perenes.

Esses dois exemplos reforçam como é imprescindível a inclusão dos fornecedores indiretos da cadeia da carne em sistemas de monitoramento. Isso porque a maior transparência e rastreabilidade levará toda a cadeia produtiva a um novo patamar, elevando a competitividade do produto nacional, contribuindo para a ampliação dos negócios internacionais e estabelecendo uma maior conexão com as demandas do consumidor final e dos investidores.

Contudo, para que esse movimento ganhe ainda mais força, é preciso comunicar aos consumidores, investidores e à sociedade em geral o progresso que está sendo feito. O envolvimento desses atores é fundamental para que esteja claro o posicionamento do Brasil ante ao fornecimento de alimentos seguros, a conservação ambiental e a transparência em todo o processo produtivo da carne. Nesse sentido, o site do GTFI (https://gtfi.org.br/o-gtfi/), que acaba de ser lançado, traz uma série de informações atualizadas sobre o tema.

Para alcançar esses objetivos, o uso de tecnologias será essencial. E o Brasil está bem posicionado nessa área, ao contar com sistemas de informação, que podem ser implantados de forma inteligente e segura, a fim de fornecer as soluções de rastreabilidade necessárias para uma produção responsável e mais sustentável. Isso pode ser realizado de uma maneira eficiente, sem custos adicionais ou encargos aos produtores rurais, protegendo a privacidade pessoal e garantindo medidas robustas de controle sanitário.

Somada a outras tecnologias inovadoras, como plataformas de blockchain, a indústria pode liderar em nível global esse movimento por maior transparência e reconhecimento, ampliando a rentabilidade do setor. E o GTFI trabalha justamente para incentivar o uso de soluções que beneficiam toda a cadeia produtiva.

 

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