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Pela primeira vez, Facebook perde usuários e publicidade; Instagram e Twitter crescem

(Facebook)

Autor do best-seller Sapiens: uma breve história da humanidade e um dos pensadores de referência da atualidade, o israelense Yuval Noah Harari afirmou em uma de suas concorridas palestras que o Facebook atingiu um nível de poder jamais alcançado por qualquer outra empresa ou país. O interessante é que essa força descomunal da nova era está agora em xeque. Acusado de disseminar notícias falsas, as fake news, o Facebook vem perdendo espaço nas duas frentes que são responsáveis por sua supremacia: número de usuários e publicidade.

Levantamento da consultoria americana eMarketer mostrou que 2017 foi o pior ano da rede social, criada por Mark Zuckerberg em 2004. Nos Estados Unidos e no Canadá, a plataforma perdeu 2,8 milhões de usuários com menos de 25 anos. Para o Facebook não poderia haver dado mais alarmante. Significa que os jovens, aqueles que garantem a sobrevivência das empresas digitais no futuro, começaram a abandonar a rede de Zuckerberg.

Pior ainda: quanto mais jovem for o usuário, maior é a chance de ele trocar de mídia. Em 2017, o número de adolescentes entre 12 e 17 anos que cancelaram seus perfis aumentou 9,9%.

O declínio entre os jovens começou a ser observado em 2016 e análises mensais mostram que a tendência é crescente. Segundo o balanço do quarto trimestre de 2017, todos os usuários do Facebook no mundo gastaram 50 milhões de horas a menos por dia na rede social. Detalhe: a redução foi puxada pela turma com menos de 25 anos. E nada indica que a situação irá mudar.

“A dura realidade é que o Facebook ficou chato e velho para a garotada”, diz Eduardo Tancinsky, consultor especializado em marcas e tecnologia. “Quando uma rede social deixa de ser cool, ela perde a capacidade de seduzir os mais jovens. O cara não quer saber de participar de algo que não está mais na crista da onda.”

Ter deixado de ser cool não é o único problema do Facebook. Talvez seja o menor deles. A rede social se tornou o meio mais eficiente para disseminar mentiras. Qualquer usuário, em qualquer lugar do mundo, pode inventar histórias e publicá-las como verdadeiras.

As fake news podem ter efeitos devastadores. Na eleição presidencial dos Estados Unidos, ajudaram a destruir a reputação de Hillary Clinton, a oponente de Donald Trump. Um post popular, e mentiroso, publicado nas redes sociais às vésperas da eleição dizia que Hillary participava de seitas satânicas.

O romancista italiano Umberto Eco definiu a questão em um comentário que se tornou famoso. Nunca é demais recorrer a ele: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

A incapacidade do Facebook de coibir, ou pelo menos frear, a propagação de mentiras pode custar caro. Há alguns dias, a multinacional britânica Unilever, a segunda maior anunciante global, ameaçou cancelar suas propagandas no Facebook e no Google se não houver mais transparência no combate às fake news. No ano passado, a americana Procter & Gamble, campeã mundial em anúncios, cortou US$ 100 milhões em marketing digital pelos mesmos motivos.

Facebook e Google funcionam como uma espécie de duopólio digital. De acordo com a consultoria eMarketer, os dois detêm 50% da publicidade mundial na internet, predominância jamais alcançada por qualquer empresa, de qualquer ramo de atividade. “Mas o Facebook agora está sendo vítima de seu próprio poder”, diz o consultor Eduardo Tancinsky. “A mesma internet que tornou Zuckerberg um mito global começa a colocá-lo contra a parede.”

Instagram e Twitter crescem 
Enquanto o Facebook enfrenta a maior crise de sua história, Mark Zuckerberg tem um consolo com os resultados do Instagram, também controlado por ele. Projeções da consultoria eMarketer mostram que o número de usuários da rede social de fotos e vídeos crescerá 13% em 2018. No Twitter, também há motivos para comemorar. No quarto trimestre de 2017, a rede lucrou R$ 297 milhões, o melhor desempenho desde que foi fundada, há 12 anos. O motivo, segundo a empresa, é o aumento substancial das vendas de anúncios em vídeo.

Por Amauri Segalla

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