Tragédia na divisa dos estados é apurada por órgãos federais, municipais e estaduais. Imagens flagraram o exato momento da queda no domingo (22).
Dois dias após o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, entre Tocantins e Maranhão, 16 pessoas continuam desaparecidas nesta quarta-feira (24), segundo as autoridades dos dois estados. Uma pessoa morreu.
Veja, abaixo, o que se sabe e o que falta saber sobre o acidente:
1. Como foi o desabamento?
A ponte caiu no domingo (22) por volta das 14h50. A estrutura fica na BR-226 e liga as cidades de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA). Pessoas que estavam nas proximidades conseguiram filmar o momento exato em que a ponte caiu.
Em uma das imagens, o vão central da ponte de Estreito, como é popularmente conhecida, desabou de uma vez, causando muita fumaça com o impacto da poeira dos escombros com a água. Na água, depois do desabamento, é possível ver parte das cargas boiando.
Equipes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) continuam avaliando as circunstâncias que levaram ao colapso.
Imagens aéreas feitas após a queda da ponte mostraram a situação do que restou. Carros e caminhões ficaram presos sem poder seguir viagem devido à estrutura comprometida. Um dos veículos ficou preso em uma fenda que se abriu no asfalto.
2. Quais veículos passavam no momento da queda?
Conforme a Polícia Militar do Tocantins, dez veículos foram parar nas águas do Rio Tocantins no momento do colapso da ponte.
Entre os veículos estão motos, carros de passeio, caminhonetes e três caminhões com cargas de ácido sulfúrico, defensivos agrícolas e material de MDF (fibras de madeira e resina sintética para fabricação de móveis).
3. Quem são as vítimas?
A motorista de caminhão Andreia Maria de Souza caiu no rio após ponte desabar. — Foto: TV Globo/Reprodução
Até a noite desta segunda-feira (23), houve a confirmação de um corpo localizado. A vítima é Lorena Ribeiro Rodrigues, de 25 anos. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que ela é natural de Estreito (MA), mas mora em Aguiarnópolis (TO).
Um homem de 36 anos foi encontrado com vida por moradores e levado ao hospital de Estreito. Até a noite de segunda-feira, foram identificados 16 desaparecidos, sendo 13 adultos e 3 crianças.
Entre os desaparecidos está a caminhoneira Andreia Maria de Souza, de 45 anos. Ela dirigia uma carreta carregada com ácido sulfúrico e ainda não foi localizada. O marido de Andreia, José de Oliveira Fernandes, contou em entrevista que encontrou a mulher na estrada pouco tempo antes da ponte ceder, porque o caminhão dele apresentou problemas.
“Companheira de estrada. Uma pessoa maravilhosa, companheira mesmo. Nossa, dói muito perder uma pessoa assim. Não sei nem o que dizer. Para mim, ela ainda está viva, não está debaixo d’água não. Passei a noite acordado, vim para cá de madrugada, fiquei olhando para ver se via alguma coisa. E não vi nada. É muito difícil”, disse emocionado em entrevista.
Conforme a empresa responsável pela carga, Andreia saiu de Arraias e seguia para Barcarena, no Pará. José de Oliveira disse que a esposa queria chegar na divisa do Pará ainda no domingo, mas segue desaparecida.
4. Como é o trabalho de resgate?
Logo após a ponte ceder, bombeiros de Araguaína e mergulhadores de Palmas se deslocaram para o local do acidente. As buscas por possíveis sobreviventes começaram com embarcações fazendo varreduras na superfície e aferindo a profundidade do Rio Tocantins no ponto onde caíram os escombros.
Como os caminhões submersos continham cargas perigosas, como o ácido sulfúrico e defensivos, no domingo e na segunda-feira não foi possível liberar mergulhadores para fazerem as buscas.
Amostras da água foram recolhidas por órgãos ambientais federais e mergulhadores da Marinha também vão ajudar nas buscas por vítimas no Rio Tocantins. A informação foi divulgada pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, na tarde desta segunda-feira. Ele disse que teve o pedido por reforços atendido pelo almirante Marcos Olsen, comandante da Marinha.
Com relação à estrutura, o DNIT informou que técnicos atuam emergencialmente desde o primeiro momento e já foram enviados ao local para fazer uma avaliação e apontar as possíveis causas do acidente.
5. Qual era a situação da ponte?
A ponte JK, ou de Estreito, tinha 533 metros de extensão e foi construída ainda na década de 1960. Diante de problemas estruturais, moradores tanto da cidade tocantinense como da maranhense denunciavam a situação.
No momento que a ponte cedeu, na tarde de domingo, o vereador de Aguiarnópolis, Elias Junior (Republicanos) estava fazendo um vídeo do local justamente para cobrar dos órgãos competentes soluções para a ponte que liga os estados.
Segundo o vereador, a ponte estava sem manutenção e se deteriorando com o grande fluxo de veículos de carga que trafegavam diariamente por ela. Durante a gravação, ele e outras pessoas que estavam no local escutaram barulhos e a ponte cedeu.
Em entrevista ele contou que está em choque e que estava no local para gravar imagens sobre as condições precárias.
“A gente veio mostrar a situação que está preocupante. Muitas pessoas estavam falando sobre as rachaduras que tinham nela. Eu vim mostrar, só que não imaginava que naquele momento da filmagem a ponte ia cair. Eu ainda estou em choque, sem acreditar. Eu filmei para cobrar as autoridades competentes e foi bem na hora que caiu. A gente saiu desesperado com a mão na cabeça”, relembrou o vereador.
Ponte que liga Maranhão a Tocantins desaba — Foto: g1
Um morador da margem maranhense da ponte também fez imagens da situação da ponte, no sábado (21). Ele mostrou rachaduras e buracos na estrutura. A ponte Juscelino Kubitschek faz parte do corredor rodoviário Belém-Brasília.
“Já pensou se essa ponte cai? Já pensou o estrago que faz pros dois municípios?”, disse ele em um vídeo publicado na internet.
Questionado sobre as reclamações da estrutura, o DNIT informou que entre novembro de 2021 e novembro de 2023 manteve um contrato de manutenção das vigas, laje, passeios e pilares de estrutura no valor de R$ 3,5 milhões.
Já outro contrato, com vigência até julho de 2026 “prevê a execução de serviços para melhorar a trafegabilidade e dar mais segurança”. O departamento disse que, em maio de 2024, lançou um edital de quase R$ 13 milhões para contratação de empresa para obras de reabilitação da ponte, mas nenhuma empresa venceu o certame (veja íntegra da nota abaixo).
6. Como fica o trânsito entre Tocantins e o Maranhão?
Desde o momento da ocorrência a Polícia Rodoviária Federal (PRF) está controlando trânsito na região e dando rotas alternativas para quem precisaria passar pela ponte. Confira:
– Sentido Belém/Brasília via Imperatriz/MA
Pela BR-010, sentido Belém/Brasília, em Imperatriz/MA, entrar à direita no km 249,6, na rotatória; atravessar a Ponte Dom Affonso Felippe Gregory; continuar pela TO-126 até Sítio Novo do Tocantins/TO; seguir para Axixá do Tocantins/TO pela TO-201; continuar pela TO-134 para São Bento do Tocantins/TO, seguir pela BR 230 para Luzinópolis/TO e, então, Aguiarnópolis/TO; acessar a BR-226 e seguir em direção a Brasília/DF.
– Sentido Brasília/Belém via Aguiarnópolis/TO
Em Aguiarnópolis/TO, seguir pela BR-230 em direção a Luzinópolis/TO e São Bento do Tocantins/TO; seguir em direção a Axixá do Tocantins/TO, continuando pela TO-134; seguir pela TO-201 até Sítio Novo do Tocantins/TO; continuar para Imperatriz/MA pela TO-126; atravessar a Ponte Dom Affonso Felippe Gregory; acessar a BR-010 e seguir em direção a Belém/PA.
– Alternativa para quem segue de Balsas/MA a Brasília/DF
De Balsas/MA, seguir para Carolina/MA; realizar a travessia do Rio Tocantins na balsa para Filadélfia/TO; seguir pela TO-222 até Araguaína/TO; acessar a BR-153 e seguir em direção a Brasília/DF.
– Alternativa para quem segue de Brasília/DF a Balsas/MA
Em Araguaína/TO, seguir pela TO-222 até Filadélfia/TO; realizar a travessia do Rio Tocantins na balsa para Carolina/MA; seguir pela BR-230 para Balsas/MA.
7. Quais as medidas do governo?
Bombeiros já estão fazendo buscas na região da ponte entre o Tocantins e o Maranhão — Foto: Divulgação/Bombeiros
O ministro dos Transportes, Renan Filho, anunciou durante coletiva de imprensa um decreto de estado de emergência por causa do desabamento da plataforma e disse que irá destinar mais de R$ 100 milhões para garantir a reconstrução imediata da ponte.
O ministro também disse que foi aberta “uma sindicância para avaliar as causas e as responsabilidades do desabamento da ponte Juscelino Kubitschek entre os estados do Maranhão e Tocantins”.
O governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), além de determinar o apoio nas buscas por meio das forças de segurança do estado, decretou luto oficial de três dias no estado, em memória das vítimas. A medida entrou em vigor nesta segunda-feira (23).
O decreto nº 6.881 sobre o luto oficial foi publicado em edição especial do Diário Oficial (DOE).
8. Quais os danos ambientais da tragédia?
Por causa dos caminhões que caíram da ponte com cargas tóxicas, o Governo do Tocantins emitiu um alerta para os moradores de Aguiarnópolis, região do extremo norte, que evitem contato com a água do Rio Tocantins.
De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado Do Tocantins (Semarh), as cargas podem ter gerado alto risco à saúde pública e ao meio ambiente, com a contaminação da água.
O alerta é para dez municípios do Tocantins e oito do Maranhão, que estão nas áreas margeadas pelo Rio Tocantins
Além disso, o Ministério Público Federal (MPF) começou a investigar os possíveis problemas ambientais que podem ocorrer devido às cargas de ácido sulfúrico e defensivos agrícolas submersos e outras consequências causadas pela queda da ponte.
A investigação continua em fase inicial e se concentrará na apuração das causas do desabamento, nos danos ambientais resultantes da queda dos caminhões e nos impactos sobre a fauna, flora e abastecimento de água da região. O objetivo é assegurar a responsabilização dos envolvidos e a reparação dos danos, garantindo assim a proteção do meio ambiente e a segurança da população local.
Ponte entre Maranhão e Tocantins desaba sobre rio — Foto: Arte/g1
(Fonte: g1 Tocantins)