Com menos doses importadas do que pessoas que precisam tomar a vacina na primeira fase de imunização, o Ministério da Saúde iniciou a distribuição das vacinas nesta segunda-feira (18). Das 8 milhões de doses garantidas pelo governo, 6 milhões já percorrem o Brasil e outras 2 milhões aguardam transporte da Índia.
Para começar a vacinar a população, as doses da CoronaVac saíram de São Paulo, onde estavam armazenadas, e precisam enfrentar até cinco etapas de viagens pelo país: até o centro de distribuição logístico de Guarulhos, depois para os centros estaduais, regionais e municipais para só então serem enviadas aos postos de vacinação.
O procedimento será o mesmo aplicado às doses da vacina de Oxford e da AstraZeneca quando elas chegarem ao Rio de Janeiro.
A logística para entregar as milhões de doses aos mais de 5,5 mil municípios do Brasil é semelhante à já utilizada em outras campanhas de vacinação, por meio da estrutura do Programa Nacional de Imunização (PNI), com o suporte de caminhões-baú refrigerados, para o transporte terrestre aos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e do auxílio de voos para as regiões Norte e Nordeste.
Como é a distribuição
União, estados e municípios compartilham etapas da distribuição da vacina, capitaneados pelo Ministério da Saúde.
Antes da aprovação do uso emergencial das vacinas neste domingo (17), as doses importadas ficaram armazenadas na sede do Butantan. Depois da liberação, 4,6 milhões delas seguiram para o Centro de Distribuição Logístico do Ministério da Saúde, que fica na cidade de Guarulhos, perto do aeroporto internacional. Outras 1,3 milhão ficaram já na cidade de São Paulo e serão distribuídas para outros municípios pelo governo estadual.
Ao chegar no centro, as amostras precisam passar por um controle de qualidade e são divididas em lotes estaduais. Depois de analisadas, elas foram enviadas para os centros estaduais, que ficam em cada uma das 27 capitais. As viagens aos estados são feitas de duas maneiras:
Por avião: as regiões Norte e Nordeste recebem o material por aviões de carga, operados por quatro empresas comerciais;
Por caminhão: as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste recebem as vacinas por caminhões frigoríficos. Os veículos também são usados para fazer o transporte dentro dos próprios estados.
Uma vez nos centros estaduais, as secretarias de saúde ficam encarregadas de separar as quantidades de doses que cada cidade vai receber e enviá-las para os centros regionais.
A partir dos polos, as vacinas são enviadas para os municípios. Nesta etapa, o controle da distribuição passa para as prefeituras.
Em algumas regiões, a entrega só pode ser feita por barcos. No Amazonas, 33 dos 62 municípios precisam do auxílio de embarcações para a entrega das doses, que ficarão sob responsabilidade da Marinha e do Exército. As secretarias de saúde do Acre e do Mato Grosso também preveem a utilização de transporte aquático. Outros estados com áreas de difícil acesso, como Mato Grosso e Rondônia, optaram pelo transporte aéreo.
Nestes casos, os barcos têm geradores para garantir a refrigeração das bobinas reutilizáveis ambientadas. Essas bobinas são as responsáveis por manter as temperaturas das caixas térmicas que guardam as doses de imunizante.
O transporte das vacinas até os centros estaduais pode levar de 1 a 5 dias, dependendo de dificuldades de voo ou algum problema no trajeto terrestre. Mas o que mais leva tempo é o transporte até as salas de vacinação. Segundo Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Plano Nacional de Imunizações, esse processo pode demorar até 15 dias em localidades de difícil acesso.
Além das 38 mil salas existentes, vários estados preveem expandir os pontos de vacinação e incluir escolas, estádios, igrejas e outros locais improvisados. Até a modalidade de drive-thru, quando a vacina é aplicada dentro dos carros, foi considerada como alternativa em alguns estados: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo.
No Tocantins, secretaria estadual de saúde agora realiza a conferência dos lotes e também faz o lançamento no sistema do Ministério da Saúde, só depois é que as vacinas devem ser distribuídas para os municípios
Refrigeração
As duas vacinas precisam ser armazenadas em refrigeradores com temperaturas que variam entre 2°C e 8°C. Nessas condições, as vacinas podem durar até seis meses. A temperatura é a padrão para outros imunizantes já utilizados no Brasil.
Os centros por onde as vacinas passam têm área de refrigeração com essas especificações. Durante o transporte, a temperatura é mantida por meio de caixas térmicas com bobinas reutilizáveis ou câmaras refrigeradas. E, nos postos de vacinação, são armazenadas em freezers comuns.
Depois de abertos os fracos, que costumam guardar 10 doses cada, o material dura até seis horas. Nos postos de vacinação improvisados, como estádios de futebol e escolas, a refrigeração é feita por meio de geladeiras comuns, diz o microbiologista Luiz Almeida, coordenador de projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência.