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Princesa quebra tradição e concorre a premiê na Tailândia

O partido opositor à junta militar da Tailândia, o Thai Raksa Chart, apresentou nesta sexta-feira (08/02) a princesa Ubolratana, de 67 anos, como sua candidata a primeira-ministra nas eleições de 24 março, as primeiras após o golpe de Estado de 2014.

O Thai Raksa Chart é ligado ao ex-premiê Thaksin Shinawatra, cujo governo foi deposto no golpe e cujo grupo político venceu todas as eleições ocorridas desde 2001.

A indicação da irmã mais velha do rei Vajiralongkorn pegou os círculos políticos tailandeses de surpresa, pois quebra uma longa tradição da família real de se manter fora da política. Não está claro se ela tem a aprovação do rei e irmão, apesar de analistas darem isso como certo.

Ubolratana é muito popular na Tailândia e tem mais de cem mil seguidores no Instagram. Ela atuou em três filmes e gravou vários discos. Ela também causou comoção entre a população ao perder o único filho, que era autista, num tsunami em 2004.

Mesmo no exílio, Thaksin Shinawatra ainda influencia política tailandesa.

A princesa vai concorrer contra o líder da junta militar, o primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha, que anunciou sua candidatura também nesta sexta-feira, minutos depois dela, pelo Phalang Pracharat, partido liderado por vários ex-ministros do seu governo.

Oficialmente, a princesa perdeu seu título real quando se casou com um americano, em 1972. Ela retornou à Tailândia no fim dos anos 1990, depois de se divorciar. Apesar de não ter recuperado seu título original, ela é vista e tratada como um membro da realeza pela população tailandesa.

O Thai Raksa Chart destacou a vida de plebeia de Ubolratana nos Estados Unidos, após renunciar ao título real, em 1972, e seu trabalho em vários projetos sociais desde que retornou à Tailândia.

“Ela concluiu que é hora de se voluntariar para servir como primeira-ministra, ajudar o país e as pessoas usando os conhecimentos e habilidades adquiridos ao longo dos anos em vários aspectos, tanto em nível local, como no exterior”, acrescentou.

No mês passado, a junta militar convocou as eleições após vários atrasos e depois de mais de quatro anos no poder, período em que aprovou uma Constituição que restringe a margem de manobra dos governos eleitos.

Analistas veem a decisão com cautela e afirmam que ela pode complicar ainda mais a situação política no país asiático. Uma das complicações é que adversários poderão se sentir desencorajados a criticar a princesa e seu partido devido ao grande respeito que os tailandeses têm pela monarquia e também devido à lei de lesa-majestade, que proíbe críticas e insultos à família real. Apesar de a lei não valer mais para Ubolratana, tudo pode ser uma questão de interpretação.

A indicação também sinaliza que a aliança entre a família real e os militares pode estar em risco e que pode estar havendo uma reaproximação entre o palácio real e o clã Shinawatra, depois de anos de hostilidade.

Um perdão real para Thaksin e sua irmã Yingluck Shinawatra se tornaram uma possibilidade, segundo observadores. Os dois foram depostos em golpes militares (ele em 2006, ela em 2014) e sentenciados à revelia por corrupção e uma política fracassada de subsídios ao arroz. Ambos vivem num exílio autoimposto.

Thaksin, um bilionário odiado pelos militares e pela elite de Bagcoc, é adorado pela população rural por causa de suas políticas para saúde, educação e de bem-estar social.

A dinastia Chakri rege a Tailândia desde 1872. Desde 1932, o país é uma monarquia constitucional. A família real tem uma enorme influência no país. O antigo rei Bhumibol, pai de Vajiralongkorn e de Ubolratana, era venerado como um deus. Ele ficou sete décadas no trono, até a sua morte, em 2016

fonte: DW made for minds

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