O suicídio é um fenômeno complexo que não deve ser considerado um tabu, mas deve ser tratado com seriedade por profissionais de diversas áreas e pela sociedade como um todo. Esse é consenso entre os especialistas que lidam com esse fenômeno no dia a dia. O assunto foi amplamente debatido durante o V Fórum de Saúde Mental que abordou o tema Prevenção de Vulnerabilidades e Suicídio, realizado nesta sexta-feira, 28, pela Secretaria Municipal de Saúde e parceiros, no Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra).
Dados deste ano mostram que em Palmas, de janeiro a julho, ocorreram 132 intentos suicidas. Uma leve diminuição em relação ao mesmo período de 2017 quando foram 143 casos. “Então são dados que nos chamam muito atenção e nos chamam à responsabilidade de fazer uma intervenção sobre esse problema”, alerta o secretário municipal de Saúde, Daniel Borini.
Para o secretário, o trabalho em rede e intersetorial é fundamental para o enfrentamento do problema. “É de fundamental importância essa discussão porque a gente tem acompanhado os dados e tem visto que esses dados são crescentes, e nós como saúde, apesar de não sermos os únicos responsáveis por esse processo, temos que fazer a nossa parte. De conhecer esses fluxos, de discutir o problema e saber como nós podemos fazer a intervenção nisso, tanto na questão da prevenção quanto da promoção à saúde, para que esses números possam reduzir nos próximos anos”, completou.
Atuação em rede
Durante a mesa redonda sobre a temática central do fórum, a gerente de Saúde Mental da Semus, Dhieine Caminski, explicou como funciona o fluxograma de Manejo da Violência Autoprovocada na Saúde. “Ainda não é o ideal, mas estamos em construção para que já na Atenção Primária seja feito os encaminhamentos corretos dos pacientes e que os casos sejam acompanhados e monitorados dentro da rede”, destacou.
O psicanalista e doutor em psicologia, Carlos Mendes Rosa, que também é coordenador do programa Mais Vida da Universidade Federal do Tocantins (UFT), frisou que a sociedade atual leva as pessoas a se sentirem desamparadas e que não há ninguém que zele por elas. “A dimensão do vínculo está muito esgarçada e as exigências da sociedade levam as pessoas a acharem que não são boas o bastante. O suicida quer matar a dor, o sofrimento, e ele não encontra outra forma que não seja tirar a própria vida”, refletiu, enfatizando que não há necessidade de erradicar o sofrimento, mas que o mesmo precisa ser conversado e entendido por quem o sofre.
A psicóloga, Raphaella Pizani, que atua no Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência no Hospital Geral de Palmas, ressaltou que semanalmente chegam ao hospital cerca de dez a 15 casos de intentos suicidas. “A gente vê as pessoas no pior momento da vida delas e ninguém quer morrer, por isso, temos que falar a respeito, temos que nos importar com as pessoas”, disse.
“Precisamos ter um olhar diferenciado. A pessoa que tenta o suicídio uma vez e não consegue, não significa que vai parar. Ela vai continuar tentando até conseguir, caso não consiga ajuda. Precisamos ter sensibilidade em enxergar o outro e acompanhar a família que nem sempre sabe lidar com a situação”, complementou a diretora de Políticas para Direitos Humanos na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Jeane Kudianauirú Karajá Ribeiro.
O psicólogo e também docente do Ceulp/Ulbra, Iran Johnathan, falou sobre a complexidade do fenômeno suicida. “O suicídio vai muito além das psicopatologias, como depressão e transtornos de ansiedade. Ao contrário do que as pesquisas citadas comumente apontam. Há evidências científicas que dizem que não é a presença de transtornos mentais o desencadeante do suicídio. Mas é uma série de situações associadas e multicausal”, sintetizou.
Participantes
A estudante de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Alyce Milhomem, vem participando de eventos sobre a temática do suicídio nesse mês de prevenção e considera que “tem a possibilidade de prevenir, quanto mais falarmos, vamos chegar onde é preciso que é conscientizar as pessoas sobre a importância da saúde mental.”
“Ter uma mesa redonda com vários profissionais que trabalham em várias instâncias, embora sejam todos psicólogos, contribui para que a gente tenha uma perspectiva ampla a respeito do suicídio para fundamentar também a nossa atuação”, complementou Mayelle Batista, que é psicóloga residente do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e atua junto aos Centros de Saúde da Comunidade da Arse 131 e Valéria Martins (Arse 122).
Centro de Valorização à Vida
O Centro de Valorização à Vida tem atuado em Palmas tendo como ponto de apoio o Instituto Federal do Tocantins (IFTO). “Queremos uma rede apoio mais integrada possível, mas temos o número 188 que aceita ligações inclusive de celular e que pode ser acionado a qualquer momento”, disse coordenadora Ana Paula Cavalcante, informando que por dia o 188 recebe de 8 mil a 10 mil ligações.