O ataque contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) não tem precedentes na história recente do país, mas a violência contra políticos marcou diversos períodos da História da República e influenciou os rumos de momentos marcantes da vida política.
Do crime passional que matou João Pessoa, candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas, em 1930, e virou estopim para a Revolução de 1930, ao atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, em 1954, episódios de violência política têm e tiveram forte impacto sobre a opinião pública e em diferentes épocas ajudaram a fortalecer figuras e movimentos – ou a demolir reputações.
“Sobretudo em períodos eleitorais como o atual, a política mexe com a cabeça, mas também com a emoção”, diz o historiador e professor Américo Freire, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDPC-FGV).
“Esses episódios ajudam a criar climas, modificar a imagem de pessoas, construir vítimas ou mártires. Todos esses elementos entram no imaginário da população e podem influenciar nas eleições”, considera.
Relembre alguns momentos marcantes da história da violência política no Brasil.
Atentado contra o terceiro presidente o Brasil
Prudente de Moraes assumiu a presidência quando a jovem República brasileira completava cinco anos, em 15 de novembro de 1894. Governou o país durante um período turbulento, que incluiu a Guerra de Canudos – que contrapôs o Exército e os integrantes do movimento popular de fundo religioso liderado por Antônio Conselheiro.
Após o massacre do arraial no sertão baiano e a proclamação de vitória da União, Prudente de Moraes participava de uma recepção a dois batalhões que retornavam de Canudos no Arsenal de Guerra, na atual Praça Mauá, quando sofreu um atentado.
O soldado Marcelino Bispo de Melo falhou em acertar o presidente e acabou atingindo o então ministro da Guerra, Marechal Bittencourt, que morreu esfaqueado em seu lugar.
O episódio levou o presidente a decretar estado de sítio, adquirindo amplos poderes para governar, e contribuiu para a ascensão da oligarquia cafeicultora na política nacional.
Assassinato de João Pessoa
Candidato à vice-presidência da República ao lado de Getúlio Vargas, o então presidente do Estado da Paraíba foi assassinado pelo jornalista João Duarte Dantas, num crime que teria motivação passional.
“O assassinato tinha a ver com amores, com assuntos do coração. Mas o Getúlio e sua campanha foram muito competentes em converter o assassinato em um crime político”, diz Maria Celina D’Araújo, cientista política e professora da PUC-Rio.
“Vargas era o candidato que se opunha à oligarquia tradicional da República e vinha como candidato da oposição ao poder exercido por São Paulo. Ele insistiu que o assassinato ocorreu porque Pessoa era o seu candidato, o candidato da chapa dissidente.”
O paulista Júlio Prestes saiu vitorioso, mas Vargas não aceitou o resultado, e o processo resultou na Revolução de 1930, quando Vargas assumiu o poder.
Atentado a Carlos Lacerda
Conhecido como o “atentado da rua Tonelero”, referindo-se ao logradouro em Copacabana onde o jornalista Carlos Lacerda quase foi morto, no Rio, no dia 5 de agosto de 1954, a tentativa de assassinato desembocou em uma grave crise política e militar que culminou com a exigência da renúncia de Getúlio Vargas – e com o seu suicídio no dia 24 do mesmo mês.
Lacerda era inimigo frontal de Vargas. A tentativa de assassinato lhe custou um tiro no pé e tirou a vida do Major Rubens Vaz, seu segurança, agente da Aeronáutica. As investigações do episódio revelaram o envolvimento pessoal do chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato, que acabou confessando ser mandante do crime.
“Se a morte do João Pessoa teve uma repercussão direta na Revolução de 1930, o atentado ao Lacerda foi fundamental para fortes mudanças na política brasileira, com Vargas se matando pouco depois”, diz Maria Celina D’Araujo.
Atentado do aeroporto dos Guararapes
No dia 25 de julho de 1966, ainda no período inicial da ditadura militar, o marechal Arthur da Costa e Silva chegou ao aeroporto do Recife, em Pernambuco, como parte da campanha presidencial que realizava à época.
Um atentado a bomba no saguão do aeroporto matou duas pessoas, feriu outras 14 e por pouco não machucou o candidato. A bomba foi colocada em uma mala abandonada no saguão, que explodiu ao ser removida por um guarda
O jornalista Edson Régis e o vice-almirante Nelson Gomes Fernandes morreram com a explosão.
Por meio de eleições indiretas, Costa e Silva foi escolhido presidente pouco mais de dois meses após o atentado, presidindo o país de 1967 a 1969.
À época o episódio foi considerado um ataque de terroristas, mas historiadores contestam a versão oficial e consideram a possibilidade de o ataque ter sido orquestrado pelos militares para fomentar o medo entre população.
Fonte: BBC