Ícone do site Gazeta do Cerrado

Saiba como funcionam as cidades na Europa que reciclam quase todo o lixo

Noas regras foram publicas nesta-sexta-feira, 6 (Divulgação)

Imagine uma cidade com espaços aprazíveis e saudáveis, onde o lixo não vai parar no terreno baldio, nem no aterro sanitário. Ao contrário, ele é considerado riqueza e é transformado em novos bens.

Como uma roda que não para de girar, onde as “coisas” duram mais e retornam sempre para o ponto de origem, seja a fábrica seja a terra. Onde o desperdício é praticamente zero e o homem e a natureza convivem em harmonia. Isso não é um sonho. É um sistema de gestão de lixo chamado economia circular que deve ser implantado gradualmente no continente europeu até 2030, quando os incineradores passarão a fazer parte dos livros de história (assim se espera!).

“A Europa pretende acabar com o desperdício, investindo no redesign dos produtos, em políticas de redução e de reuso e na maximização de reciclagem”, afirma Stefano Ciafani, diretor nacional da Legambiente – associação sem fins lucrativos com missão de tornar a cultura ambiental o centro do desenvolvimento e do bem-estar.

Aqui na Itália, há vários exemplos de gestão circular que conheci durante o I Ecoforum Úmbria, organizado em Terni pela Legambiente. O projeto Carta Km Zero (Papel km Zero) é um deles que me impressionou pela sua simplicidade. Ele nasceu em 2012 por meio da associação da Cartieri di Trevi, fabricante de papel e papelão, e a Vallet’Umbria Servizi –  sociedade anônima com capital público, cujos membros são 22 municípios da região da Úmbria –, que gerencia coleta e disposição de resíduos, entre outros serviços.

O acordo entre as duas empresas prevê o recolhimento dos refugos de papel e papelão pela Vallet’Umbria Servizi que os encaminha diretamente para a fábrica da Cartiere di Trevi, onde são recuperados e usados na fabricação de novos produtos. Este processo reduz as emissões de CO2, o consumo de energia e, principalmente, protege o patrimônio arbóreo da região.

Publicidade

São produzidas cerca de 62.000 toneladas de papel e papelão por ano exclusivamente com matéria-prima reciclada (cerca de 70.000 toneladas), graças a logística bem desenhada e às campanhas de comunicação que incentivam o descarte correto; a valorização dos resíduos e da reciclagem dentro do próprio território; e ajudam a reduzir a quantidade de lixo enviada a aterros sanitários.

Outra proposta é a dos eco-compactadores: são máquinas como as de refrigerante e salgadinhos, dispostas em pontos chave das cidades, onde o cidadão insere latinhas de alumínio, garrafas PET e de polietileno de alta densidade que são compactadas e levadas para a reciclagem.

O consumidor é pontuado no seu CPF e depois pode “gastar” esses pontos com produtos em lojas conveniadas, estacionamentos entre outros. A pontuação ainda se transforma anualmente em desconto na tarifa do lixo.  Em Narni, os eco-compactadores estão surtindo efeitos crescentes cada ano. Em 2016, recolheu 11 toneladas de lixo.

Já o Ricimobile é um ecoponto móvel que recebe celulares, pilhas baterias e óleo de cozinha, evitando o descarte inadequado desses produtos que contaminam com substâncias tóxicas. O caminhão fica estacionado em shoppings, mercados e parques em datas pré-fixadas. Depois eles seguem para o tratamento e são convertidos em novos bens. O serviço, que iniciou em 2015 e atende nove cidades da Úmbria, indica uma taxa de recolhimento anual de 2 toneladas.

Cidades Recicladoras

Aqui na Itália, os municípios que produzem menos lixo e maximizam a reciclagem, realizando corretamente a coleta seletiva (os descartes são separados por tipologia – que inclui o orgânico – pelo próprio gerador) recebem da Legambiente o título de “Comuni Ricicloni” (Cidades Recicladoras).

Na Úmbria, o prêmio só é conferido a quem apresentar menos rejeitos orgânicos e a maior quantidade de material compostável reciclado – ele pode virar compostagem na própria residência ou empresa e depois se transformar em energia ou adubo.

No topo dessa lista de 2017 na Úmbria, estão Attigliano, Montefranco e Ferentillo, pequenas cidades da província de Terni, que conseguiram atingir 80% em coleta seletiva e 75 kg per capita/ano de material que não pode ser reciclado, classificando-se pela primeira vez como Cidades Lixo Zero.

Eco-responsabilidade

Muitos munícipios na Itália aplicam a coleta porta a porta, como Terni, capital da província homônima, realizada pela empresa pública ASM Terni, que atende mais seis cidades da região. Uma solução para a quantificação e o reconhecimento dos resíduos gerados pelo usuário individual ou grupo limitado.

Para colocar em prática o sistema, na capital foram distribuídos 237.955 equipamentos de coleta, entre tambores e caçambas identificados com a tipologia, além de 69.801 recipientes específicos para orgânicos, 6.613.200 sacos biodegradáveis e 3.716 composteiras. O usual era o recolhimento coletivo, por quarteirão.

Na segunda fase de implantação do projeto, o usuário será cobrado com uma tarifa proporcional ao volume e à qualidade de resíduos gerados, graças à tecnologia RDSI (rede digital de serviços integrados). Cada lixeira será equipada com um dispositivo para a leitura de dados, computados em um servidor central e associados a cada consumidor. Uma conta básica: quem gerar menos lixo, pagará menos. Quem gerar mais, pagará mais!

Para fechar esse ciclo, há os guardas ecológicos, treinados para evitar e reprimir o abandono ilegal de descartes, multando os cidadãos que prejudicam o meio ambiente. E câmeras que registram as ações irregulares na área de descartes. Em Narni, por exemplo, foi constituído um comitê para cuidar do assunto, que além de integrantes do serviço público funciona com a ajuda de voluntários.

Com tantas boas ações, deixo Terni esperançosa de que a solução para um mundo melhor está em “reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, preservando-o e cedendo-lhe espaço”, como afirma o escritor ítalo cubano Italo Calvino (1923-1985) em “Cidades Invisíveis”. Ou seja, com a coleta seletiva bem feita podemos evitar uma grande parte dos problemas ambientais e gastar muito menos no dia a dia, além de democratizar o fornecimento de energia e de alimentos. Simples assim!

Fonte: Casa Vogue

Sair da versão mobile