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Uber muda pagamento e motoristas tentam burlar sistema rodando mais

Uber - Divulgação

A Uber do Brasil mudou em julho seu sistema de remuneração e adotou um modelo parecido com o do taxímetro, numa tentativa de melhorar a remuneração de motoristas — que é alvo de críticas mundo a fora. Para o passageiro, nada muda, porque a Uber tira a diferença da sua taxa de 20 ou 25%.

Antes, os motoristas que usavam o aplicativo eram remunerados com um valor pré-estabelecido no momento que a corrida foi confirmada — e era azar o dele se surgisse um congestionamento ou se a rota sugerida pelo Waze fosse mais longa. Agora, tanto o tempo quanto a quilometragem de cada viagem serão calculados de forma independente, o que pode resultar em uma remuneração mais gorda no final.

De acordo com a empresa, a mudança veio após demanda dos próprios motoristas e foi pensada para ser mais justa para quem dirige. Mas nem todos os motoristas entenderam o novo sistema. O UOL Tecnologia apurou que muitos têm tentado burlar o sistema para tentar ganhar mais dinheiro com uma viagem.

Numa noite de agosto, o passageiro Carlos Alberto, 27, pegou um carro da Uber no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, rumo ao bairro de Paraíso, na zona sul da capital paulista. O trajeto pelo app duraria 40 minutos. “Até que o motorista começou a desviar do caminho do [appp] Waze na marginal Tietê”, contou à reportagem:

“Na segunda vez que ele rejeitou a entrada, perguntei se
estava trânsito, mas era tarde. Fiquei até com medo de ser
algo diferente, mas ele explicou que, se chegasse muito
rápido, perderia dinheiro”

O trajeto durou quase 60 minutos, disse Carlos Alberto.

Em julho, a reportagem presenciou situação semelhante em outra capital. Do Aeroporto
Internacional Zumbi dos Palmares, na região metropolitana de Maceió (AL), ao bairro de Guaxuma, no litoral norte, são 27 km, percorridos em cerca de 35 minutos durante a madrugada. O motorista optou por um trajeto pelo centro que rodou 37 km em quase 50 minutos.

“É o novo sistema de cobrança”, explicou o motorista José*, 39. “Agora eles não cobram só os 25%, cobram pelo que você roda. Então como está sem trânsito, se eu chegar mais rápido, eles vão cobrar 30% ou mais, não vale à pena. Mas não se preocupe que o valor do passageiro não aumenta

“Não vale mais à pena rodar de madrugada ou em domingos e
feriados, quando a rua está livre, pois é claro que os
passageiros querem chegar mais rápido, mas agora eles [da
Uber] tiram mais”

Geraldo*, 43, motorista do aplicativo em São Paulo.

“Eu não pego caminhos mais longos, não: sigo o Waze. Mas tem valido à pena ficar no trânsito”, informa o motorista, que desde o final de julho adotou um novo período para dirigir.
Segundo ele, os grupos de WhatsApp exclusivos para motoristas têm registrado discordâncias quanto à mudança.
“Há quem ache que melhorou e quem ache que piorou. Falam também que muda a cobrança de cidade para cidade. Eu não sei, li o email, mas nunca sei ao certo quanto vou receber no fim da viagem”, afirma Danilo*, 27, que dirige com o aplicativo há um ano:

“Tem muita gente perguntando para o passageiro para onde
ele vai, se ele fala que vai pra perto, ele cancela, porque
realmente não vale à pena”

Danilo afirma que não usa essa estratégia, porque soube de colegas que foram descredenciados por causa disso. “Melhor não arriscar.”

Já João*, 42, diz que ficou muito satisfeito com a mudança:

“É bem simples: em algumas você perde e em outras você
ganha. Para quem roda mais, como eu, que passo o dia
inteiro no carro, ficou melhor”

O motorista acredita que os colegas que reclamam não leram os avisos da empresa e acabam entrando na polêmica gerada por algumas pessoas nos grupos de WhatsApp. Ele conta que, em um grupo, chegou a ser criticado pelos colegas por ter dito que não acha a mudança ruim.
“Tem um monte [de motoristas] reclamando, falando que está perdendo dinheiro, que vai sair… Mas isso é porque não leram o que deviam ter lido”, diz:

“Se a minha viagem ia durar 20 minutos e durou 10, eu
deveria ganhar pelos 20? Não. A mesma coisa ao contrário”

Geraldo afirma ter lido as regras, mas considera tudo nebuloso. “É a máquina que diz.Antes 25% era 25%, agora a gente fica na expectativa”, argumenta. “De todo jeito, já me adequei à nova rotina do dia, mas tem companheiro que continua a rodar à noite.”

Cristiano*, 45, é um deles. O motorista, formado em contabilidade, diz não ter sentido uma mudança tão drástica. “Não vou mentir que dá aquela tristeza quando o passageiro vai para perto mas tem de levar, né?”, afirma. “Por outro lado, se você encontra outra corrida logo em seguida, é até bom.”

Questionada pelo UOL Tecnologia, a Uber afirmou que, desde a mudança, o número de
motoristas que aumentou a distância deliberadamente é “irrisório”, inferior a 1% do total no Brasil. Mas, informa que a atitude é “inaceitável”.

“É importante ressaltar que isso configura uma violação aos Termos e Condições de adesão dos motoristas ao aplicativo da Uber”, afirma a empresa Uber diz que desvios são raros, mas serão punidos

“Temos equipes e tecnologias próprias que constantemente
analisam viagens suspeitas para identificar violações aos
termos e, caso tais situações sejam comprovadas,
procedemos com o descadastramento dos envolvidos”

A Uber orienta que o passageiro denuncie por meio do aplicativo. Segundo a empresa, todas as ocorrências são checadas e, caso o motorista mostre um histórico de abuso, é desligado.

Para tentar orientar melhor os motoristas confusos, a Uber diz que enviou as novas regras via email e SMS e disponibilizou-as permanentemente no app. Houve workshops online durante o mês de julho. Além disso, há um canal para dúvidas com atendimento 24h — mas a empresa diz que desde a segunda semana após a mudança as dúvidas “quase zeraram

* Os nomes foram alterados a pedido dos motoristas.

Fonte: Uol

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