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Uma viagem e muitas curiosidades: Conheça os encantos do Saco de Mamanguá

Reportagem Especial para a Gazeta e Fotos: jornalista Gustavo Rossetti

Imagine um braço de mar de oito quilômetros de extensão com águas esverdeadas, mansas e cristalinas cercado por altas montanhas rochosas, abrigando mais de 30 praias (a maioria deserta), ilhas, manguezais, mata atlântica, cachoeiras e diversas espécies de animais marinhos? Bem-vindo ao Saco do Mamanguá!

Mesmo quem está acostumado a viajar pelo Brasil vai se surpreender e ficar impressionado com o visual que vai encontrar no local, que fica próximo a Paraty (RJ), na chamada Costa Verde, região com 85% da vegetação nativa preservada. É uma paisagem única e uma viagem no tempo: como o lugar é praticamente intocado – a luz elétrica chegou há apenas quatro anos -, são raros os locais com Wi-Fi e sinal de celular. Conexão de verdade mesmo, “apenas” com a natureza.

Para acessar esse paraíso é preciso viajar até Paraty Mirim, que fica praticamente no meio do caminho entre São Paulo e Rio de Janeiro – cerca de 280 km de SP e 260 km do Rio. Da rodovia Rio-Santos até o cais do porto de Paraty Mirim são cerca de 7 km de estrada de terra.

De Paraty dá para ir de ônibus até Paraty Mirim em um percurso que leva 40 minutos, ou de barco – são duas horas de viagem de barco ou 30 minutos de lancha. O trajeto entre Paraty Mirim e Mamanguá custa, em média, R$ 120 e leva cerca de 40 minutos de barco ou 20 com uma “voadeira”, aqueles botes menores feitos de fibra. Há vários estacionamentos para deixar o carro em Paraty Mirim, ao preço de R$ 15 a R$ 20 a diária.

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Ainda em Paraty Mirim, no entanto, antes de fazer a travessia, vale dar uma olhada na bela igrejinha local. A Igreja Nossa Senhora da Conceição foi edificada em 1720 e é uma das mais antigas da região. Fica quase em frente à praia, com sua fachada voltada para o mar, atrás de uma pequena faixa de mangue. Do seu lado direito, uma grande e frondosa árvore coberta por barba-de-velho (uma espécie de bromélia) completa o visual que vale o registro – quem sabe a primeira das centenas de fotos de uma viagem inesquecível!

Paraty-Mirim, que abriga uma comunidade indígena guarani, foi porto de desembarque de escravos para as fazendas de café de São Paulo e a igreja é um dos únicos registros dessa época. Na viagem de volta de Mamanguá até Paraty Mirim a igrejinha pode ser admirada enquanto a embarcação se aproxima da praia.

Já em Mamanguá, a praia do Cruzeiro é a mais estruturada e a que oferece mais opções de casas para alugar, campings e restaurantes, bem como caiaques ou canoas canadenses para alugar e conhecer as outras praias. É de lá também que parte a trilha para o Pico do Pão de Açúcar, uma das principais atrações da região.

Fiorde tropical

E é do alto do Pão de Açúcar que se tem a noção e pleno entendimento do motivo de o Saco do Mamanguá ser considerado o único fiorde tropical do mundo – uma grande entrada de mar cercada por altas montanhas rochosas, uma paisagem mais comum nos países nórdicos. Mas para subir até o cume e ter essa visão privilegiada é preciso algum esforço e perseverança para enfrentar 1,5 km de trilha bem puxada e íngreme. Todo o esforço, no entanto, é recompensado com uma vista espetacular de toda a região, desde os manguezais, passando pela por Paraty até Angra dos Reis e Ilha Grande. Leva-se, em média, 1 hora de 20 minutos para subir e 1 hora para descer, indo com calma e parando para descansar. A descida, embora menos cansativa, exige bastante dos joelhos. Não esqueça de levar bastante água!

Outro passeio imperdível é a Cachoeira do Rio Grande. Ela fica a 5,5 quilômetros da Praia do Cruzeiro e para chegar até ela existem algumas opções, com mais ou menos emoção. Por meio de passeios agendados com agências locais, dá para ir de barco até o começo do mangue, onde é proibido o tráfego de embarcações a motor e é preciso seguir de caiaque. Ou, em um passeio mais arrojado, ir remando desde a praia do Cruzeiro (ou outra que alugue caiaque) pelo mar e depois mangue adentro. São cerca de 1 hora e meia de remada a partir do Cruzeiro, e o visual é de tirar o fôlego, principalmente quando se entra no manguezal no final do braço de mar. No caminho podem ser avistados peixes, caranguejos, tartarugas e aves como o socó branco ou azul, também conhecido como garça-da-mata. Mas é bom ficar atento às variações da maré, direção do vento e tentar evitar fazer o trajeto em um período muito quente do dia. Ah, e não esqueça de levar um chapéu, boné ou viseira. E muita água, repelente e protetor solar! Aliás, é bom reforçar: não deixe de levar repelente, já que os borrachudos adoram praias e cachoeiras mais isoladas.

Caminho para o mangue e a Cachoeira do Rio Grande

Trilha para Cachoeira do Rio Grande

Cachoeira do Rio Grande

Caminho para a Cachoeira do Rio Grande – Foto: jornalista Gustavo Rossetti

Depois de uma hora e meia remando pelo mar e depois mangue adentro, é hora de deixar o caiaque bem encostado, e se possível amarrado, na margem do rio Grande, para evitar que a maré o leve, e pegar uma trilha de aproximadamente 20 minutos até a primeira das duas quedas d’água. É uma cachoeira menor, com um poço mais raso e propício para o banho e pedras lisas para relaxar e tomar um sol. Uma árvore gigante e belíssima fica logo acima da queda d’água formando um cenário encantador.

A segunda cachoeira, 10 minutos de trilha mais acima, é mais selvagem e conta com uma queda d’água mais alta e um poço mais profundo, que exige cuidado. Também dá para acessar a cachoeira do Rio Grande por trilha na mata em mais de duas horas de caminhada, mas é recomendável contar com o acompanhamento de um guia local.

Praia de cinema

Muita gente fica curiosa para conhecer a chamada Praia do Crepúsculo, destino também de alguns passeios que partem de Paraty. Ao chegar lá, entretanto, algumas pessoas podem ficar um pouco decepcionadas, embora a praia seja bonita como praticamente todas de Mamanguá. Originalmente chamada de Praia do Ícaro, ela foi cenário do segundo filme da saga “Crepúsculo”, mas a vegetação cresceu e encobriu a vista da mansão de 700 metros quadrados e heliporto, então é possível ver apenas o telhado. Existe uma trilha de cerca de 20 minutos do Cruzeiro até o Crepúsculo, mas encontra-se em péssimo estado, com muita lama e bem escorregadia.

Entre as praias do Cruzeiro e do Crepúsculo fica a Praia do Pimenta, que pode ser acessada remando desde o Cruzeiro. Ela é pequenina, deserta, com pedras arredondadas e vegetação típica de mangue, com direito a um berçário de caranguejos. E ainda tem amendoeiras que fornecem uma boa sombra e uma ducha de água doce e gelada para refrescar. A praia do Engenho é outra bastante procurada por conta da sombra oferecida pelas amendoeiras.

Praia do Pimenta

Na praia do Cruzeiro, um passeio interessante é cruzar o vilarejo por dentro das vielas de areia para conhecer os simpáticos moradores locais e os produtos que oferecem: artesanatos, peixes frescos, camarões, geladinhos, entre outros.

Quando bater uma fome nos intervalos dos passeios, o Restaurante do Cruzeiro serve um PF bastante honesto e saboroso, com vista para o mar. E se quiser conhecer o restaurante mais famoso de Mamanguá, vá até o Dadico, que conta com ótimas porções e drinques – experimente a porção de lula à dore e as caipirinhas. E não deixe de conversar com o Dadico, um ótimo contador de histórias. Montado em um deque de madeira sobre as águas, o restaurante fica na margem direita de quem entra no Mamanguá, depois da Praia Grande.

Restaurante do Cruzeiro

Restaurante do Dadico

O restaurante do Senhor Orlando, que também conta com uma área de camping e aluga caiaques e canoas canadenses, na praia do Cruzeiro, oferece um excelente açaí, e a Pousada Dois D, do simpático casal Denílson e Denilda, e que fica logo atrás, um ótimo pastel recheado de carne de siri, frito na hora. A pousada aluga uma casa para até 10 pessoas e conta com uma área de camping por R$ 25 a diária.

Quem prefere se hospedar em um lugar mais estruturado pode optar pelo Mamanguá Eco-Lodge, que fica na Praia Grande, na margem direita de quem entra no fiorde. O preço da diária varia de R$ 900 a R$ 1.600, de acordo com a promoção vigente e o quarto escolhido.

Outra opção é o Refúgio Mamanguá, também localizado na margem direita de quem entra no braço de mar, logo após a Praia Grande, em frente à primeira ilha, a Ilha Grande. A diária para uma ou duas pessoas custa R$ 800 e é válida tanto para as suítes amarelas quanto para as roxas.

Mamanguá integra a Reserva Ecológica Estadual da Juatinga, que faz parte da Área de Proteção Ambiental do Cairuçu. Em qualquer uma das 33 praias locais os visitantes vão se deparar com água cristalina e diversas espécies de peixes, siris, caranguejos, aves, tartarugas e, com sorte, até cavalos-marinhos e golfinhos. Vale ressaltar que o sucesso da preservação desta reserva natural é resultado do esforço e da dedicação dos moradores das comunidades caiçaras, que zelam pela limpeza e combatem o desmatamento desse verdadeiro paraíso natural.

E quem for para o Mamanguá e estiver com um tempinho de sobra, não deixe de dar um pulo em Paraty, uma das cidades mais charmosas do Brasil. Mas aí já é uma outra história…

Mangue no caminho para Cachoeira do Rio Grande

 

 

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