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Vacina contra o câncer pode estar mais perto do que se imagina

Uma vacina contra o câncer pode estar mais perto do que se imagina. Desenvolvida pela universidade americana de Harvard, a imunização é baseada no poder matador de células cancerígenas da quimeoterapia e na eficácia duradoura da imunoterapia. A pesquisa teve 100% de sucesso em camundongos com câncer de mama triplo negativo.

Segundo o coautor do estudo, Hua Wang, o câncer de mama triplo negativo não estimula respostas fortes o suficiente do sistema imunológico, o que faz com que as imunoterapias existentes não consigam combatê-lo, ao mesmo tempo que a quimioterapia “produz um número grande de células cancerígenas mortas”, que o mesmo sistema imunológico pode detectar e formar um tumor como resposta. A vacina, então, seria o melhor dos dois mundos justamente por ter uma abordagem menos agressiva.

A vacina do câncer começou a ser desenvolvida em 2009 e, desde então, tem se mostrado promissora para o tratamento de diversas variações da doença em camundongos, sendo inclusive testada em casos de melanoma no Dana Farber Cancer Institute, nos Estados Unidos.

Com a formulação original da vacina, as moléculas encontradas em diversas células cancerígenas chamadas de antígenos associados a tumores (TAAs, na sigla em inglês), foram incorporadas dentro de um pequeno espaço do tamanho de uma aspirina para que as células dendríticas (que protegem o corpo de invasores, tanto exteriores quanto internos) conseguissem reconhecê-los rapidamente como algo estrangeiro ao corpo humano, criando uma resposta imune para lutar contra o tumor.

Segundo o estudo, os TAAs podem ser isolados de tumores colhidos ou identificados por uma sequência de genomas e, depois disso, manufaturados. Apesar de promissor, o processo para criar vacinas personalizadas para cada tipo de câncer pode ser longo e caro — uma limitação grande no desenvolvimento de uma vacina.

“Um dos fatores críticos que limitam o desenvolvimento de uma vacina do câncer é a seleção dos TAAs, porque, atualmente, temos apenas uma pequena biblioteca de antígenos conhecidos para apenas algumas pequenas linhas específicas celulares de alguns tumores, e é díficil prever qual pode construir uma resposta imune eficaz. Implementar drogas da quimioterapia dentro da vacina pode criar um grande número de células mortas que pode liberar os TAAs direto do tumor para as células dendríticas, cortando a parte longa e cara de produzir um antígeno”, garante Alex Najibi, coautor do estudo.

A ideia do grupo de cientistas, então, foi aplicar essa nova tática de vacina também em casos de câncer de mama triplo negativo. Para isso, primeiro eles adicionaram um componente chamado de Fator Estimulador de Colônias de Granulócitos e Macrófagos (ou fator estimulador de colônias 2), capaz de estimular o desenvolvimento e a concentração das já citadas células dendríticas, o que pegaria os antígenos de tumores e de outros invasores, inserindo neles as células T (linfócitos com capacidade imunológica) presentes em linfonodos e no baço para iniciar uma resposta imunológica.

Outra droga usada na quimioterapia (a doxorrubicina, ou Dox) também foi adicionada, ligada a um peptídeo chamado de iRGD, conhecido por pentrar tumores e ajudar a Dox a atingir os tumores uma vez que é administrada.

Os camundongos com os câncer de mama triplo negativo, assim que receberam a dose com o fator estimulador de colônia 2 e com a Dox-iRGD, tiveram um resultado melhor na penetração da droga em seus tumores, o que aumentou a taxa de células cancerígenas mortas, e reduziu os riscos da produção de tumores metastáticos nos pulmões do que aqueles que receberam uma dose que continha apenas a Dox ligada a uma molécula de peptídeo, ou com o Dox não modificado, ou sem nenhum tipo de tratamento.

As análises mostraram, então, que ambas as partes da vacina — a ligada à imunoterapia e a ligada à quimioterapia — estavam ativas.

Com os bons resultados, os cientistas adicionaram ainda mais um componente para  avacina, uma bactéria sintética chamada de CpG, cujo DNA é conhecido por aumentar a resposta imune dos humanos. Com essa dose da imunização, os camundongos demonstraram um crescimento mais lento em seus tumores e sobreviveram mais tempo do que aqueles que receberam a vacinação sem o componente adicional. Uma dose extra administrada 12 dias depois da primeira foi capaz de aumentar o tempo de sobrevivência em ainda mais tempo.

Mas isso não foi o suficiente para os cientistas.

Eles também queriam entender como a vacina funcionava na área onde os tumores estavam. Daí veio a descoberta de que os tumores tratados com um gel contendo GM-CSF, Dox-iRGD, e CpG aumentaram a quantidade da proteína calreticulina em suas superfícies — um indicador da morte das células. Os animais que receberam a vacina com as três partes mostraram um nível mais alto de células brancas associadas a uma melhora na atividade anticancer e maior tempo de sobrevivência.

Nem isso foi o suficiente. Eles descobriram que administrar um tratamento inibidor capaz de bloquear a invasão do sistema imune com a vacina seria capaz de aumentar ainda mais a sua eficácia. Então os animais receberam uma dose triplíce da vacina, e adicionaram uma injeção anti-PD-1 (ou seja, anti proteína de morte celular). Com essa combinação, o tumor dos camundongos foi reduzido em tamanho e número, e eles sobreviveram 40 dias, enquanto ratos que não foram tratados sobreviveram por 27 dias, e aqueles que receberam somente a dose anti-PD-1 viveram por 28 dias. Para os pesquisadores, a descoberta sugeriu que “a vacina pode ser usada de forma ainda mais eficaz com uma combinação de terapias inibidoras”.

Para entender como a vacina poderia funcionar em pacientes humanos, os cientistas administraram uma dose da vacina após um tumor ser retirado dos camundongos. Com o tratamento, tanto da vacina de três partes em gel quanto na vacina líquida, os animais tiveram uma recorrência de tumores reduzida, sendo que a vacina em gel reduziu significativamente o crescimento de tumores e aumentou os números de sobrevivência. Então, os camundongos receberam uma injeção de células do câncer, e 100% daqueles tratados com a vacina em gel sobreviveram sem o retorno da doença, enquanto os que não foram tratados, morreram.

O próximo passo para os pesquisadores é continuar a estudar a combinação das terapias para produzir vacinas contra o câncer e esperam conseguir produzir uma proteção eficaz para outros tipos de tumores. Eles também querem chegar a fase pré-clínica de testes e, eventualmente, aos testes em humanos. De todo modo, uma boa notícia para a ciência.

Fonte: Exame

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