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Veja as consequências de um país “desenvolvido” ao ignorar às mudanças climáticas

(Divulgação)

Filha de peixe, peixinho é. Nada melhor do que o famoso provérbio para descrever Céline Cousteau. Assim como seu avô, o cineasta e oceanógrafo Jacques Cousteau, e seu pai, o oceanógrafo Jean-Michel Cousteau, a ativista, documentarista e exploradora escolheu o mar como seu habitat. Os anos de experiência escrevendo, filmando e defendendo o meio ambiente renderam um convite para que ela se tornasse membro do Conselho dos Oceanos do Fórum Econômico Mundial.

Em passagem pelo Brasil para participar do seminário “FRUTO – Diálogos do Alimento“, Céline conversou com Época NEGÓCIOS sobre a exploração consciente dos oceanos, a importância da educação ambiental e o perigo de líderes como Donald Trump para o futuro do planeta. “Quando um país poderoso escolhe ignorar as mudanças climáticas, isso é prejudicial para toda a população”.

É possível aproveitar o oceano de uma maneira sustentável?
Acho que sim. Obviamente, há algumas empresas de mergulho melhores que outras. Se você optar por empresas menores, que beneficiam a comunidade local, é uma boa maneira de começar. Uma coisa básica, mas importante, é não poluir quando você vai à praia. Leve seu lixo com você quando sair, não deixe nada na areia ou no mar. Em relação ao filtro solar, devemos optar por produtos Reef Safe [que não prejudicam aos corais]. E, quando estiver viajando para o mar, escolha empresas de turismo que estão dando algo de volta ao meio ambiente, seja com projetos de limpeza ou educacionais.

Também é possível extrair peixes, óleos e materiais de uma maneira sustentável?
Você pode pegar peixes de uma maneira sustentável. Um dos grandes problemas que estamos enfrentando é o crescimento populacional e o aumento de demanda por peixes e frutos do mar. Pesca em pequena escala é provavelmente uma boa maneira de começar. Também é preciso evitar salmão de cativeiro — prejudicial ao ser humano e ao meio ambiente. Camarão também é complicado, pois sua pesca é feita com rede [outros peixes acabam sendo descartados nesse tipo de pesca]. Devemos evitar o topo da cadeia alimentar, qualquer um dos grandes animais, como tubarões, atum e peixe espada, que estão sendo pescados de uma maneira não sustentável. Além disso, há muito mercúrio no mar e a substância é prejudicial à saúde dos humanos. Se limitarmos a quantidade que comemos, já é um começo. Escolha atentamente o que você compra e de onde você compra. É preciso saber se os fornecedores são conscientes a respeito dos peixes e furtos do mar que fornecem. Aos poucos, comecei a parar de consumir muitos tipos de peixes e frutos do mar por razões de sustentabilidade.

Durante sua palestra no FRUTO – Diálogos do Alimento, você mostrou um barco de pescadores em condições assustadoras. Você acha que as pessoas realmente sabem o que acontece no oceano?
Não, não sabem. A maioria conhece o oceano por causa das férias ou por viver próximo às praias. Na superfície da água, tudo parece bem. As pessoas olham para o mar azul e brilhante e acham que está tudo certo. As informações que chegam a elas são complexas. Esse não é um assunto simples. Por isso, frequentemente nos distanciamos de um entendimento. Temos que nos educar e educar as pessoas sobre a importância dos oceanos e tudo o que está acontecendo neles.

Como podemos fazer isso?
Começando pelas escolas. Devemos incorporar em todas as escolas questões de estudo sobre o meio ambiente e os oceanos. Também devemos dar um passo além e pensar não apenas nos oceanos, mas também nas tribos indígenas como guardiões do ecossistema. Se você olha para a Amazônia, por exemplo, as tribos indígenas não desmatam a floresta. Onde eles têm território, ela é mantida. Eles são nossa melhor linha de defesa para proteger esses ecossistemas. Além disso, ter mais programas na televisão, mais mídia e ações sobre o meio ambiente ajudariam.

Como alguém que vive na cidade pode ajudar a proteger os oceanos, animais e meio ambiente?
Há muitas maneiras de fazer isso, como apoiar organizações que defendem os oceanos como voluntário ou dar recursos financeiros. Você pode ser um contador, um advogado, um pesquisador e doar seu tempo para essas organizações. Além disso, também se pode pensar em ter um consumo sustentável. Por exemplo, reduzindo ou simplesmente parando o consumo de plástico não reciclável. Boa parte do plástico vai parar nos oceanos.

O quão perigosos são líderes que não se preocupam com as mudanças climáticas, por exemplo, Donald Trump?
É muito perigoso. É perigoso para a sociedade global. Os países não estão separados do ar, da terra e da água. Tudo está interconectado. Quando um país grande e poderoso escolhe ignorar as mudanças climáticas, isso é prejudicial para toda a população mundial. Portanto, nós deveríamos estar preocupados. O alarme está soando por uma razão, muitos cientistas têm falado sobre as mudanças climáticas há muito tempo. Se nos recursamos a ouvir, seremos nós que iremos sofrer, não apenas os animais. Isso terá impacto em nossa habilidade de respirar, ser saudável e na alimentação das gerações futuras. Precisamos nos importar mais, continuar protestando e exigindo nossos direitos humanos básicos.

A Cidade do Cabo está passando por uma grave crise hídrica e poderá ficará sem água em três meses. Eles planejam começar a usar água do oceano. O que você pensa sobre isso? Acha que o processo de dessalinização será usado em todo o mundo no futuro? 
Não sou uma especialista em escassez e consumo de água. Mas sei que o mundo está e continuará lutando por água. É uma necessidade básica dos seres humanos. Se alguém não tem água, comida ou abrigo, vai lutar por isso. Precisamos encontrar mais soluções sustentáveis e uma das primeiras maneiras para isso é reduzir o consumo. Acho que a dessalinização é uma das soluções, que talvez resolva, mas não é a única.

Por Felipe Oliveira, do Época
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