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Vendas de ansiolíticos e antidepressivos aumentam no TO durante a pandemia; Especialista defende psicoterapia como aliada

Medicação - Divulgação

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Lucas Eurilio

A depressão e a ansiedade tem se tornado centro de discussões há muito tempo – problema de Saúde Pública – principalmente neste período de pandemia, onde o isolamento social – que é necessário – gera gatilhos emocionais e psicológicos a muitos.

Esses transtornos ou sofrimentos psíquicos podem estar ligados a traumas, vivências, ambiente sociocultural e econômico, entre outros fatores e afetam cada um de um jeito, de uma forma diferente. Além disso,  causam problemas à psique humana e também físicos que infelizmente podem culminar em graves consequências e levar à morte.

Segundo a  Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade e o quinto de pessoas com depressão.

Um levantamento solicitado pelo Gazeta do Cerrado ao Conselho Regional de Farmácia (CRF)  mostra que o Tocantins registrou em média 20%  no aumento de vendas de ansiolíticos e antidepressivos durante a pandemia de Coronavírus.

Conforme o presidente do CRF, Maykon Paiva, teve ainda o aumento de 40 % na procura de medicamentos fitoterápicos – remédios derivados e reproduzidos a partir de vegetais ou plantas considerados medicinais – calmantes.

A que se deve esse aumento? Há outras formas de tratar a depressão e a ansiedade? A pandemia  de fato  fez com que os casos aumentassem?

Em uma entrevista exclusiva, o psicanalista e professor da UFT, Carlos Mendes Rosa explicou como funcionam essas medicações e como a terapia deve ser aliada e alinhada junto ao tratamento.

Veja entrevista exclusiva abaixo

Carlos Rosa é professor da UFT e psicanalista – Foto – Arquivo Pessoal

Gazeta do Cerrado – O que são e pra que servem esses medicamentos?

Dr Carlos Rosa – Os chamados neuro-psicofármacos (categoria a qual pertencem os ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos etc), no geral, são medicamentos que atuam diminuindo ou suprimindo sintomas como a tristeza, a ansiedade, a agitação motora e tantos outros.

Sua ação química é pontual nessas condições e são muito úteis em casos de crise e como auxiliares nos tratamentos dos mais diversos transtornos mentais e do comportamento. No entanto, esses remédios não tratam a origem dessas diferentes formas de sofrimento. Por isso é imprescindível a associação dos medicamentos com um tratamento psicoterápico.

Gazeta do Cerrado – A que se deve esse aumento nas vendas desses medicamentos?

Dr Carlos Rosa – Em tempos de incerteza e instabilidade tanto no plano social, quanto pessoal, é esperado que as pessoas busquem algo que lhe dê segurança. A boa e velha certeza de que as coisas irão caminhar bem. Nesse sentido, a medicação pode ser uma resposta fácil e rápida à sensação de desamparo gerada por essas condições de sofrimento como a ansiedade e a depressão.

Mais uma vez, é preciso advertir que se trata de um caminho válido, mas não completo. A sensação de bem estar ou de alívio promovida pelos remédios pode fazer com que as pessoas pensem que estão “curadas” desses sofrimentos, mas se as questões pessoais e vivenciais não forem tratadas pela via da palavra, pode ser que que o sofrimento retorne da mesma forma ou em outra roupagem. Nem toda forma de sofrimento requer tratamento, mas o sofrimento tratado de forma incorreta, negligente ou negado, costuma se agravar para quadros piores na vida da pessoa.

Gazeta do Cerrado – O aumento das vendas pode estar relacionado com o aumento de pessoas com depressão e ansiedade?

Dr Carlos Rosa – Não penso que essa relação seja automática. De fato, pesquisas mostram que durante a pandemia houve um aumento considerável do número de casos de depressão e ansiedade no país. Esse também é um dado a ser problematizado, haja visto que tais pesquisas, até por questões de biossegurança, levam em consideração muitas vezes um auto diagnóstico.

No entanto, acredito que o aumento no consumo dessas medicações aponte para um agravamento geral da condição de mal estar que é própria da vida humana e um aprofundamento da sensação de desamparo, ampliada, principalmente pela descrença nas instituições públicas que deveriam ter a função de lidar com a pandemia, mas têm se mostrado bastante ineficientes nesse quesito.

Gazeta do Cerrado – A procura por terapia também aumentou durante a pandemia?

Dr Carlos Rosa – Pelo que tenho escutado dos meus colegas, a procura por terapia aumentou bastante. Aumentou também a oferta e as possibilidades de se fazer terapia com o recurso das sessões online. Se há uma coisa boa nessa tragédia humana que é a pandemia é, precisamente, a ampliação da facilidade de acesso aos profissionais da psicologia e da psicanálise para todas as camadas sociais.

Gazeta do Cerrado – Há alguma outra indicação além de medicamento para amenizar a depressão e a ansiedade?

Dr Carlos Rosa – Eu não prescrevo medicação, mesmo que elas não tenham receita especial. Acredito que o medicamento, como disse, é um coadjuvante nas muitas possibilidades de tratamento dessas formas de sofrimento tão graves. Penso que a psicoterapia é a melhor maneira de se tratar um transtorno mental ou sofrimento psíquico, como prefiro chamar. Mas, há outras recomendações interessantes que podem ter maior ou menor efeito dependendo da pessoa.

Poderia sugerir a prática regular e não excessiva de esportes, o recurso às artes, de forma geral, tanto na condição de artista como de apreciador das diferentes obras de arte, a leitura de bons livros, as práticas de meditação, yoga e outras formas transcendentais de contato consigo mesmo, dentre outras. Poderia ainda sugerir boas conversas, companhias agradáveis que enriqueçam a vida, muito riso…  E choro também.

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