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Vítimas aguardam julgamento do caso Backer um ano após intoxicação grave e mortes

Cerveja Belorizontina, da Backer, provocou intoxicações. (Reprodução/Instagram)

Cerveja Belorizontina, da Backer, provocou intoxicações – Foto – Reprodução/Instagram

O bancário Luciano Guilherme de Barros, de 65 anos, jamais imaginou que o hábito de tomar uma cerveja poderia provocar uma intoxicação tão grave, que quase o levou à morte. Em dezembro de 2019, ele comprou algumas cervejas do rótulo Belohorizontina da Backer, marca que ele já tinha costume de beber e adorava. Após consumir as bebidas, Luciano começou a se sentir muito mal e precisou de internação.

“O veneno foi atuando no meu corpo, depois de um tempo eu já nem conseguia andar mais. Eu falei: ‘eu acho que daqui eu não saio vivo, porque eu não estou aguentando mexer mais’. Aí, eu perdi a função renal e fui para o CTI. Já tinha quase um mês que eu estava sofrendo no hospital e ninguém sabia o que era. Pensaram que era leptospirose, até que descobriram que era esse negócio da cerveja”, conta.

Luciano é morador do bairro Buritis, na região Oeste de BH, local onde houve uma grande concentração de pacientes da chamada “Síndrome Nefroneural”, já que todos eles apresentaram os mesmos sintomas após a ingestão das cervejas: insuficiência renal e paralisia dos músculos. Os casos ganharam repercussão na semana do réveillon e chamaram a atenção da Polícia Civil, que abriu uma investigação.

O elo inicial entre todas as vítimas era o consumo da cerveja Belohorizontina e, por isso, foram recolhidas amostras de garrafas nas casas dos pacientes. As análises de peritos constataram a presença de dietilenoglicol, que foi o responsável pelos danos causados nos consumidores, como explicou o superintendente de Polícia Técnico-Científica, Thales Bittencourt:

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“É uma substância que não se esperaria no corpo humano e é a substância que, no final das contas, é a responsável pela lesão neural e pela lesão renal”.

O dietilenoglicol é um produto anticongelante altamente tóxico e que não poderia entrar em contato com as bebidas. As investigações da Polícia Civil e do Ministério da Agricultura demonstraram que diversos vazamentos dentro da fábrica da Backer provocaram a contaminação, desde o final de 2018. Ao todo, dez consumidores morreram e outros 16 ficaram com sequelas graves.

Após as investigações, 11 pessoas foram denunciadas à Justiça e se tornaram rés. Delas, sete são engenheiros e técnicos da Backer que respondem por homicídio culposo e lesão corporal, entre outros crimes. Já os três sócios proprietários respondem por crime contra a saúde pública. Nenhum deles foi preso. A promotora de Justiça, Vanessa Fusco, afirmou que o risco foi assumido por eles, ao se usar produto tóxico na produção:

“A partir do momento em que se opta por se comprar uma substância tóxica, não adequada à indústria alimentícia, se assume o risco de que ocorra alguma adulteração, como efetivamente ocorreu. Então, a pessoa assumiu o risco de produzir estes resultados que nós vimos que foram óbitos e lesões corporais gravíssimas.”

Apesar da denúncia contra a Backer já ter sido acolhida, o julgamento dos réus ainda não começou. Segundo o Tribunal de Justiça de Minas, até agora, foi feita apenas a citação dos denunciados, sendo que um deles morreu durante o processo e a punibilidade foi extinta. Após essa fase, serão iniciadas as audiências de oitivas de vítimas e testemunhas. Porém, ainda não há uma data.

Enquanto o julgamento criminal segue paralisado, na esfera cívil, as vítimas já começaram a receber o pagamento pela Backer de auxílios emergenciais. Os recursos são usados na recuperação dos pacientes que ainda têm sequelas, mas as negociações estão em sigilo. Agora, os advogados das famílias tentam fechar os acordos de indenizações definitivas, principalmente para quem perdeu parentes.

A Backer foi procurada pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos sobre as indenizações.

Fonte – CBN Via Globo.com

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