A decisão da 3ª Vara Criminal de Palmas queautorizou a prisão do ex-governador Mauro Carlesse (Agir) revelou detalhes do suposto plano de fuga para o exterior. Segundo o documento, o político conseguiu emitir uma identidade uruguaia e até um passaporte italiano. Após ser preso na manhã deste domingo (15), em uma fazenda em São Salvador, ele foi transferido para uma carceragem em Palmas.
Mauro Carlesse foi governador do Tocantins entre 2018 e 2021, até ser afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e renunciar para evitar um processo de impeachment.
Na decisão que autorizou a prisão preventiva por suposto risco de fuga internacional, o juiz Márcio Soares da Cunha, destacou que Mauro Carlesse é alvo de diversas investigações como as operações Hygea e Éris, que apuram supostos pagamentos de propina no plano de saúde dos servidores públicos e aparelhamento da Polícia Civil, entre outras operações.
“[…] a Orcrim objeto da presente imputação mantinha conexões com essas outras organizações criminosas independentes, com agentes interagindo entre umas e outras na consecução de objetivos que se mostrassem convergentes”, diz trecho do documento.
A defesa do ex-governador informou que ele sempre esteve à disposição da Justiça e assim permanecerá. Também afirmou que irá apresentar o pedido de revogação da prisão.
Segundo o juiz, foram encontrados diálogos e indícios que comprovam um possível risco de fuga para o exterior de Mauro Carlesse e do sobrinho dele Claudinei Quaresemin, ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins, que também teve a prisão decretada.
“Evidencia-se a necessidade de se resguardar a instrução criminal e a aplicação da lei penal através da prisão cautelar antes que os acusados empreendam fuga para o exterior”, diz a decisão.
Queresemin, inclusive, está preso desde o dia 10 de dezembro em cumprimento a um mandado da Justiça Federal em outra operação, da Polícia Federal.
Passaporte e contas no exterior
Para os investigadores, Carlesse e Claudinei Quaresemin estavam prontos para fugir para Itália ou para o Uruguai. A decisão aponta que foram encontrados diálogos apontando que o ex-secretário teria providenciado documento de identidade e autorização para residência fixa no Uruguai para ambos.
Segundo a decisão, no dia 23 de abril de 2024, Quaresemin “remeteu a Mauro Carlesse uma foto da carteira de identidade uruguaia do ex-governador, expedida em 3 de abril de 2024”.
Em 4 de junho de 2024, o ex-secretário remeteu outra mensagem comunicando “que o pedido de residência permanente, formulado pelo ex-governador, havia sido deferido pela República Oriental do Uruguai no dia 24 de maio de 2024”.
Outras conversas mencionadas na decisão mostraram diálogos dos investigados de como enviar dinheiro para o exterior.
Depois, trava-se diálogo entre Mauro Carlesse e Claudinei Aparecido Quaresemin a respeito das contas e uma forma para mandarem dinheiro para uma conta no exterior, fato que pode constituir novos crimes de lavagem de ativos, tendo Claudinei sugerido que fosse feito pelo “câmbio” (câmbio paralelo, o que, além de lavagem, pode constituir crime de evasão de divisas)”.
Mais um indício apontado é que o ex-secretário teria feito tratativas para alugar uma casa na Itália usando o nome de uma intermediária. A investigação apontou ainda que Carlesse também vinha usando um endereço italiano para supostamente constituir advogados e requerer documentos para família.
“Apurou-se que Mauro Carlesse já está com seu passaporte italiano nas mãos, pronto para deixar o Brasil, tendo declarado residência em Marsciano (Perugia), onde o vilarejo de Pieve Caina está encravado”, diz a decisão.
Prisão
O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) foi transferido para uma carceragem em Palmas após passar por audiência de custódia na tarde deste domingo (15). Ele foi preso durante a manhã em uma fazenda em São Salvador, na região sul do estado.
Ele foi preso pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPTO), em cumprimento a um mandado de prisão preventiva expedido pela 3ª Vara Criminal de Palmas.