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Turismo e Gastronomia: Sirva-se desse cardápio

Foto – Carpe Mundi

Por Gorgônio Loureiro/Jornalista MT/Ba 5349

Quem nunca ouviu estas frases: “Voltei uma bola dessa viagem. A comida era deliciosa…” “Não dava para não comer. Cada prato melhor do que o outro…” “Qual é o prato típico daqui
e qual o melhor restaurante da cidade?” Estas são as reações que a gastronomia gera nos turistas.

Em um turismo globalizado, a gastronomia é um diferencial competitivo, por ser um bem de consumo cultural ao alcance do turista. A gastronomia está se tornando um importante
produto para, cada vez mais, ser um vetor de promoção utilizado para desenvolver um destino turístico.

Quem pode afirmar que o turismo não nasceu por causa da gastronomia? É necessário fazer ver que a gastronomia é protagonista e não coadjuvante dessa atividade. Entender a ferramenta que é a gastronomia para o turismo é torná-la um atrativo para aumentar o fluxo de turistas nos destinos de vocação gastronômica.

Não se costuma ver nenhum debate sobre a inserção da gastronomia como alavanca de desenvolvimento do turismo. A iniciativa de conhecer experiências exitosas em outros países que utilizam de forma magistral o turismo gastronômico com total sucesso. Essa prática soaria como o marco inicial de uma agenda para detectar interesses e promover o intercâmbio entre países que buscam o desenvolvimento da gastronomia e turismo, tendo a sustentabilidade como coadjuvante.

Este tema, a cada momento, faz parte dos planejamentos, estratégias de marketing e promoção dos mais diversos sítios turísticos dos cinco continentes, cada um vendendo sua gastronomia como atrativo ativo do destino: Por isso tem que se ter na mente e nos planos: “Hora e Vez do Turismo Gastronômico”.

A partir desse apelo universal, soa como uma provocação aos que pretendem debruçar-se no trabalho possível de transformar a gastronomia em atrativo que o turismo tem que
aprender a explorar com sabedoria. Agora é o momento de transformar a teoria em prática. “Gastronomia e Turismo: Como Fazer essa Inserção?” É uma receita que precisa ir para a panela e chegar até a mesa para ser degustada.

De repente, fazer um inventário dos tipos de gastronomia, produtos, temperos, ervas, sabores da terra, insumos, revelar a identidade do território de origem, qual a forma que é oferecida, quais impactos econômicos, ambientais e sociais ela produz na região. Conhecer experiências de outros lugares, como se deu essa transição e o formato, como foram introduzidas nos seus países. O contraponto do processo desse trabalho é conhecer suas estratégias para utilizar a diversidade gastronômica como ferramenta de marketing promocional para aumentar o fluxo de turistas no destino.

Para ilustrar e contextualizar estas colocações, trago algumas experiências vitoriosas em países com diversidade gastronômica menor, mas não menos importante, que o Brasil, mas
com potencial criativo maior pelas diversas estratégias utilizadas para introduzir a gastronomia ao turismo através das políticas públicas de Estado e não de Governo, que se muda a bel prazer de cada gestor que ocupa o posto e a cadeira.

A experiência que o Uruguai nos traz é um dos exemplos do desenvolvimento da gastronomia consorciado ao turismo. Este modelo se consolidou a partir da construção de um plano para ser aplicado em 20 anos, norteando as ações do turismo no Uruguai. Esse projeto foi lastreado em três Eixos: Marketing com enfoque principal de promoção e comunicação e social.

Para acompanhar sua correta aplicação e andamento, existe uma periódica avaliação entre os empresários e o governo, aproveitando o que deu certo para reaplicar e corrigindo o que não teve resultado desejado… Plano de gestão do território e diversificação de oferta, onde os vinhos são produtos que contam a história do turismo, do pais e da população. O turismo
tem uma linha social que prioriza o emprego, empreendedorismo e inclusão social.

Atividade econômica sustentável geradora de emprego e renda. A Espanha é o que se pode chamar de “um cardápio perfeito” de competências nesse segmento. Dentre todos os atrativos turísticos que o país oferece para seus visitantes está a rica gastronomia espanhola. São mais de 83 milhões de turistas por ano que gastam em torno de 146 euros por dia. Sendo que a motivação de 40% desses turistas é a gastronomia e 23 % do turismo em Madri é para gastronomia

Como a Espanha construiu sua estrada para chegar a este patamar de turismo e gastronomia? Inicialmente é feita a promoção utilizando os elementos sol e praia. Posteriormente as touradas e agora só a gastronomia é o apelo da vez, pois turista é de qualidade, ou seja, gasta dinheiro. Um país gastronômico por excelência com 25 milhões de restaurante no país, sendo que sete estão entre os principais do mundo.

Para chegar a esta posição de destaque, a Espanha teve que fazer a lição de casa já que, segundo Albert Einstein, “o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”, nem vem por acaso e, por isso, elegeu algumas estratégias e ações de marketing para alcançar a posição de país referência no turismo gastronômico.

-Tem que fazer parte do planejamento de marketing e comunicação. Saber que tipo de turismo quer promover com a campanha de comunicação e os turistas que quer atingir.
-Criar um produto forte e atraente para os turistas.
-Clubes de gastronomia com roteiros específicos para se sustentar. Rotas de vinhos, por exemplo. Protege o produto.
-Existem 20 destinos gastronômicos identificados na Espanha.

Em uma das edições do Mesa ao Vivo Bahia, o Cônsul da Espanha, Gonzalo Fournier, discorreu números impressionantes gerados pelo turismo e gastronomia naquele país.

Segundo ele, “acreditar no turismo é gastar dinheiro para a educação do povo e divulgação. Gastronomia como produto turístico faz parte do estilo de vida, da experiência dos turistas
na Espanha e do governo”. Ou seja, é política de governo. O turismo gastronômico é de maior qualidade, gera 8,3 de fidelidade por satisfação do turista na Espanha.

A gastronomia faz parte do amor da população espanhola. A gastronomia faz parte do estilo de vida na Espanha. Faz parte da marca turística da Espanha.

A gastronomia é turismo, o Brasil precisa beber nessa fonte de sabedoria de outras nações, onde já tiram proveito do que seu povo come no dia a dia. Em cada cidade no interior do
país tem uma D. Didi que faz uma pastilha de chocolate com 100% de cacau, leite e ovos que nenhuma fábrica reproduz essa experiência; outra região tem uma galinhada, tantos pratos de “lamber os beiços” e guardar na memória gustativa como tenho até hoje uma carne de sol com nata que comi há 20 anos em Natal, para não ir mais longe.

São Paulo está dando esse pontapé, investindo na descoberta das identidades da gastronomia do estado para alavancar o turismo através das “Rotas Gastronômicas”, projeto junto com a Revista Prazeres da Mesa. Blogs de Gastronomia com um viés para o turismo estão surgindo, como o “Prato do Dia” escrito com criatividade por Wander Levy.

Outros também querem conhecer essas experiências que a gastronomia pode oferecer de forma diversa e que estão escondidas por este rincão afora nas suas rotas, roteiros, zonas
turísticas gastronômicas com suas diversidades, seus Biomas. A gastronomia está abrindo a possibilidade de escrever-se um novo capítulo sobre o turismo brasileiro.

Sirva-se e bom apetite.

 

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