Cérebro – Foto: Pixabay/ johnrain/ Creative Commons
A relação entre a COVID-19 e a mente das pessoas é delicada e tem exigido muitos estudos para ser compreendida. E o mais recente desses estudos, realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford, aponta que 18% dos pacientes infectados com a COVID-19 desenvolvem uma doença mental (incluindo demência, depressão, ansiedade e insônia) em questão de três meses.
Eles também descobriram que pacientes com problemas psiquiátricos preexistentes tinham 65% mais probabilidade de serem diagnosticados com COVID-19. O artigo foi publicado na revista científica The Lancet.
“Esta descoberta foi inesperada e precisa de investigação. Ter um transtorno psiquiátrico deve ser adicionado à lista de fatores de risco para COVID-19”, disse Max Taquet, co-autor e pesquisador clínico acadêmico em Oxford, durante uma entrevista ao portal britânico The Guardian.
Os pesquisadores descobriram que pacientes com COVID-19 exibiam alguns sintomas neurológicos incomuns, incluindo perda de memória e derrame. Enquanto isso, outro estudo, realizado por pesquisadores da Escola de Medicina da New York University, descobriu que o vírus era responsável por lesões neurológicas potencialmente danosas, que vão desde confusão temporária a convulsões, em cerca de um em sete pacientes com COVID-19.
Isso torna a descoberta de Oxford alarmante, mas muitas questões permanecem. Não está claro, por exemplo, se os efeitos da doença mental são causados pela própria COVID-19, por doenças preexistentes ou por outra variável de confusão. Outra hipótese apontada pelos pesquisadores é que os problemas de saúde mental podem ser causados por medicamentos usados para tratar esses transtornos.
“As pessoas temem que os sobreviventes da COVID-19 corram maior risco de problemas de saúde mental, e nossas descobertas mostram que isso é provável”, declarou Paul Harrison, co-autor do artigo e professor de psiquiatria em Oxford. Ele completou que os serviços de saúde precisam se preparar, porque os resultados provavelmente serão subestimados.
O estudo de Oxford
O trabalho científico examinou prontuários de 69 milhões de americanos. Os dados não incluíam registros mais detalhados sobre os pacientes, como histórico socioeconômico ou uso de outros medicamentos. “Não é nada implausível que a COVID-19 possa ter algum efeito direto sobre seu cérebro e sua saúde mental. Mas acho que, mais uma vez, isso ainda precisa ser demonstrado positivamente”, afirmou o co-autor.
Harrison também enfatizou que o estresse geral de simplesmente viver durante uma pandemia global pode ter influenciado os números. Outros especialistas concordaram que devemos tratar os resultados com cautela. “É difícil julgar a importância dessas descobertas. Pode não ser surpreendente que isso aconteça com um pouco mais de frequência em pessoas com COVID-19, que podem, compreensivelmente, ter ficado preocupadas com a possibilidade de adoecerem gravemente e que também terão que suportar um período de isolamento”, disse o professor David Curtis, da University College London, ao The Guardian.