(Giles Clark/UNOCHA/Divulgação)

Elas foram mortas, estupradas, usadas como escudo-humano, recrutadas como soldados, casaram contra a vontade e escravizadas. Em 2017, cravou a Unicef, braço da Organização Mundial das Nações Unidas para a infância, os ataques contra crianças em diferentes partes do mundo atingiram níveis chocantes.

O retrato da infância, especialmente em países que vivem conflitos armados ou turbulências políticas, é sombrio. Por onde quer que se olhe, mostrou um levantamento produzido pela Unicef, governos e atores que participam dessas instabilidades agem contra a legislação internacional que deveria proteger os mais vulneráveis.

Na República Democrática do Congo, 850 mil crianças foram forçadas a deixar seus lares e mais de 400 escolas foram atacadas por insurgentes. Já na Nigéria e em Camarões, o grupo terrorista Boko Haram usou ao menos 185 crianças em ataques suicidas, enquanto no Sudão do Sul, cerca de 20 mil delas foram recrutadas como soldados.

Da África para a Ásia, ao menos 700 crianças foram mortas em ataques nos primeiros meses do ano no Afeganistão, país retaliado por disputas territoriais entre governo e Talibã e que ainda sofre com a consolidação de grupos terroristas, como o Estado Islâmico. Em Mianmar, o deslocamento forçado em razão de ataques das forças armadas do país é a realidade de milhares de crianças da minoria rohingya.

No Iêmen, a situação da população como um todo se tornou ainda mais delicada em 2017. Arrasado por uma guerra civil que parece não ter fim, o país registrou 5 mil crianças mortas ou feridas em razão dos conflitos e ao menos 11 milhões precisam de ajuda humanitária. 1,8 milhão de crianças sofrem pela má nutrição e quase 400 mil correm o risco de morrer por fome.

Mas as atrocidades cometidas contra crianças não são reservadas apenas para países pobres e turbulentos e foram registradas também na Europa, especialmente na Ucrânia. Segundo a Unicef, 200 mil crianças do leste do país vivem sob a ameaça de explosivos na região onde os conflitos com separatistas pró-Rússia são mais intensos.

“Os ataques continuam todos os anos, mas não podemos nos tornar imunes a eles. A brutalidade não pode ser o novo normal”, disse Manuel Fontaine, diretor do programa de emergências da entidade. “Não há mais espaços seguros para essas crianças, uma vez que viraram alvos em escolas, lares e até playgrounds”, continuou.

Por Gabriela Ruic

Fonte: Exame