Quatro tomadas, wi-fi, lixas de unha gratuitas e até lenços umedecidos, isso tudo dentro de um carro compartilhado. A combinação faz parte do serviço oferecido por Frederico Correia da Silva, de 66 anos, que há mais de um ano mudou de profissão: passou de caminhoneiro para motorista de aplicativo.
Se reinventar depois dos 60 anos é uma tendência no Distrito Federal e no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre do ano passado 46% da população ocupada com mais de 60 anos trabalhava por conta própria e 9,3% eram empreendedores.
No entanto, o número de motoristas acima de 60 anos no DF ainda é pequeno. De acordo com uma das empresas da modalidade, Uber, apenas 4% dos motoristas considerados mais engajados – que recebem mais elogios – estão na maioridade.
No caso de Frederico, os anos e a experiência também trouxeram dicas de como lidar com as pessoas nos dias de hoje, que ele considera muito agitados. Segundo ele o respeito e a paciência somam pontos.
“Considero os passageiros como os meus patrões. E eu trato eles como eu gostaria de ser tratado, sempre com muito respeito.”
Atualmente, Frederico é casado e tem um filho e duas netas. Para ele, a família é uma das referências e bases para o bom serviço.
O motorista bom de ouvido
Entre as idas e vindas pela capital do país, Frederico disse que já viveu algumas situações de muita escuta. Certa vez, enquanto levava uma mulher para o hospital do coração, Frederico foi mais que um motorista.
Ele conta que a passageira estava muito nervosa e, então, começou a conversar com ela. Aos poucos, a mulher foi se acalmando. Na hora de deixar a passageira, Frederico desceu para abrir a porta e recebeu o pedido: “O senhor poderia me dar um abraço”.
Para o motorista, as pessoas precisam e querem ser mais escutadas.
“Temos que entender um pouco do nervosismo das pessoas. Muitas delas só querem que alguém as escute.”
Mesmo assim, o ex-caminhoneiro diz que não se considera um “psicólogo”. Segundo ele, o respeito é o caminho para tratar as pessoas, independentemente da situação em que os passageiros estejam.
Espírito de empreendedor
O ex-caminhoneiro disse que quando entrou na mercado como motorista, já existiam muitas coisas para proporcionar a melhor experiência ao usuário, como água e balinhas. “Eu procurei fazer diferente, porque nessa hora temos que ser um empreendedor”, afirma Frederico.
“A gente tem que inovar.”
Para o sexagenário, as adaptações feitas no carro são “uma questão de atender bem o passageiro, porque a satisfação do usuário pode ser maior do que a do motorista”.