Quando criança, tudo que Fernanda sonhava era morar em uma casa sem goteiras. Ela lembra de olhar para o teto e pensar em como “sentia raiva da chuva”.
Ao lado dos pais e dos cinco irmãos, a potiguar vivia em uma casa “bem pequena, de taipa e tijolos brancos” em Natal, no Rio Grande do Norte. Havia uma sala, cozinha, dois quartos e um banheiro no quintal – todos com goteira.
Não era fácil: sempre que chovia, uma caixa de papelão transformada em guarda-roupa improvisado, a cama e o chão ficaram completamente encharcados.
O reboco da parede, feito de barro, era facilmente permeável pela água e deixava um cheiro ambiente desagradável pela casa.
“O que eu pensava era que quando crescesse ia querer uma casa que não tivesse goteiras”, diz. “Era com isso que eu sonhava.”
Formada em Controle Ambiental e tecnóloga em Construção de Edifícios, Fernanda em breve se formará em Engenharia Civil. Aos 21 anos, relembra sua trajetória, de uma infância difícil ao voluntariado em um projeto cidadão que não cobra nada para reformar casas de famílias carentes da capital.
Batizado de ReforAmar, o projeto nasceu em julho do ano passado com a missão de “mudar aquilo que mais incomoda” nas residências de pessoas de baixa renda, asilos e, em breve, abrigos de crianças. “A Fernanda criança ia querer que trocassem o telhado, para não cair mais chuva dentro de casa, mas para outras pessoas pode haver outras prioridades”, diz um voluntário. As prioridades variam entre paredes pintadas até obras mais complexas.
Foram atendidas até o momento cinco casas e um asilo de Natal. Em poucos meses, o número de voluntários saltou de 5 para 70, e cinco novas obras serão atendidas até o final deste ano.
Fernanda espera expandir o alcance do projeto. “A intenção é chegar a outras cidades e quem sabe crescer a ponto de também poder contratar pessoas. Mas tudo com os pés no chão”.
A construtora diz que seu projeto “não tem data para acabar”.
Uma espécie de “faz-tudo”, Fernanda literalmente põe a massa na massa na reforma de casas e ajuda na contratação de pessoal para auxiliar nas obras e na área de eventos. Também é operadora de caixa. Estuda nas horas vagas.
Quando finalmente tiver o diploma de engenheira civil em mãos, ela espera fazer uma especialização em perícia e patologia de edificações, além da área de gestão de projetos.
Futuramente, almeja abrir um empreendimento e continuar a ação voluntária.
Aos 22 anos, Fernanda ainda vive na mesma casa que já foi de taipa no passado.
A casa não tem mais goteiras, nem aquele cheiro ruim emanando das paredes. Com a ajuda de um tio, reformou seu lar com as próprias irmãos, auxiliada pelos irmãos, que serviram de ajudantes.
Felizmente, quando a chuva vem, é super bem-vinda: “É bom demais ficar em casa com uma chuvinha tirando o calor de Natal”.
Fonte: Razões para Acreditar
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