Deltino Uketê, de 29 anos, percorreu um longo e tortuoso caminho até conseguir se tornar professora. Mulher indígena transexual, da etnia Javaé, a educadora dá aulas de língua indígena para crianças e jovens da aldeia Txuode, na Ilha do Bananal, em Lagoa da Confusão (TO).
A indígena começou a estudar apenas aos 9 anos devido ao difícil acesso à escola, que ficava em outra aldeia da região. Aos 17 anos precisou largar a escola de novo para trabalhar como babá para que os primos mais velhos pudessem estudar. Uketê só conseguiu terminar o ensino médio aos 23 anos.
Ela conta que atingiu o objetivo de concluir o ensino médio após muita luta e superação de problemas. A mãe de Uketê desapareceu em 2012, e jamais foi encontrada. Hoje, ela vive com o pai.
“Tem gente que fala que morreu e outros, que ela está viva, mas ninguém sabe. Fizeram investigação, mas ninguém descobriu nada. Nem polícia.”
A professora conta que muito além dos problemas envolvendo o atraso nos estudos, foi o preconceito com relação à sua identidade de gênero e orientação sexual.
Ainda criança, percebeu que não se comportava como os meninos de sua idade. Anos depois, ela conta ter conseguido a aceitação dos membros da família. “Me assumi quando tinha 18 anos e nem minha mãe me aceitou. Agora dentro da aldeia é normal. Fora da aldeia ninguém nota que eu sou trans.”
Após se formar no ensino médio, Uketê fez um curso profissionalizante e se tornou professora na aldeia. Hoje, ensina 27 alunos do primeiro ao nono ano.
Para a indígena, manter viva a tradição que é passada de geração em geração através da linguagem é fundamental. “É muito importante as crianças entenderem e saber valorizar a sua linguagem materna. Eu ensino porque alguns povos já esqueceram suas linguagens ou seus costumes e minha função é ajudar o meu povo.”
Fonte: Razões para Acreditar com informações do G1 Tocantins________________________________________________________________________