Tocantins pode dar uma importante contribuição para a redução de gases de efeito estufa. Quem afirma é a pesquisadora da Embrapa Pesca e Aquicultura, Márcia Grise, que na última quinta-feira, em palestra na Agrotins, falou sobre o potencial de uso de sistemas agrícolas e pecuários sustentáveis na mitigação de gases que promovem o aquecimento global. “Ao estabelecer o Plano ABC estadual, Tocantins se propôs a recuperar 1,2 milhões de hectares de pastagens degradadas”, afirma ela. A área é equivalente a 12 mil campos de futebol. No Brasil, estima-se que 100 milhões de hectares de pastagens no país estariam com nível de degradação forte ou moderado, necessitando alguma forma de intervenção.
Vale ressaltar que, na prática, não seria possível recuperar, ao mesmo tempo, todas essas áreas de pastagens improdutivas, pois não haveria insumos (adubos, sementes, etc.) suficientes para serem usados, gado para ocupar essas áreas e consumir a forragem desses pastos recuperados, além de mercado para absorver toda a carne (ou leite) produzida. “No entanto, considerando que os índices zootécnicos de pastagens recuperadas estão muito acima dos índices de pastagens degradadas ou em degradação, seria possível inferir que a recuperação de um percentual relativamente pequeno dessas áreas já teria forte impacto positivo no aumento da produção e da eficiência da pecuária nacional”, afirma o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Moacyr Bernardino Dias Filho.
Márcia Grise destaca que os esforços do Brasil para mitigar as emissões de gases de efeito estufa na agropecuária geraram o Plano ABC, que é composto por sete programas, seis deles referentes às tecnologias de mitigação, e ainda um último programa com ações de adaptação às mudanças climáticas: Recuperação de Pastagens Degradadas; Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); Sistema Plantio Direto (SPD); Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN); Florestas Plantadas; Tratamento de Dejetos Animais; Adaptação às Mudanças Climáticas. “A agropecuária contribui com a missão de 31,3% dos gases de efeito estufa (GEE), sobretudo com metano e óxido nitroso. As maiores fontes de emissão desses gases são o cultivo de arroz irrigado, pecuária, dejetos de animais e queima de resíduos agrícolas”, enumera a pesquisadora.
Mas engana-se quem pensa que não é possível conjugar produção agropecuária com redução de GEE. Segundo Márcia Grise, há opções de intensificação sustentável, ou seja, produzir mais em menor área, com mais eficiência. Só o Cerrado tem potencial de sequestro de carbono de até três toneladas por hectare ao ano. “A introdução de gramíneas tropicais com elevada capacidade de enraizamento aumenta a capacidade de armazenamento de carbono no solo, assim como o aumento da matéria orgânica no solo. Esses são dois exemplos de alternativas para aumentar o sequestro de carbono”, enumera a pesquisadora.
Até a pecuária pode atuar na redução de GEE. Apesar da fermentação entérica do gado promover altas emissões de carbono, a bovinocultura possui um grande potencial de sequestro e fixação de carbono por meio da recuperação de pastagens degradadas e intensificação da produção. “A bovinocultura do Tocantins apresenta uma emissão líquida de até 1,98 milhões de toneladas de carbono ao ano. Se o estado recuperar 740 mil hectares de pastagem, em 11 anos se evitará a emissão de 21,75 milhões de toneladas de GEE, aumentando o estoque de carbono no solo em 9,2 milhões de toneladas ao ano”, calcula a Marcia Grise.
fonte:Embrapa Pesca e Aquicultura