Histórias seculares das tradições indígenas dos povos Javaé, Kuikuro e Kadiweu, ganham vida nas telas com um filme média-metragem que mistura animação com live action. O filme Mitos Indígenas em Travessia estreia nas comunidades indígenas que participaram da co-criação do filme. A partir do dia 16 de dezembro, o filme ficará disponível online, com conteúdos educativos e documentários sobre cada uma das aldeias.
A animação mistura imagens reais das aldeias e reservas com animações criadas sobre mitos tradicionais da cultura de cada comunidade. São seis histórias retratadas no filme dirigido por Julia Vellutini e Wesley Rodrigues e produzido pela Zureta Filmes. Mitos Indígenas em Travessia tem o patrocínio da Energisa por meio da Lei de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura, do Ministério da Cidadania e do Governo Federal.
A primeira exibição aconteceu na última quarta-feira, na Aldeia Indígena São João, da etnia Javaé, na Terra Indígena Parque do Araguaia, Ilha do Bananal, Tocantins. “Foi emocionante! Reencontramos os integrantes que participaram da co-criação das imagens e a expectativa para o filme era muito alta! Eles se reconheceram nos filmes, com as histórias tradicionais do povo Javaé transmitidas na tela foi muito bonito”, contou a diretora, Julia Vellutini.
É a primeira vez que as comunidades poderão ver na tela as histórias e mitos tradicionais que simbolizam sua fatos e memórias antigos, a cultura tradicional das aldeias, e a relação entre a natureza e o sagrado para os diferentes povos indígenas.
Mito e realidade se confundem em diferentes momentos na produção do filme. As paisagens reais foram gravadas em diferentes pontos das aldeias, onde representavam os locais onde teriam ocorrido as histórias mitológicas recontadas por gerações. Na Aldeia São João, localizada no Tocantins, a equipe se surpreendeu com o voo de um urubu em meio a um grande arco-íris enquanto captava imagens da comunidade para a animação que retrata o animal como uma figura mítica que encobria o sol na aldeia.
As histórias animadas no filme foram narradas por anciões e membros das aldeias, em sessões que reuniam crianças e outros integrantes das comunidades e a equipe do filme. Na aldeia Afukuri, no Alto Xingu (MT), as histórias foram transmitida na língua nativa Karíb pelo fundador da aldeia, Tayoha Kuikuro. Depois da narrativa, a história era transcrita e traduzida à equipe de produção das animações.
A partir das histórias narradas, crianças e jovens das aldeias participavam de oficinas de desenho, storyboard e roteiro em que colaboraram na adaptação dos mitos ao filme. Os desenhos criados pelos jovens também inspiraram os designs de personagem e elementos da animação final produzida em São Paulo. Após um mês de oficinas e captação de imagens em terras indígenas, a equipe levou mais seis meses dedicados à animação e finalização do média-metragem.
“Nós fizemos uma ampla pesquisa para mergulhar no universo das aldeias visitadas, que envolve sua cosmologia, seus cantos e sons, suas brincadeiras e rituais, sua relação com a natureza e o sagrado. Parte do material produzido foi transformado em atividades lúdicas e pedagógicas, para compartilhar a riqueza dessa diversidade cultural com as crianças nas escolas”, conta a diretora, Julia Vellutini.
Após o lançamento, as histórias serão disponibilizadas em plataforma digital, de forma gratuita, junto com fotos, documentários sobre o processo de co-criação e material pedagógico gerado em oficinas, como vídeos e sugestões de exercícios, atividades lúdicas e brincadeiras para sala de aula. O objetivo é promover o ensino e a transmissão da cultura indígena para crianças de outras realidades em todo o Brasil.
Mitos Indígenas em Travessia tem o patrocínio da Energisa por meio da Lei de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura, do Ministério da Cidadania e do Governo Federal.
Confira um teaser do vídeo aqui.
Sinopse: Mitos Indígenas em Travessia (2019, Julia Vellutini e Wesley Rodrigues)
Média-metragem que mistura live-action com animação. Retrata seis histórias indígenas dos tempos antigos das etnias Kuikuro (Aldeia Afukuri, Terra Índígena Parque do Xingu, Mato Grosso), Javaé (Aldeia São João, Terra Indígena Parque do Araguaia, Ilha do Bananal, Tocantins) e Kadiwéu (Aldeia São João, Terra Indígena Kadiwéu, Mato Grosso do Sul). O média-metragem foi cocriado a partir de oficinas de audiovisual realizadas nas aldeias, em que histórias tradicionais eram transmitidas por pessoas indicadas pela comunidade, geralmente anciões, para serem recriadas em desenhos e filmagens feitas em conjunto com as comunidades das aldeias.
A Ema – Aldeia São João (Terra Indígena Kadiwéu, Mato Grosso do Sul)
Em um tempo antigo, quando os animais eram gigantescos, um grupo de caçadores luta para escapar de uma perigosa Ema selvagem.
O Menino-Peixe – Aldeia Afukuri, (Terra indígena Parque do Xingu, Mato Grosso)
Em meio a uma pescaria com timbó, um garoto-peixe supera os maus-tratos de seus invejosos tios.
As Mulheres Sem Rosto – Aldeia São João (Terra indígena parque do Araguaia, Ilha do Bananal, Tocantins)
Ao roubar jenipapo das mulheres sem rosto, o demiurgo Tan~yxiwè precisará da ajuda de uma Anta para escapar com vida.
A Via Láctea – Aldeia Afukuri, (Terra indígena Parque do Xingu, Mato Grosso)
Três pescadores adentram um misterioso rio celeste. Com a ajuda de um periquito, precisarão enfrentar perigosos bichos em uma jornada pelo rio de volta à aldeia.
A Menina e a Cobra – Aldeia São João (Terra Indígena Kadiwéu, Mato Grosso do Sul)
Uma garotinha é encantada por uma cobra na beira do rio.
O Urubu-rei – Aldeia São João (Terra indígena parque do Araguaia, Ilha do Bananal, Tocantins)
Nos tempos em que o mundo ainda era escuro, o demiurgo Tan~yxiwè precisará
enganar o Urubu-Rei para conquistar o sol.