A ex-modelo Carol Bryan teve seu rosto deformado após realizar um preenchimento facial para “corrigir” a falta de volume na testa e nas maçãs do rosto, em 2009, aos 47 anos. Assustada com os resultados, ela realizou procedimentos corretivos que só pioraram o quadro. Ao remover o volume extra em sua testa, um nervo óptico foi atingido e ela perdeu a visão de seu olho direito. “Meu rosto começou a inchar e contrair a tal ponto que, além de ter que me esconder da minha família e amigos, me escondi de mim mesma, nunca me olhando no espelho”, disse ao jornal The Independent, no último sábado (18).
A história de Carol se tornou conhecida recentemente porque ela começou uma campanha na Flórida (EUA) para aumentar a conscientização sobre como até os procedimentos estéticos considerados inofensivos podem ser perigosos. Chamada Saving Face, ou salvando o rosto, em tradução livre, a iniciativa pretende apoiar quem passou por problemas parecidos aos da americana.
“Hoje me sinto incrível. Estou feliz por estar viva e provavelmente no melhor estado mental que já conheci”, disse ao jornal. Mas na época das cirurgias, não foi bem assim. “Eu não saí de casa. Me trancava no quarto, não tinha certeza se poderia sobreviver. Eu considerei suicídio”.
O resultado falho dos preenchimentos foi uma surpresa para ela, que fazia botox desde os 30 anos, para suavizar as linhas do rosto. Segundo ela, o problema foi que os preenchimentos diferentes foram combinados na mesma seringa e injetados no rosto em uma área errada.
O inchaço e os hematomas após os procedimentos eram normais, mas quando três meses depois o rosto piorou, ela ficou “aterrorizada com sua aparência”. Após a cirurgia corretiva que a deixou cega, ela não se reconheceu. “Eu senti como se tivesse a cabeça de um alienígena, minha testa era tão pesada que caiu e cobriu meus olhos. Eu não podia ver, a menos que eu levantasse minha testa.”.
Após três anos sofrendo, sua filha a forçou a procurar ajuda em Los Angeles. “Minha condição no momento em que apresentei aos médicos da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) era sem precedentes”, ela lembra.
Carol passou por múltiplas cirurgias no rosto. Segundo ela, a mais dolorosa foi enxertar a pele das costas na testa. “Demorou 17 horas”.
Hoje, ela não se arrepende do que fez, porque, independentemente do quanto sofreu, considera que ganhou um chamado novo e digno. Agora, ela exige regulamentos mais rígidos para os profissionais e incentiva as pessoas a considerarem cuidadosamente por que elas desejam tratamentos cosméticos.
“Para quem ler minha história, espero que entendam primeiro que são bonitos assim como são e merecem ser amados. Nossa perspectiva coletiva sobre a beleza é tão falha que é cada vez mais raro conhecer alguém que vê sua própria beleza”, diz. “Se você decidir fazer um procedimento, converse com alguém em quem confie e considere as razões pelas quais deseja o procedimento”, aconselha.
Cuidados básicos A SBPC (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e entidades médicas alertam para os cuidados que devem ser tomados na hora de decidir fazer um tratamento estético ou uma cirurgia plástica e evitar pessoas que atuam de forma irregular e clandestina.
Primeiro, é importante conferir a especialização do médico. A recomendação é procurar um profissional qualificado em tratamentos estéticos, como cirurgiões plásticos ou dermatologistas.
Houve um crescimento grande no número de procedimentos estéticos na face, principalmente preenchimentos e toxina botulínica, segundo Luís Felipe Maatz, médico com especialização em cirurgia geral e cirurgia plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Ao mesmo tempo, muitos profissionais que, de acordo com Maatz, não são habilitados também começaram a fazer esses procedimentos.
“Antes eram só dermatologistas e cirurgiões plásticos, mas médicos não especialistas, dentistas, biomédicos e até farmacêuticos ‘estetas’ entraram no mercado respaldados por seus conselhos”, diz. Maatz afirma que, sem o conhecimento anatômico, técnico ou profundo do que se deve fazer, obviamente ocorrem casos como o de Carol. “E problemas assim só têm aumentado. Virou algo banalizado, como se não precisasse de cuidados. Não é como ir ao cabeleireiro, não é cosmético. É invasivo, você está injetando um produto”.
Como a discussão ainda é recente, não existe lei única que regulamente até que ponto os especialistas podem ir. O CFO (Conselho Federal de Odontologia) lançou uma portaria, em março de 2019, para permitir que dentistas realizem a chamada harmonização orofacial, por exemplo. O CFM (Conselho Federal de Medicina) e a AMB (Associação Médica Brasileira) repudiam a ação.
Enquanto a briga sobre quem deve fazer os procedimentos não termina, é importante ter uma boa relação o médico para que todas as dúvidas sobre o resultado do procedimento ou possíveis complicações sejam esclarecidas.
“A boa relação médico e paciente é fundamental. A busca de profissionais somente por redes sociais pode se tornar perigosa, já que o número de seguidores não quer dizer a capacidade técnica e profissional do médico”, diz o diretor-geral da SBCP Nacional, Leandro Pereira*.
É o que diz Carol em sua campanha. Desde os problemas que teve, ela não realizou outro procedimento estético, mas não se diz contra. A ex-modelo apenas frisa que as pessoas devem ser aproximar dos médicos que consideram o bem-estar físico e mental dos pacientes.
Problemas que podem ocorrer durante um procedimento, segundo os médicos: Choque anafilático (reação alérgica grave) Reações urticariformes (lesões na pele) Cicatrizes e deformidades Sequelas mais graves, como necrose e cegueira, caso os produtos sejam aplicados de forma errada e parem na circulação sanguínea.
fonte: Uol Viva Bem