Ana Negreiros – Gazeta do Cerrado

Isso não vai acontecer aqui!”. “Só acontece nas grandes cidades”. “Moço, vamos fazer nosso churrasco, que isso não vem aqui”. Quem vive no interior tocantinense sabe que essas frases são bem comuns. O Covid-19 poderia chegar a qualquer lugar, menos nas pequenas cidades. Até áudio no WhatsApp falando da surpresa do coronavírus ter chegado, já circulou. E o que seriam “lindas férias”, na verdade é isolamento social. Mas o complexo de imunidade (acontece com o outro e não comigo) terá que ser deixado para trás. É exatamente no extremo norte tocantinense, o chamado Bico do Papagaio, que estão a maioria das cidades com casos registrados. São 12 cidades.

Muitos acham que só lugares com muitas pessoas se contaminam. Agora está aí a prova. Não tem ninguém imune”, comenta a moradora de Tocantinópolis e professora na rede estadual, Jacira Alves. Para ela, o interior passa a “falsa ideia de proteção” e por isso “o isolamento social não tem sido cumprido como deveria”. Ela diz que isso acontece por “acharmos que somos de lugar pequeno, que somos poucas pessoas, sem opção para sair e todo mundo se conhece. Mas na verdade, as pessoas das cidades grandes que podem estão indo para o interior descansar. E aproveitam para passear. Encontrar amigos e familiares”, comenta. Jacira conta que na sua família mesmo, todos ficam juntos.

 

Mudança

A professora, que já está de volta às suas atividades na escola, comenta que está na hora das pessoas mudarem suas atitudes. “Se as pessoas cumprissem realmente o isolamento domiciliar, evitaria. A gente até poderia achar que estávamos protegidos. Mas não cumprem. Mesmo sem alunos, estamos aqui numa escola fantasma e com medo. De qualquer forma um risco estar fora de casa”, detalha.

O Tocantins já tem desde abril a transmissão comunitária. Já são 39 cidades no Estado com casos confirmados, destas, 8 estão na região Norte, 7 no Sul, 1 no Sudeste, 5 no Centro, 4 no Centro-Oeste e 2 no Leste (região do Jalapão) . As outras 12, no Bico do Papagaio. E é por isso, que o isolamento social com distanciamento social é tão importante. Hoje, em todo o Estado, é obrigatório o uso de máscara. Mas é evitando aglomerações, mesmo que em reuniões familiares, que vidas serão salvas.

 

Medo

Como mãe e vivendo no interior, Jacira se preocupa com a falta de estrutura na saúde. Hoje, o tocantinense caminha em média 400 quilômetros para chegar a um leito de Unidade de Terapia Intensiva –  UTI. No caso dela, o mais próximo é Araguaína, a uma distância de 150 quilômetros. “Tocantinópolis só tem um respirador. Se algo grave acontecer, me preocupa porque dependemos de Araguaína e Palmas, que já possuem grande demanda. Fico preocupada por que meu filho tem um futuro todo pela frente. É assustador”, revela.

Casos por região

Extremo Norte ou Bico do Papagaio: São Miguel do Tocantins (18), Araguatins (7), Augustinópolis (4), Sampaio, Sítio Novo (3), Axixá do Tocantins (3), Tocantinópolis (3), Aguiarnópolis (2), Palmeiras do Tocantins, Ananás (1), Maurilândia do Tocantins (2) e Darcinópolis (3).

Região Norte: Araguaína (194), Guaraí (10), Tabocão (5), Nova Olinda (8), Wanderlândia (7), Colinas do Tocantins (4), Couto de Magalhães (7) e Bandeirantes do Tocantins (1).

Região Central: Palmas (141), Miracema do Tocantins (1), Porto Nacional (3), Nova Rosalândia (1) e Miranorte (4)

Região Sul: Gurupi (22), Cariri do Tocantins (17), Aliança do Tocantins (1), Alvorada do Tocantins, (1), Figueirópolis, Formoso do Araguaia (1) e Fátima (1)

Região Sudeste: Dianópolis (1)

Região Centro-Oeste: Abreulândia (1), Cristalândia (1), Paraíso do Tocantins (10) e Barrolândia (1)

Região Leste ou Jalapão: Lizarda (1) e Novo Acordo (1).