Equipe Gazeta do Cerrado

Várias lideranças indígenas Akawê-Xerente repudiaram nesta terça-feira, 23, atos de racismo contra a comunidade no Tocantins.(Veja a nota completa no final da matéria)

Eles criticaram atitudes preconceituosas de moradores não indígenas da cidade de Tocantínia, na região central do Estado por conta do isolamento de dois indígenas que se recuperaram da da Covid-19. 

“É com profunda tristeza e revolta que nós lideranças indígenas Akwẽ-Xerente vem a público manifestar o nosso veemente repúdio às manifestações de ódio, preconceito, discriminação e racismo visceral que a comunidade não indígena da cidade de Tocantínia externou ontem 22 de junho de 2020, em grupo de WhatsApp intitulado como MO CO TO, em virtude da presença de dois indígenas recuperados da COVID-19 que deverão cumprir as medidas de isolamento na Escola Municipal Professor Constantino Pedro de Castro.”, diz parte da nota.

Os líderes falaram ainda sobre a alegria de ter dois indígenas recuperados. 

“Para nós era momento de muita alegria pelo fato dos 2 (dois) dos 3 (três) indígenas que testaram positivo para COVID-19 de ter se recuperado, porém, a grande maioria dos não indígenas da cidade de Tocantínia – TO, foram desumanos com os pacientes, familiares e a comunidade indígena.”, ressaltou.

Entenda o caso

A Gazeta acompanha o caso desde quando os indígenas foram diagnosticados com a doença no Estado. Houve inclusive divergências entre os dados do Estado com o Ministério da Saúde. Veja abaixo:

Dois indígenas Xerentes tiveram alta nesta segunda-feira, 22, após se recuperarem da Covid. Elas deixaram o hospital regional de Miracema com balões e cartaz dizendo: “primeiros xerentes recuperados”.

Os Xerentes moram numa das aldeias de Tocantínia, região central do Tocantins e seguirão com o isolamento numa escola da cidade.

A Gazeta busca mais detalhes sobre a situação deles.

Divergência de dados

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-TO) chegou a informar que 10 indígenas teriam se infectado por Covid, porém horas depois o Ministério da Saúde em nota à Gazeta informou que o número não seria esse e sim apenas dois.

Leia sobre o assunto – Ministério da Saúde contesta dados estaduais sobre covid em indígenas; são só 2 no TO 

 

Veja nota na íntegra

É com profunda tristeza e revolta que nós lideranças indígenas Akwẽ-Xerente vem a público manifestar o nosso veemente repúdio às manifestações de ódio, preconceito, discriminação e racismo visceral que a comunidade não indígena da cidade de Tocantínia externou ontem 22 de junho de 2020, em grupo de WhatsApp intitulado como MO CO TO, em virtude da presença de dois indígenas recuperados da COVID-19 que deverão cumprir as medidas de isolamento na Escola Municipal Professor Constantino Pedro de Castro.

Quanto a orientação de cumprimento de medidas de isolamento, o poder público municipal e Sesai nada fizeram para orientar a comunidade não indígena com escopo de evitar essas manifestações preconceituosas, discriminatórias e racista com que a comunidade indígena teve que lidar.

Recuperação

Para nós era momento de muita alegria pelo fato dos 2 (dois) dos 3 (três) indígenas que testaram positivo para COVID-19 de ter se recuperado, porém, a grande maioria dos não indígenas da cidade de Tocantínia – TO, foram desumanos com os pacientes, familiares e a comunidade indígena.

No mesmo dia, a chefe do Polo Base de Saúde Indígena de Tocantínia, maltratou de forma desumana uma filha de um dos pacientes indígena recuperados da COVID-19, por mensagem de áudio. Portanto, repudiamos veemente a atitude desumana da chefe, de ter maltratada uma indígena quando ela ligou diversas vezes para obter informações sobre o porquê dos pacientes ficarem por 1 hora e 50 minutos dentro da ambulância para poder adentrar ao local onde cumpriria o isolamento antes de serem levados para aldeia. Portanto, despreparado para atuar junto à comunidade.

As informações do poder público municipal e o Polo Base de Saúde de que já estava tudo certo o local para os indígenas recuperados cumprirem a quarentena  antes ir as suas aldeias, é uma inverdade, pois ao chegarem no local o porteiro não deixou a entrada dos pacientes ao local.

Nestes termos, manifestamos pela investigação das práticas preconceituosas e racistas por parte dos moradores não indígena de Tocantínia – TO, instalação de espaço adequado para que os pacientes indígenas cumprem a quarentena, tendo em vista, que a escola possui banheiros coletivos com instalações precárias, salas com pouca ventilação e iluminação além disso, não há muros ao redor da escola e afastamento imediato da chefe do Polo Base de Saúde Indígena de Tocanínia – TO.

As lideranças indígenas, portanto, denunciam os atos preconceituosas, discriminatórios e racistas contra a comunidade indígena Akwẽ-Xerente, e repudiamos qualquer ato que é reflexo direto do discurso de ódio do Governo Bolsonaro contra os povos indígenas do Brasil, e chamamos a todos os movimentos, organizações e os segmentos solidários da sociedade a se somarem conosco nesta batalha pela vida e o bem viver não apenas dos povos indígenas mas de toda a humanidade.

Tocantínia – TO, 23 de junho de 2020

Subscrevem a nota as lideranças

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Ângela Neprerê de Brito Xerente
Dinalice Souza Xerente
Ercivaldo Damsõkekwa Calixto Xerente
Gilmar Smisuite Pereira Xerente
Janaina Sikwatkadi Calixto Xerente
Jonair Ainaksêkõ Calixto Xerente
Krtitmke Tony de Brito Xerente
Larissa Tkidi de Brito Xerente
Newton D. Calixto
Renato Sikrbowe da Mata Brito Xerente
Rogério Srône Xerente
Ronan Warõmekwa de Brito Xerente
Sílvia Letícia Gomes da Silva Xerente
Vanda da Mata de Brito Xerente
Vanderley Krtitmõwe Calixto Xerente