Brener Nunes – Gazeta do Cerrado

O racismo existe onde menos esperamos. A jovem negra Arteniza Bispo, de 18 anos, passou com um momento constrangedor há alguns dias. Ela mora em Goiânia, mas devido a um diagnóstico de início de depressão devido ao isolamento causado pela pandemia do novo coronavírus, sua mãe achou melhor ela voltar a sua cidade natal, Paranã, interior do Tocantins, e ficar com sua tia, que sempre estaria em casa lhe fazendo companhia.

Em seu relato à Gazeta, Arteniza conta que, já na cidade conseguiu um emprego de babá de duas meninas pequenas. “Foi nesse serviço que tudo aconteceu”, disse a jovem. Ela conta que a pessoa disse a seguinte frase:

“Não aceito seu jeito assombroso dentro da minha casa”, contou.

“Fiquei muito chateada e indignada com tudo isso, e voltei para casa chorando, pois a pessoa tinha dito que se eu não juntasse meu cabelo eu não iria continuar cuidando das meninas. Me senti muito ofendida e humilhada”, disse Arteniza.

Ela esclarece que já estava se recuperando do seu quadro de depressão, mas depois do acontecido está voltando a ter vontade de não fazer as coisas. “Está sendo uma luta diária, não tenho vontade de sair de casa, não quero conversar com as pessoas”, contou à nossa equipe.

Solidariedade

Arteniza conta que muitas pessoas estão se solidarizando com o que aconteceu. Moradores da cidade estão revoltados como caso, que repercutiu nas redes sociais. “Muitos falam para eu não abaixar a cabeça e agradeço cada pessoas que estão mandando mensagens, porém, anda é difícil digerir tudo isso, não consigo comer nem dormir direito”, afirma.

“Foi algo que me machucou demais”, destaca a jovem.

A moça conta que já contratou uma advogado a tomará tomas as medidas cabíveis.

“Eu venho de uma família negra, de cabelo afro, e sempre houve piadas, esse tipo situação, seja na escola ou dia a dia. Mas chegar a esse ponto foi algo que me surpreendeu muito. Muitos sabem que o racismo existe, mas quem conhece realmente é quem sente na pele”, ponderou Arteniza.

Racismo latente

A jornalista e especialista na temática racial, Maju Cotrim conta que infelizmente muitas outras meninas e mulheres ainda sofrem este racismo doloroso. “Isto é lamentável e tem que ser punido. A identidade étnico-racial precisa ser respeitada. O racismo estrutural fere e precisa de uma reflexão social. A luta é constante”, disse.