Mulheres quilombolas de comunidades do entorno do Jalapão foram capacitadas pelo projeto Sabores e Saberes do Cerrado, pela empresa Raízes Gastronômicas com patrocínio da Lei Aldir Blanc, para aproveitar os modos de fazer e produtos alimentícios que acessam facilmente e transformá-los em alta gastronomia para geração de renda. Durante 10 dias, oficinas teóricas e práticas com foco na identidade gastronômica do Tocantins foram levadas às comunidades do Mumbuca, Prata, Boa Esperança e Barra da Aroeira.
“Recebemos muitos turistas aqui no restaurante e, a partir de agora, vamos oferecer pratos ainda mais especiais e diferenciados para agradá-lo. Estou empolgada, cheia de ideias e ansiosa para colocar em prática o que aprendemos”, disse Josiene Tavares, proprietária do restaurante Viola de Buriti, no povoado do Mumbuca. Primeira-dama da cidade de São Félix do Tocantins e quilombola do povoado do Prata, Ivete Pereira destacou a importância de se valorizar nas oficinas produtos de fácil acesso em cada comunidade. “Foi muito importante elas aprenderem com produtos que acessam até no quintal de casa, facilitando a geração de renda para essas mulheres. É muito gratificante ver o brilho no olhar de cada uma e a vontade de crescer como mulheres fortes e empreendedoras”, afirmou a primeira-dama e quilombola.
A comunidade de Boa Esperança está localizada a 3 km de São Félix, mas ainda não recebe muitos turistas em razão da ausência de uma ponte de acesso à comunidade, o que ainda é feito por dentro do rio. Ainda assim, o projeto Sabores e Saberes do Cerrado rompeu as barreiras de falta de infraestrutura e atravessou o rio na esperança de que, em um futuro próximo, a comunidade receba turistas, em razão da vasta variedade de atrativos próximos do povoado. “Estamos muito gratas porque a caravana não olhou para a dificuldade de acesso ao povoado, mas sim para as vidas que estão aqui e também merecem capacitação. A ponte vai chegar e teremos muitas casas aqui prontas para alimentar os turistas com comida da melhor qualidade”, projetou Joana Ferreira, moradora do povoado.
Na Barra da Aroeira, as mulheres optaram por oficinas de pães, lanches e bolos para vender no asfalto da BR-153, que passa bem próximo ao povoado. “A Ruth já tinha passado aqui no ano passado e me ensinou a fazer temperos mais atrativos aos turistas. Hoje eu estou vendendo tão bem que já trouxe minha filha para me ajudar na produção e tem hora que não dou conta da demanda. Esse retorno é muito especial porque agora podemos aprender muito mais e vou expandir meu negócio”, comemorou a comerciante Patricia Maria Rodrigues.
Oficinas
Em razão da pandemia, as oficinas foram ofertadas com redução de público, sendo 10 participantes por comunidade, especialmente para profissionais que já atuam no campo de gastronomia. A caravana do projeto levou receitas e técnicas diferenciadas de gastronomia com produtos típicos do Cerrado, como a galinha caipira, a abóbora, o pequi, o peixe e o chambari, valorizando a agrodiversidade em receitas culinárias sustentáveis, atrativas e comerciais.
Além das oficinas, em cada comunidade, artistas locais foram contratados para apresentações culturais no encerramento de cada edição, oportunizando uma troca de saberes e experiências. De acordo com a chef Ruth Almeida, o objetivo foi de dar visibilidade e fortalecer os povos quilombolas do Parque Estadual do Jalapão (Tocantins), na contramão do conceito geral de que o único patrimônio do Jalapão são as belezas naturais. “O Jalapão é incrível como pólo turístico não só com os atrativos naturais, mas temos um patrimônio ainda maior que são os nossos povos ancestrais, com a sua cultura, as suas raízes, história e, claro, a gastronomia”, explica Ruth.
O chef e empreendedor social David Hertz, da ONG Gastromotiva, do Rio de Janeiro (RJ), veio ao Tocantins como voluntário para atuar no projeto pela semelhança de atuações no campo da gastronomia social. Nas oficinas, além de ensinar sobre gastronomia e empreendedorismo, Hertz orientou especialmente sobre o combate ao desperdício. “Foi uma grande troca de experiências em um projeto de muito potencial, que eu tenho a certeza de que ainda renderá muitos frutos e parcerias em prol do fortalecimento dessas comunidades, pelo empreendedorismo feminino e educação alimentar. Saio recarregado para liderar um time que estará se posicionando para novos caminhos possíveis da cozinha solidaria”, expressou David Hertz.
Projeto
O projeto Sabores e Saberes do Cerrado é patrocinado pelo Prêmio Aldir Blanc, da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc) e Governo Federal – Ministério do Turismo – Secretaria Especial de Cultura e Fundo Nacional de Cultura.
A realização é da empresa Raízes Gastronômicas, da chef Ruth Almeida, com produção executiva de Cinthia Abreu, da ONG A Barraca, e o apoio cultural das empresas Jalapão Expedições e Viva Jalapão.
Texto: Cínthia Abreu