Antônio Neves- Colunista Agro – Gazeta do Cerrado
Agro 4.0 descomplicando a palavra – significa que tecnologias e práticas digitais chegaram para o campo. Sejam elas: aplicativos, softwares, sensores, monitoramento em tempo real, drones, entre outros.
As soluções da tecnologia da informação chegaram com tudo no campo, mudando a forma de produzir, gerir e vender.
É no campo que acontecem grandes evoluções da era moderna, que tem colocado a propriedade e o mercado comprador, “dentro da casa” do produtor. O agricultor antenado investe em novas tecnologias e não precisa mais se deslocar para gerenciar sua lavoura, ou ao mesmo tempo comercializar seus produtos, comprar insumos e máquinas. O resultado é a aprimoração da logística!
Ao longo de décadas, a inserção de novas ferramentas tecnológicas disponíveis no mercado, com uma dose de conhecimento, tem trazido resultados positivos e eficientes, apresentando soluções para o cultivo de precisão em grandes extensões e tudo pode ser feito da palma da mão. Para o agronegócio, a pandemia pelo novo Coronavírus, representou não apenas a continuidade de sua força, como promoveu transformações das quais possivelmente vão ter dimensões em um futuro próximo.
70% por cento de aumento na escala produtiva de alimentos. Este é o tamanho do desafio para o agronegócio mundial até 2050, segundo o setor produtivo, que se encontra munido de dados para gerir suas operações no presente e assegurar melhores tomadas de decisão no futuro. As soluções tecnológicas baseadas em dados são aplicadas de ponta a ponta na cadeia produtiva para uma gestão assistida no campo.
Como chegamos até aqui
O caminho foi longo com muitos obstáculos, sempre com a percepção da necessidade de implementar novas ferramentas, com a finalidade de facilitar o manejo e acelerar a produção no campo.
De importador para “Made in Tocantins”
Há 20 anos, 11 empresas tem produzido sementes específicas para o solo do cerrado, no Tocantins. A Uniggel Sementes é uma das empresas “AgTechs” consolidada no Estado. A empresária Betânia Godoy explica sobre os primeiros passos para o empreendimento, visto que a região Norte não possuía meia dúzia de variedades específicas e foi preciso investir em pesquisa, tecnologia e profissionais. “Sabemos que a natureza é a principal fonte de recursos para a vida humana, hoje graças as pesquisas e o desenvolvimento de matérias específicas e com tecnologia de ponta, temos variedades que possibilitam as altas produtividades”, afirmou.
A média de produção de soja, no Tocantins, há 10 anos era em torno de 45 sacas por hectare e atualmente gira em torno de 69, 70, 80 sacas na mesma área. O aumento é resultado das variedades que foram colocadas no mercado pelas empresas obtentoras, que ano após anos, investem em pesquisas e tecnologia. Uma boa semente posicionada e alinhada a um solo bem preparado e um manejo eficiente garantem números positivos.
“A tecnologia 4.0 está batendo na porteira, portanto, hoje todo o profissional do agro deve estar preparado e consciente que, a busca permanente do conhecimento, não é mais uma variável e sim um ativo importante. A Uniggel Sementes investe pesadamente e de forma constante no preparo de seus colaboradores para que possam estar junto do cliente, posicionando a melhor variedade, o melhor serviço, o melhor pós-venda. Não é sobre falhas, mas sim, sobre errar menos”, destacou Betânia.
Para a empresária, o produtor também acompanhou esse crescimento, se profissionalizou mais, buscou conhecimento e se expandiu. “Hoje ele (produtor), está ávido por novas tecnologias, conectado a tudo e a todas as possibilidades, buscando a tão sonhada produtividade”, concluiu.
Como ser 4.0?
Tudo começa quando você tem em suas mãos as informações da sua fazenda em tempo real. Portando é preciso iniciar um histórico daquele empreendimento, com dados relevantes para uma boa análise. Para tanto é necessária uma ferramenta digital capaz de manter o monitoramento funcionando 24h.
A Agrotins 4.0 é um exemplo. Em decorrência da pandemia, pela Covid-19, os organizadores do evento tiveram que se reinventar, para manter a tradição do evento e não perder o principal foco – apresentar as tendências de produção através de novas tecnologias – e o maior desafio foi realizar isso em formato virtual e obter resultados positivos.
No evento estarão expostos diversos tipos de produtos e serviços agropecuários, bem como empresas de veículos; sementes; máquinas; pecuaristas e produtores de pequenos animais; produtos agroindustriais; produtores da agricultura familiar; produtos agroindustriais de origem vegetal e animal; dentre outros. Também será disponibilizado, através de parcerias, conhecimento por meio de diversos cursos e palestras, tendo como público-alvo agricultores, universitários e empresários. Os produtores ainda vão ter a oportunidade de adquirir diversas linhas de crédito especiais para comprar seus produtos, máquinas, sementes, entre outros.
Para a secretário da Agricultura do Tocantins, Jaime Café, a expectativa é oferecer aos produtores e participantes oportunidades na comercialização de produtos e a transferência de tecnologia e informação. “A Agrotins 2021 vai aproximar a tecnologia ao produtor. Como a vida no campo já está sendo transformada radicalmente pelas necessidades e desafios que o mundo vai enfrentar vamos incluir como novidade na Agrotins 2021, as startups de agricultura, também conhecidas como AgTechs. As startups mudam a vida no campo com o uso intensivo de tecnologias, com a criação de produtos e serviços, bem como o desenvolvimento de novos modelos de negócio oferecidos para os segmentos do setor agropecuário” disse.
Já está confirmada a participação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na abertura do evento, que ocorre de 15 de junho. A feira segue até o dia 18 do mesmo mês. “Isso mostra a importância que tem a Agrotins para o desenvolvimento não só do Tocantins, mas para toda a região do Matopiba. Este prestígio demonstra a importância que o Governo Federal sempre deu para a Feira. Muitos produtores que vinham de forma presencial estão acessando nesse formato virtual, em busca de tecnologia e conhecimento para as suas propriedades” destacou o secretário.
Para o engenheiro agrônomo Romulu Sousa Báccaro, a Agricultura 4.0 é apenas um processo de transição e já se fala em Agro 5.0. “O mundo cada vez mais tecnológico avança em passos largos e na agricultura também não é diferente. Além de ser o carro chefe da economia brasileira desde o descobrimento pelos portugueses, a agricultura também embarcou na onda da tecnologia 4.0, mas como eu disse, ela anda a passos largos e já se fala em tecnologia 5.0. A tecnologia 4.0 nada mais é que o estreitamento na integração entre a máquina, o homem, a informática e o meio ambiente”, enfatizou.
Ainda segundo o engenheiro, “A Fertsan, empresa na qual sou assessor técnico é uma usuária e disseminadora dessa tecnologia, atuando em toda a Federação brasileira, já teve contratos com quatro fazendas aqui no Tocantins, obteve resultados expressivos e já projeta um crescimento proporcional ao que alcançou no último ano agrícola, em torno de 80%. Seus produtos foliares são um composto organomineral, um biomodulador enzimático à base de algas marinhas estabilizados através da nanotecnologia, que não agride ao meio ambiente e apresenta sinergismo com todos os produtos colocado junto com ele na calda do tanque do pulverizador ou do avião agrícola”, explicou.
Segundo o profissional, nas operações de aplicações nas lavouras é realizado um monitoramento in locu, com um técnico que acompanha as imagens de satélite, as quais usam as composições nas faixas do vermelho e do infravermelho próximo. “Temos as imagens NDVI, apontando a sanidade da lavoura confirmando a qualidade e eficiência de nossos produtos. Para isso, o técnico em campo repassa o shape da área onde é aplicada o produto e o pessoal de escritório juntamente com uma empresa terceirizada fazem as composições”, complementou.
No Tocantins, acompanhando as tendências do restante do país, os produtores estão investindo mais na agricultura de precisão, com tratores, colheitadeiras e semeadeiras/plantadeira controladas via satélite, onde os equipamentos são alimentados com um banco de dados trabalhados em escritório e transmitidas para as máquinas via software específico. A máquina via soft e satélite controla a quantidade de sementes que são depositadas por metro, a quantidade de fertilizantes e defensivos que são aplicados por hectare e, consequentemente, evitam o desperdício.
Especificamente no Estado, é comum os desperdícios, devido às variações do tipo de solo, onde na mesma área facilmente são encontradas manchas de solo argiloso, arenoso e cascalho. No processo de monitoramento, os drones também são aliados das lavouras e são mais utilizados nos levantamentos planialtimétricos.
Os profissionais que atuam no campo devem ficar atentos às atualizações de conhecimento. “Aos agrônomos, consultores, compete a sua qualificação e disseminação das tendências e tecnologias. Um desafio enorme visto que ao mesmo tempo em que as tecnologias avançam muito rápido, os mesmos precisam estar em campo cumprindo as jornadas na maioria das vezes longas e exaustivas. Além disso, precisam se inteirar das tendências tecnológicas de mercado, fato que se torna complicado e ao mesmo tempo necessário”, finalizou Romulu.