Uma das mais tradicionais e importantes festas religiosas do Tocantins ocorre todos os anos durante o mês de agosto no Povoado do Bonfim, distante 22 km do município de Natividade. Nos dias que antecedem o evento, é possível encontrar, ao longo da BR-010, centenas de romeiros em busca de graças divinas ou em função de agradecer as bênçãos recebidas.

Romaria Bonfim- Foto Washington Luiz-Governo do Tocantins (1)

Os fatores que explicam tanto sacrifício pela fé são singulares. Cada romeiro traz consigo uma história de vida e superação que contou com a ajuda e o apoio da religião. “O que explica o Bonfim é a fé do povo. Esse evento existe há mais de duzentos anos e todo ano a cena das pessoas caminhando na estrada, no sol quente, com calos nos pés para chegar até aqui se repete. Apenas a fé explica isso”, avaliou o coordenador do evento, padre Leomar Sousa.

 

Batizado no Povoado do Bonfim em 1964, Bonfim Maria da Costa, disse que percorre há três dias, a pé, o caminho rumo ao festejo. Ele contou que iniciou o percurso no município de Gurupi e que este é o 16º ano em que faz o trajeto. “Já vim dezesseis vezes rumo ao Bonfim e pretendo vir outras vezes para agradecer as graças que recebi. A caminhada é cansativa e o trajeto é grande, mas a palavra que explica tudo isso é bem pequena e se chama fé”, pontuou.

 

O morador do município de Formoso do Araguaia, Cicero Ferreira de Araújo, testemunhou sua história de milagres com o Bonfim. “É a fé que move a gente a vir. E foi essa mesma fé que me concedeu o direito de receber uma graça. Eu estava sem o dinheiro de vir à Romaria este ano. Me apeguei a crença que tenho no Senhor do Bonfim e quando foi na segunda-feira passada [dia 31 de julho], apareceu um serviço que eu consegui concluir até quinta-feira, [dia 3 de agosto]. É por isso que estou hoje aqui”, assegurou.

 

Durante todo o percurso a pé, os romeiros contam o apoio de voluntários e também do Governo do Tocantins, por meio de ações que garantem a segurança e o bem-estar dos fiéis. Nas margens da BR-010, uma tenda organizada pela Secretaria de Estado do Trabalho e Assistência Social (Setas) oferece cuidados com a saúde, água e alimentação aos visitantes. “Às vezes, os romeiros chegam aqui com os pés inchados e feridos e nós cuidamos deles. Também servimos um caldo quentinho, um lanche, um cafezinho, uma fruta ou até mesmo almoço. A gente proporciona esse tipo de serviço para apoiar eles na jornada que estão fazendo”, explicou a servidora da Setas, Maria Rosa dos Santos Ferreira.

 

Neste ano, a organização do festejo estima um público em torno de cem mil pessoas. Para garantir a tranquilidade dos visitantes, uma ampla estrutura de segurança foi montada. “A gente vem participando há mais de dois meses do planejamento de segurança para a realização da romaria. Este ano, nós estamos trabalhando com mais de duzentos policiais aqui no festejo”, disse o comandante da 2ª Companhia Independente de Dianópolis (2ª CIPM), major Denyure de Menezes Cavalcante. Além do trabalho da PM, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) montou uma delegacia provisória, de 7 a 17 de agosto, no Povoado do Bonfim para garantir agilidade no trabalho de registro de Boletim de Ocorrência (BO), confecção de flagrantes e investigações.

 

Já a Agência Tocantinense de Saneamento (ATS), aumentou a rede de distribuição de água em 1.200 metros lineares de extensão, além de espalhar pontos de água no percurso rumo ao festejo. Um caminhão pipa molha as ruas do povoado durante o dia para evitar poeira.

 

Tradição

 

O festejo do Bonfim é realizado há mais de dois séculos e deu origem à primeira igreja construída no povoado, em 1750. Conta a tradição que um vaqueiro encontrou uma imagem do Senhor do Bonfim em cima de um toco de árvore e, após levá-la para Natividade, a imagem voltou a aparecer de forma inexplicável em Bonfim, nas cercanias da sede do município. Como o santo não parava na cidade, os devotos começaram a seguir a pé até o povoado, onde até hoje rezam, fazem e pagam promessas por graças alcançadas e atribuídas ao Senhor do Bonfim.

 Texto: Jornalista Jesuíno Júnior

Fotos Washington Luiz/Governo do Tocantins