Teve início nesta terça-feira, 24, mais uma expedição para realização do censo populacional do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), com o objetivo de verificar se continua a tendência de aumenta das populações da espécie, bem como percorrer outras áreas em busca de novas populações eventualmente existentes e que ainda não foram detectadas.
A expedição conta com pesquisadores e biólogos do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e da Fundação Pró-Natureza (Funatura). É financiada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e Naturatins e faz parte do Plano de Ação Nacional (PAN) do pato-mergulhão.
Segundo o biólogo da Fundação Pró-Natureza (Funatura), Paulo Antas, no Tocantins, na região do Jalapão, está uma das últimas populações conhecidas na natureza do pato-mergulhão, que é uma das espécies mais ameaçada de extinção das Américas. “Em 2019, o Naturatins em parceria com a Funatura e a UEMA realizou um censo nas populações e encontrou um aumento populacional importante, se comparado com as populações detectadas nos censos de 2009 e 2010, realizados pelo biólogo do Naturatins Marcelo Barbosa”, informou Antas.
A expedição agora pretende refazer esse censo para verificar se a tendência de aumento no número de indivíduos continua. A expedição de 2021 é mais ambiciosa. Paulo Antas explica que também será feita avaliação do rio Soninho, no Parque Estadual do Jalapão (PEJ) e se estenderá até os afluentes da margem esquerda do rio São Francisco (noroeste da Bahia). “Essa parte do trabalho será feita pela equipe da UEMA; já a Funatura vai fazer um trabalho mais adiante, na cabeceira rio da Conceição e cabeceira do rio Manoel Alves, todos em busca de populações adicionais do pato-mergulhão”, adiantou o pesquisador.
Paulo Antes reforçou que o objetivo principal da expedição é encontrar nas áreas investigadas novas populações eventualmente existentes e que ainda não foram detectadas, bem como para fazer uma avaliação populacional, no rio Novo, na região do Jalapão, e em um de seus afluentes, o rio Verde, nas áreas da Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins, Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão e o Parque Estadual do Jalapão (PEJ). “Esse é o objetivo central da expedição, que conta com o apoio do Naturatins, tanto na estrutura, quando no conhecimento técnico do biólogo Marcelo Barbosa, que conhece essa população como ninguém”, ressaltou.
Marcelo Barbosa, biólogo do Naturatins, relatou que durante a expedição são realizadas avaliações da população de pato-mergulhão local e mapeada as áreas com reprodução. As informações colhidas em campa, anualmente, contribuem com o conhecimento e desenvolvimento da espécie na região. Ele reforça a importância de investimento em ações para a preservação da ave e seu habitat.
Desde 2007, o Naturatins acompanha as expedições do pato-mergulhão e apoia iniciativas de conservação da espécie. As ações desenvolvidas pelo Naturatins colaboram com o PAN do pato-mergulhão, que é uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Pato-mergulhão
O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é uma espécie especialista em rios, considerada como uma das aves mais ameaçadas das Américas e uma das mais raras do mundo, inclusive sendo considerada extinta entre 1940 e 1950. É conhecida no Brasil, Argentina e Paraguai, sendo que em território nacional há registros confirmados em três bacias hidrográficas: São Francisco, Tocantins e Paraná. Infelizmente, no Paraguai e na Argentina, a espécie não é encontrada há mais de 10 anos.
O pato-mergulhão depende de águas limpas e transparentes, especialmente dos rios e córregos cercados por matas ciliares, com cachoeiras e piscinas de diferentes tamanhos e profundidades. São excelentes nadadores e apresentam um senso visual acurado. Diferente de outras espécies de patos, o pato-mergulhão possui um bico longo, serrilhado e captura presas vivas ao mergulhar (daí a origem de seu nome). Por isso, é extremamente afetado por qualquer alteração na qualidade das águas.
Esta característica é determinante, pois a espécie somente é capaz de sobreviver onde as águas são limpas e transparentes. Por tais particularidades, esta espécie é considerada um bioindicador ambiental: onde há presença deste pato, o ecossistema ainda se encontra em equilíbrio. Dessa forma, o ser humano e o pato-mergulhão compartilham da mesma necessidade por águas limpas para sua sobrevivência. (Fonte: ICMBio)
Fotos : Marcelo Barbosa/Arquivo Naturatins