Por falta de um espaço sólido e permanente para que artistas mulheres possam se apresentar, um coletivo de produtoras culturais do Tocantins, na Região Norte, decidiu tirar do papel um projeto que pretende colocar como protagonistas, dar palco e mostrar a força das compositoras tocantinenses. Assim nasceu o Festival de Mulheres do Tocantins, o Toca FM, que começa no próximo dia 04, com formato online.
Minorizadas em lineups de grandes e pequenos festivais, as mulheres compositoras são cotidianamente silenciadas e por falta de convite, não conseguem divulgar suas obras e produções.
Prova disso foi um levantamento feito no Twitter pelo perfil @acucarmelanciaa. A thread na rede social constatou que os grandes eventos de música nacionais ainda falham quando o assunto é equidade de gênero em suas programações.
Números de 2019, último ano em que estes eventos aconteceram, mostram que no Lollapooza, por exemplo, enquanto 69 homens ocupam o line, apenas 12 eram mulheres. Já no Ultra Music Festival, foram 6 mulheres para 69 atrações masculinas.
Com o objetivo de levantar a discussão sobre a importância da igualdade de oportunização de palco para estas artistas, é que nasce o Toca FM. Segundo Marcela Pultrini, Produtora Executiva, o evento nasce para reforçar, também no Tocantins, o quanto é imprescindível colocar estas mulheres compositoras como destaques na cena independente do Estado.
“Aqui no Tocantins também enxergamos essa disparidade na presença feminina nos palcos. Queremos mostrar estas artistas que até hoje foram invisíveis. O quantitativo de inscrições que recebemos deixam claro que há mulheres fazendo música no Tocantins. E produzindo material de qualidade. Por isso, com o Toca a gente quer divulgar estas mulheres e criar um evento onde elas sejam as protagonistas”, pondera a produtora.
Na programação, artistas com experiência na noite, novatas, mulheres que nunca se apresentaram em festivais e cantoras que dominam a arte da composição. A curadoria do line-up, de responsabilidade da musicista Amanda Ricoldi, engatou na intenção principal do festival e selecionou para o evento, compositoras e musicistas com um trabalho diverso e plural.
Musicalmente e esteticamente, o Toca FM chega em sua primeira edição com uma programação inesperada e rica. Com o formato online, o evento apresenta para o Brasil diferentes facetas da música feita por mulheres no Tocantins. Do pop ao eletrônico, do samba a músicas que cantam as belezas naturais do Estado, tem de tudo no Toca FM.
O evento aposta em nomes desconhecidos como de Rayssa Alves. Com 23 anos, moradora de Gurupi, no sul do Estado, Rayssa faz sua estreia em festivais nos palcos do Toca FM. De uma família de músicos, ela começou a compor aos 13 anos, depois de aprender a tocar violão e no festival ela traz um repertório com três canções autorais carregadas de letras fortes e melodias doces que evocam a potência do ser mulher.
Como contraponto a novas artistas, também integrando a programação do festival está Malusa. Com uma enorme vivência na cena de bares e casas de shows do Estado, ela contabiliza dez anos de apresentações na noite e um repertório de covers. No festival ela carrega sua experiência boêmia e todo o carisma que só uma artista da noite consegue ter. No Toca ela apresenta suas primeiras composições autorais, feitas em parceria com amigos. Em três faixas, a artista que é fã de Sandra de Sá, canta ‘Nega’, ‘Alforria’ e ‘Não haverá nós dois’, canções que falam de liberdade e ganham força na voz da artista.
Para além da música, a programação do festival inclui também uma mostra de cinema em curta metragem, Mostra Curta Elas, que possui a curadoria da jornalista, mestre em cinema e produtora da Tocantins Filmes, Thuanny Vieira,.
Online, com transmissão pelo canal do Youtube do Toca FM, disponível para acesso nas plataformas do Google meet, o festival ainda promove espaços de formação como as oficinas de ‘Cowfrounding – Financiamento Coletivo’ , ‘Gestão de Carreiras e o uso das Redes sociais’ e de ‘Maracatu de Baque’ Virado, com o grupo de percussão Baque Mulher Tocantins.
A programação também contará com o curso de Noções Básico de Áudio, com a técnica de som Kênia Feitoza, destinada às compositoras selecionadas para tocarem no palco do festival.
De Sonora a TOCA FM
Nascido como um desdobramento do Sonora Festival de Compositoras – realizado em Palmas nos anos de 2018 e 2019, o Festival de Mulheres do Tocantins – Toca FM é o primeiro Festival de Música aberto feito por mulheres em Palmas. Graças ao apoio de editais como o da Lei Aldir Blanc e do Programa Municipal de Incentivo a Cultura (Promic 2019), o Toca foi criado.
A jornalista Ana Elisa Martins, coordenadora do projeto, acredita que o evento vai ajudar não apenas a divulgar as artistas que já estão na cena e que não conseguem mostrar seus trabalhos, mas vai, acima de tudo, incentivar o surgimento de novas compositoras no Tocantins.
“Nosso objetivo é fomentar espaços que irão discutir sobre o papel da mulher nos meios artísticos, dando visibilidade aos trabalhos desenvolvidos por elas e legitimando seu espaço no cenário Tocantinense e com isso mostrar que estas artistas vão conseguir divulgar suas produções, não cairão no esquecimento. Queremos apoiar quem já faz e fomentar quem tem talento e ainda não começou a fazer por falta de estímulo”, pontua Ana.
TOCA FM 2021
O Toca FM, nasce com uma proposta de ser, para além de um festival, um canal de comunicação entre artistas e público tocantinense, através das plataformas digitais do festival. Na proposta as artistas não só apresentarão seus trabalhos, como poderão também interagir com o público. A ideia é que o Toca FM se torne um meio permanente de divulgação artística feminina no Tocantins.
Serviços:
O que: Toca FM – Festival de Mulheres do Tocantins
Quando: 04 à 07 de setembro
Onde: No canal do Youtube e nas plataformas digitais Zoom e Google Meet
Foto: Luana Pedrini