Foto: Divulgação/Cerveja Benedita
No fundo de um quintal, com uma panela adaptada, começou, em 2018, a primeira produção da Cerveja Benedita. A história pode soar parecida com a de tantas cervejarias artesanais no Brasil, mas há algumas diferenças.
O quintal era em uma casa na periferia da Grande São Paulo, em Taboão da Serra. A panela fora improvisada por Eneide Gama, com a ajuda de sua companheira há 18 anos, Melissa Miranda.
“A gente está remando contra todo um segmento que é formado principalmente por homens, das classes A e B, que começam a fazer cerveja por hobby e que, quando dá certo, têm dinheiro pra investir”, diz Melissa.
Mesmo em um setor majoritariamente masculino – segundo o Censo das Cervejarias Independentes Brasileiras, feito em 2019, apenas 11% das marcas são comandadas por mulheres –, as fundadoras da cervejaria Benedita contam que nunca tiveram medo de se posicionar como feministas e lésbicas.
Garrafas da Cerveja Benedita em balcão de bar em São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/g1 SP
O próprio perfil da empresa nas redes sociais – “Cerveja feita por mulheres que vivem a luta de combater os rótulos sociais machistas, e da defesa da mulher, do periférico e do meio ambiente” – já dá uma pista dos ideais por trás dela.
“A gente é feminista por falta de opção mesmo, porque não tem como não sermos, e a gente é LGBTQIA+, estamos juntas há 18 anos. Então a Bendita não veio carregada de bandeiras, mas de características que são nossas. De um cotidiano nosso, de coisas que a gente sofre”, conta Eneide.
Com posicionamentos fortes, a Benedita cresceu nas redes sociais entre pessoas que acreditam nas mesmas pautas que as fundadoras.
Após postagens contrárias ao presidente Jair Bolsonaro e favoráveis ao movimento feminista, a cervejaria perdeu seguidores, mas ganhou respaldo entre aqueles que continuaram a acompanhar o perfil.
Melissa Miranda e Eneide Gama, criadoras da Cerveja Benedita, fundada em Taboão da Serra, na Grande São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/g1 SP
Nos últimos anos, para além do discurso, as criadoras decidiram investir também no aprimoramento dos quatro tipos de cerveja que produzem. Atualmente, os rótulos fixos da Benedita – lager, India Pale Ale (IPA), American Pale Ale (APA) e witbier – não são mais feitos no quintal da casa de Eneide e Melissa, mas em microcervejarias que alugam seus equipamentos para outros produtores.
A mudança da produção era essencial para obter o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), necessário para que a cerveja Benedita fosse vendida em bares e restaurantes de toda Grande São Paulo (veja no final do texto a lista de endereços), e não apenas para os clientes das redes sociais.
Além da fabricação e do envase, a logística de entregas, a distribuição para bares e a comunicação da marca também ficam a cargo das duas fundadoras.
Para elas, a busca por um preço justo e a vontade de aumentar cada vez mais a produção não eram apenas sonhos, mas necessidades.
“Quem é periférico não tem tempo de ter nada como hobby. Quando a gente mete as caras, faz já pra vender. A primeira leva que fizemos já foi vendida, já recupera o custo minimamente ou a gente vai falir no primeiro lançamento. Pra gente é muito claro que fazer cerveja é uma fonte de renda”, diz Eneide.
Produção da Cerveja Benedita em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, em outubro de 2021 — Foto: Divulgação/Cerveja Benedita
Minorias que são maiorias
A tentativa de Eneide e Melissa ao criar a Cerveja Benedita era ter uma marca que replicasse a “defesa dessas minorias que são maiorias”, explicam. Mas, no caminho, elas descobriram que apresentar suas bandeiras logo de cara poderia tanto trazer novos clientes como espantar outros.
“Teve uma época em que a gente colocou no rótulo de uma das cervejas a frase ‘Esse produto é fruto de economia solidária’ e o símbolo feminista. E teve gente que deixou de seguir a gente que por causa do símbolo feminista. Então, agora, a gente tem 4.700 seguidores, mas são seguidores que se identificam com a gente”, explica Eneide.
Melissa Miranda, fundadora da Cerveja Benedita, servindo um copo da bebida em um bar em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/g1 SP
A identificação com o discurso é tamanha que as cervejas começaram a fazer sucesso até entre mulheres que não bebem cerveja.
“A gente não mobiliza só o cervejeiro, a gente mobiliza uma classe social, e a gente usa como veículo para isso a cerveja. Mas a gente está ali tocando em assuntos que devem ser falados. Tem muita gente que segue a gente que nem toma cerveja”, conta Eneide.
“Temos clientes que compram para presentear, para amigos, clientes. A gente tem muita gente assim que compra, fortalece, que acredita na nossa mensagem”, comemora Melissa.
Eneide Gama com um copo da Cerveja Benedita, criada por ela e Melissa Miranda, em um bar em Pinheiros, na Zona Oeste de SP — Foto: Patrícia Figueiredo/g1 SP
Veja onde encontrar a Cerveja Benedita:
- Caxiri Chopp (Av. São Luís 187, Centro)
- Cervejaria Zuraffa (R. Artur de Azevedo, 1902, Pinheiros)
- Bar Das (R. Fortunato, 133, Vila Buarque)
- Café no Jardim (Rua Professor Fábio Fanucchi, 53, Jardim São Paulo)
- Art Cozinha de Fusão (R. Agostinho de Souza, Morro Grande, Caieiras)
- Mercado Conecta (R. Nova York, 345, Brooklin)
- Presidenta – Bar e Espaço cultural (R. Augusta, 335 , Consolação)
- Espeto Bambu (R. Haddock Lobo, 71, Cerqueira César)
- Tudo da Terra (delivery de produtos da agricultura familiar)
- Caos Brasilis (R. Medeiros de Albuquerque, 270, Vila Madalena)
- Casca Gastrobar (R. Gonçalo Afonso, 46, Vila Madalena)
Fonte – G1 SP